Ensinar os alunos a lidar com questionamentos e dúvidas
Uma perspectiva e um padrão (Portuguese)
Bruce C. Hafen
Elder Bruce C. Hafen, "Ensinar os alunos a lidar com questionamentos e dúvidas: Uma perspectiva e um padrão," Religious Educator 21, no. 3 (2020): 1–23.
Elder Bruce C. Hafen é Autoridade Geral Emérita, e foi Presidente da BYU-Idaho e Reitor da BYU.
Discurso proferido aos professores do Departamento de Ensino Religioso da BYU em 28 de agosto de 2019.
As “Diretrizes Para o Fortalecimento do Ensino Religioso ”, da Junta de Educação da Igreja, apresentadas em 2019, acrescentaram os seguintes dizeres aos “propósitos” do ensino religioso: “Fortalecer a habilidade (dos alunos) para encontrarem respostas, solucionarem dúvidas, responderem com fé e proverem fundamento para a esperança pessoal em todos os desafios a sua frente.” [1]
Por que as Autoridades sentem que precisamos desta nova diretriz? Presidente M.Russel Ballard nos explicou a razão em seu ponderado discurso de 2016 sobre o ensino dos alunos da Igreja na era da Internet – uma mensagem sábia, sensível e proveitosa que merece ser relida. Um trecho de extrema importância: “Hoje, o que [nossos alunos] vêem em seu celular pode tanto desafiar a fé quanto promovê-la. Muitos de nossos alunos conhecem melhor o Google do que o evangelho.” Portanto, já não vivemos mais nos dias em que um aluno vinha com uma preocupação sincera e a professora, como resposta, prestava seu testemunho na intenção de evitar o assunto. Os dias em que os alunos estavam protegidos das pessoas que atacavam a Igreja, já não existem mais.” [2]
Precisamos nos ajudar a respeito deste assunto tão importante quanto sensível. Embora os jovens santos dos últimos dias expressem níveis mais elevados de atividade na Igreja do que os de outras religiões, ainda assim continuamos a perder terreno.[3] Uma importante pesquisa entre líderes da Igreja revelou, recentemente, que a maioria desses líderes tem familiares ou amigos que passaram por algum tipo de abalo na fé – e a maior parte deles acha que não providenciamos informação e treinamento adequados para nos ajudar no tratamento desses desafios.[4]
Marie e eu amamos a juventude de Sião tanto quanto vocês. Por essa razão, nós, como vocês, temos nos sentido tão aflitos ao vermos, de perto, a maneira como a cultura da Internet tem se tornado, apesar de suas enormes bênçãos, portadora de uma espécie de vírus espiritual, que contamina e desorienta muitos jovens santos dos últimos dias – assim como os mais velhos.
Em consideração a esta preocupação comum, o Diretor Daniel Judd nos convidou para falar a vocês sobre nosso novo livro, A Fé Não É Cega,[5] bem como sobre nosso podcast e nossos projetos de pesquisa, que podem ser encontrados faithisnotblind.org. Gostaríamos, igualmente, de compartilhar algo que aprendemos com esses projetos a respeito de como monitorar os alunos a “]esperarem com os olhos da fé]” (Alma 32:40) à medida em que enfrentam questões desafiadoras.
A fé não é cega: Origem e abordagem
Origem
A perspectiva encontrada no livro A Fé Não É Cega e em seus projetos correlatos teve sua origem em um curso de religião de 1963 entitulado “Seus Problemas Religiosos”. Conheci minha esposa, Marie, durante aquele curso. (Conseguem imaginar seus alunos, daqui a 50 anos, ainda tirando, vivamente, proveito das aulas que vocês ensinam? É bem possível que isso venha a acontecer.) O Irmão Belnap aproveitou a primeira hora da aula para expor seus próprios problemas religiosos: “Como posso obter o dom da caridade?”. Ele foi supreendentemente franco, e o que ele compartilhou sobre sua busca pela caridade foi muito tocante. Então, ele pediu para cada um de nós escrever uma resposta para sua dúvida. Esse formato tornou-se um padrão para cada um de nós: escolher uma pergunta que lhe é importante, fazer uma pesquisa, e trazer o material para um debate em classe. Acabamos, então, escrevendo como resolveríamos as preocupações.
As aulas sempre eram abertas, solidárias e fortaleciam a fé – uma combinação construtiva – embora os debates compreendessem tópicos desafiadores como casamento plural, raça e sacerdócio, críticas ao Livro de Mormon, História da Igreja, ensinamentos de Joseph Smith, de Brigham Young, e como viver o evangelho mais plenamente. O Irmão Belnap queria que encontrássemos nossas próprias respostas, mas ele percebia muito bem quando precisávamos de um empurrão.
Muitas vezes, terminadas as aulas, alguns de nós continuávamos nossa conversas nos corredores ou na saída das aulas. Marie e eu fazíamos parte desse pequeno grupo espontâneo, e nossas conversas sobre o envangelho continuam até hoje – culminando com nossa decisão de escrevermos juntos A Fé Não É Cega.
Se pudéssemos almoçar hoje com cada um de vocês e tratar de temas típicos de abalo da fé (algo que adoraríamos fazer, uma vez que gostaríamos muito de ouvir suas ideias; e não iríamos pedir a vocês que escrevessem coisa alguma; bem, quem sabe...), e se vocês nos perguntassem o que aprendemos nos últimos 57 anos que poderia ser de ajuda a seus alunos sobre este assunto, muito provavelmente daríamos a você uma cópia do livro A Fé Não É Cega. Explicaríamos que, em espírito de oração e estudando o livro sob diversas perspectivas, conscientemente, escolheríamos não ficar discutindo muito sobre História da Igreja ou outros assuntos específicos. Decidimos que o melhor que poderíamos oferecer àqueles que estão em conflito e àqueles que desejam ajudar essas pessoas, é uma agradável perspectiva mais ampla e um padrão para enfrentarem suas próprias batalhas da fé. Nessa abordagem, a perspectiva que você transmite e sua atitude em torno do que se passa na sala de aula, além do entendimento dessas questões será, provavelmente, mais importante do que os detalhes que você oferecerá.
Um leitor da obra A Fé Não É Cega afirmou que o livro não é uma busca argumentativa para defender a fé, embora ela seja a marca mais fundamental de nossa lealdade ao evangelho restaurado. Foi por esta razão que Clayton Christensen escreveu em sua resenha do livro, que A Fé Não É Cega se assemelha ao que ele costumava tratar em aula: “Em vez de dizer aos alunos o que pensar, procuro ensinar-lhes como pensar, [para que] eles venham com suas próprias soluções.” Desse modo, disse ele, A Fé Não É Cega proporciona “um simples, porém, poderoso esquema de três etapas que você mesmo poderá aplicar à medida que enfrentar desafios inesperados para sua [fé].[6]
À medida que eu compartilhar com vocês os princípios essenciais do livro, espero mostrar como o processo de resolver as perguntas e dúvidas pode ajudar a desenvolver a fé. Entretanto, nosso intento não é ficar exaltando dúvidas; o objetivo final não é nos tornarmos um duvidoso Tomé. Como afirma Jacob Hess, alguns autores santos dos últimos dias atuais buscam “valorizar a dúvida como um patamar mais elevado de luz em relação aos membros da Igreja que, supostamente, não são tão instruídos para encarar a verdade com integridade”. Mas, escreveu Hess, “A Fé Não É Cega parte para uma outra direção. “Gentilmente, porém com firmeza”, essa obra mostra o caminho em meio à dúvida, “e além dela”, em direção “a uma clareira, atravessando a montanha, e tudo se descortinando diante de um lindo vale.” Ela alcança isso ao gerar um contexto onde as pessoas “podem navegar suas complexidades com sabedoria e calma” – um local onde “perguntas podem passar por um metabolismo – serem digeridas e processadas o suficiente para caminharem avante, se não com todas as questões resolvidas, pelo menos mais aliviados de suas cargas.”[7]
O livro possui, igualmente, um tom autobiográfico, começando com minhas próprias andanças em meio àquelas incertezas. Quando eu tinha 19 anos, pronto para ir para a missão, eu estava confuso quanto à diferenca entre saber e crer. Honestamente, eu não conseguia dizer as palavras, “Sei que o evangelho é verdadeiro”. Eu sabia que algumas pessoas esperavam ouvir isso de mim. Porém, em sã consciência, tudo o que eu conseguia dizer era: “Acredito que seja verdadeiro”. Ainda assim, eu também acreditava que minha fé cresceria até chegar ao conhecimento – o que, no final das contas, certamente chegou a acontecer, conforme tudo o que era afirmado em Alma 32.
Desde então, ficou claro para mim que naquela idade eu não sabia como expressar minha fé adquadamente. As diferenças entre saber, crer, duvidar, e questionar não são algo simples. As diferenças nem sempre são claras, porque nossas experiências são mais amplas do que nosso vocabulário. E quando nossa fé, uma vez inabalável, de repente entra em confronto com questões que nos deixam perplexos, mesmo que por um momento, então nossa fé fica parecendo não apenas cega, mas até tola. Mesmo nossas crescentes angústias espirituais podem nos deixar em dúvida sobre o que não está mais dando certo. Mas, talvez, nossa real necessidade seja apenas de obter mais experiência e um vocabulário vinculado àquela experiência.
Com o passar do tempo, descobri que “saber” e “duvidar” não são as únicas opções. Também não é suficiente decidir se alguém é “conservador” ou “liberal”. Tais polarizações não apenas atrapalham, mas tabém acabam interferindo em nosso progresso espiritual. Elas também podem manter pais e filhos, ou líderes e membros da Igreja, incapazes de darem ouvidos um ao outro e de se entenderem mutuamente. Com frequência, jovens e outros membros fazem perguntas sinceras, porém, muito controversas, enquanto seus pais e lideres dão respostas sinceras, porém vagas ou duras demais. Portanto, o propósito do livro é oferecer a qualquer pessoa que esteja enfentando um desafio relacionado a sua fé, particularmen os jovens, algumas palavras, histórias e conceitos que, esperamos, tratam de um padrão que leva à certeza e confiança no Senhor e em Sua Igreja.
Nosso coração se estende àqueles cuja fé se acha abalada por informações, pessoas ou experiências que parecem lançar dúvidas em suas crenças pessoais. Entretanto, descobrir tais surpresas e incertezas pode, na verdade, ser parte de um processo natural de amadurecimento da fé. Passamos por muitas dessas surpresas, e temos observado que enfrentar tais oposições é a única maneira de desenvolver uma maturidade espiritual bem testada e autêntica. Esta é a razão pela qual o poeta inglês John Milton não poderia “oferecer recompensa a uma virtude enclausurada – uma virtude que nunca foi provada, testada, e que “nunca enfrentou seu adversário”.[8] A verdadeira fé não é cega. Em vez disso, a verdadeira fé vê e vence seu adversário.[9]
Assim, nosso foco no livro A Fé Não É Cega consiste em como podemos aprender com nossas experiências em meio às incertezas e oposições, em vez de ficarmos revoltados ou decepcionados com elas. As questões intelectuais e históricas da Igreja, que preocupam seus membros, são muito importantes para nós, porém acreditamos que nos ajudaria muito voltarmos, reexaminarmos e enxergarmos o processo de enfrentamento dessas questões como parte de um processo mais amplo de desenvolvimento tanto intelectual quanto espiritual.
Muitos de vocês já auxiliam seus alunos a fazerem isso por meio dessas lentes de perpectivas de longo alcance. Vocês já sabem como ajudá-los a navegar pelas águas turbulentas desde a juventude até a fase adulta. E com a linguagem e as intuições de suas próprias experiências de crescimento espiritual, vocês poderão orientá-los a enxergarem com os olhos da fé pelo resto da vida deles.
Abordagem
Agora, vamos examinar mais atentamente as três etapas do processo para se se enfrentar a incerteza. Este modelo, o qual é o conceito central do livro, está descrito no capítulo 2: “A Simplicidade Que Vai Além da Complexidade”.[10]
Quando somos jovens, temos a tendência de ver a vida em termos ideais. À medida que crescemos e amadurecemos, no entanto, começamos a perceber que há uma “separação” entre nossas concepções e aquilo que frequentemente se passa em nossa vida real – uma tensão natural entre os ideais do evangelho e as realidades da vida. Pense nisso como uma separação entre o que é e o que deveria ser.
À medida que o tempo passa, temos a tendência de enxergar melhor essa separação – talvez descubramos algumas limitações humanas naqueles que vêm sendo nossos heróis, a exemplo de nossos pais, ou de um amigo ou líder. Talvez seja uma importante oração ainda sem resposta. Talvez estejamos intrigados com alguma novidade referente a algum acontecimento não muito conhecido na história da Igreja. O CTM ensina devidamente uma visão idealista da obra missionária – mas, a realidade do cotidiano de um país diferente, com uma nova língua, e um companheiro inexperiente podem decepcionar essas elevadas expectativas. Pelo fato de sermos humanos, a “realidade” de ninguém será perfeitamente consistente com seu “ideal”.
Como trabalhar esta “separação” de maneira produtiva e que venha a nos ajudar em nosso crescimento? O jurista americano Oliver Wendell Holmes nos deu um modelo de três etapas quando afirmou: “Eu não daria um centavo pela simplicidade neste lado da complexidade, mas daria minha vida pela simplicidade no outro lado da complexidade”. A percepção de Holmes sugere que a maturidade espiritual bem testada se desenvolve, de maneira natural, de acordo com esta linha.
A primeira etapa é a “simplicidade antes da complexidade”, quando nossa fé ainda é inocente e não foi testada pela experiência. “...não recebeis testemunho”, afirmou Moroni, “senão depois da prova de vossa fé” (Éter 12:6). A segunda etapa é a “complexidade”, quando encontramos a prova de nossa fé e a separação entre a nossa realidade e nosso ideal. Aqui talvez lutemos contra muitas formas de incerteza e oposição. A terceira etapa é a “simplicidade que vai além da complexidade”, quando aprendemos com a experiência a desenvolver uma perspectiva estável, bem fundada, “real e provada” – uma nova simplicidade mais bem fundamentada e realista do que a anterior.
Vamos examinar três exemplos. Uma vez assistimos a uma reunião de testemunhos na divisão feminina da Prisão do Estado de Utah. Uma mulher se levantou perante suas colegas e disse com sinceridade, em lágrimas: “Quando era menina, eu adorava prestar meu testemunho. Eu corria até o púlpito e dizia: ‘Amo minha mãe e meu pai. Sei que o evangelho é verdadeiro. O Pai Celestial me ama. Jesus sofreu pelos meus pecados.’ Em seguida, eu corria para me sentar de volta com minha mãe e a vida era boa. Porém, agora, depois de todos esses anos, o eu sei tornou-se uma coisa diferente. O evangelho é verdadeiro. O Pai Celestial me ama. Jesus sofreu pelos meus pecados. Agora eu sei o que essas palavras realmente significam”. Ela passou a descobrir a simplicidade que vai além da complexidade.
Com 18 anos, Holly era muito ativa na Igreja. Até que alguém a convenceu de que alguma doutrina estava errada, e aquilo a abalou de tal maneira que ela desistiu de ser membro da Igreja. Alguns anos mais tarde, sua companheira de quarto na universidade recebeu as lições missionárias. Holly a acompanhou. Seu coração foi tocado, e ela decidiu orar pela primeira vez depois de muitos anos. Logo após dizer “Pai Celestial”, ela começou a chorar, sentindo um terno vínculo com o Senhor que ela chamou de “aproximação”. À medida que aquele sentimento de proximidade crescia, sua obstinação transformava-se em confiança; e posteriormente Holly foi rebatizada. Ela passou a encontrar a simplicidade que vai além da complexidade.
As experiências de Adão e Eva seguem o mesmo modelo. No Jardim do Éden, eles tinham o arbítrio, porém sua fé era inocente, ainda não havia sido provada. Eles começaram a vivenciar complexidade logo que provaram do fruto – e as complexidades se multiplicaram quando foram lançados nos espinhos e nas lágrimas de um mundo, por vezes, brutal e mortal. Entretanto, com o tempo foram descobrindo o sentido de fielmente enfrentarem toda aquela oposição. Quando o anjo apareceu a eles para explicar o plano de redenção e o papel central da Expiação de Cristo naquele plano, Adão e Eva caíram em si – eles viram propósito na Queda, em seus sofrimentos, e em seus sacrifícios. Eva, então, “ouviu todas essas coisas e alegrou-se dizendo: ‘Se não fosse por nossa transgressão, jamais teríamos tido semente e jamais teríamos conhecido o bem e o mal e a alegria de nossa redenção’” (Moisés 5:11; grifo do autor). Ela passou a descobrir a simplicidade que vai além da complexidade.
Como sequência ao aprendizado dessas experiências, uma vida de fé em meio à oposição acabará ajudando nossos alunos, e todos nós, a carregarmos nossas complexidades, descobrirmos soluções inspiradas para nossos próprios problemas e, dessa maneira, edificarmos nossa força e confiança no Senhor e em Sua Igreja. Quando assim aprendermos a manter nossa fé, então nossa fé nos manterá – ao descobrirmos “a paz de Deus, que excede todo o entendimento [e] guardará o vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus”. (Filipenses 4:7)
Oferecer orientação aos alunos: prevenção, empatia e ajuda
Mesmo antes da publicação do livro A Fé Não É Cega, já tínhamos plena ciência de que muitos daqueles que mais desejaríamos atingir não são leitores ávidos. Eles preferem ler uma postagem no Facebook ou no Instagram, ou assistir a um video no YouTube. Decidimos perguntar a pessoas reais quais são suas verdadeiras experiências nas complexidades. Assim, animados e incentivados por alguns amigos e familiares, começamos a gravar essas histórias – que se tornaram, por fim, o site faithisnotblind.org, realçadas por setenta entrevistas em podcast de 25 minutos (e ainda mais por vir) com a participação de fascinantes santos dos últimos dias de várias idades e procedências, tanto dos Estados Unidos quanto da Europa. (Versões gratuitas dos aúdios podem ser encontradas no site “faithisnotblind”, onde quer que os podcasts estejam disponíveis.)
À medida que nós e nossa equipe reexaminamos essas entrevistas, vimos algumas regularidades e percepções saltarem a nossa vista de modo vívido – ou seja, a de que membros normais e fiéis da Igreja têm navegado em todo tipo de “complexidade” que leva à “simplicidade que vai além da complexidade”. Compartilharei, agora, algumas de nossas principais observações, com exemplos se enquadrando nas três categorias que, espero, ajudarão vocês a orientarem seus alunos – evitar mágoas, ouvir com empatia e ajudar sempre que possível. Mais do que segue vem de jovens adultos exatamente como aqueles que vocês ensinam.
Orientar por meio da prevenção
Alunos fiéis que têm uma sólida base espiritual e que entendem que perguntas são parte normal de seu desenvolvimento espiritual estão mais bem preparados do que os demais alunos para evitar crises de fé e transformar pesados desafios em experiências que edificam a fé.
No que se refere ao terreno espiritual, os professores de religião, assim como médicos, buscam primeiro “não deixar a coisa ficar pior”.[11] É por este motivo, Pres. J.Reuben Clark mencionou, que esses jovens estão “em busca da verdade [e que] não devemos semear a dúvida em seu coração”.[12] Pela mesma razão, o Elder Neal A. Maxwell demonstrou incômodo com professores que “acariciam suas dúvidas” em frente de alunos santos dos últimos dias que (estão) em busca de orientação espiritual”.[13]
Além disso, a maior parte dos alunos da BYU, provavelmente, não entram em conflitos com críticos da Igreja. Portanto, vamos usar de cautela sobre dar a eles a impressão de que a Igreja esteja indo por água abaixo, ou que a fé deles seja inferior caso eles não tenham passado por nenhuma crise de fé. A grande maioria vem a suas aulas com um sólido testemunho daquilo que Pres. Clark chamou de “dois ensinamentos fundamentais”, que Jesus é o Cristo e que Joseph Smith foi um profeta de Deus. Provavelmente, apenas uma minoria deles passará por uma crise real de fé, mas quase todos enfrentarão outras formas de complexidade, oposição, ou mesmo trauma – orações não respondidas, um casamento difícil, o fato de não se casarem, problemas de saúde, problemas financeiros, e assim por diante. E muitos terão familiares e amigos que se depararão com questões de fé.
Ou seja, os alunos que ainda não desenvolveram um sólido e profundo testemunho dos fundamentos serão, provavelmente, os mais vulneráveis. A maior parte dos conflitos sobre assuntos contra a Igreja está mudando de pesquisas ou temas acadêmicos (aqui, os intelectuais da Igreja têm produzido um vasto repertório)[14] para questões de proselitismo pessoal e online – normalmente conduzidos por ex-membros agressivos e enganadores, que têm bons fundamentos, que usam habilmente as mídias sociais, e que estão à caça daqueles mais despreparados e mal informados.
Bons pais ensinam seus filhos a guardarem os mandamentos e a desenvolverem seu próprio e bem alicerçao testemunho, em particular no que tange ao relacionamento com Deus. Sem esta âncora, quando os jovens enfrentarem uma experiência que pode abalar sua fé, poderão se perguntar, pela primeira vez: “será que acredito nisso realmente?”. Alguns, então, vão se empenhar arduamente para edificar seu relacionamento pessoal com Deus. Mas para outros, argumentos agressivos contra a Igreja poderão por em colapso seu testemunho que está alicerçado no vazio.
Por exemplo, o caso de um jovem cujos pais não lhe ensinaram ou forjaram um comportamento religioso autêntico. No seio familiar, a “Igreja” não passava de um ritual religioso público. Ele cresceu sentindo-se pressionado a ir às reuniões da Igreja, ao seminário, à missão e a se selar no templo – apenas em resposta à pressão dos pais, os quais se aborreciam caso ele não os atendesse. Os pais também apresentavam algumas atitudes lamentáveis e estranhas que, para o jovem, faziam-nos (a exemplo do que pode ocorrer com com outros pais santos dos últimos dias) parecer hipócritas.
Nesse momento, ele está passando por uma terrível crise de identidade, e está vulnerável aos bombardeios de toda espécie de argumentos contra a Restauração. Um psicólogo da Igreja me disse que, em suas sessões de terapia, esta situação está ficando comum, especialmente entre famílias no estado de Utah. Quando essas pessoas que têm uma limitada bagagem deixam a Igreja, na realidade eles não estão deixando “a Igreja”, ou o evangelho restaurado; em vez disso, eles estão se afastando de uma imitação superficial – o que um amigo meu chamou de uma “versão empobrecida, desgastada” – da Igreja, a única versão que eles conheceram.
Você encontrará muitas oportunidades naturais para ajudar seus alunos – especialmente os espiritualmente mal nutridos – a aprenderem o que significa desenvolver seu relacionamento pessoal com o Senhor, e ver desabrochar dentro de si as palavras de Alma. As pessoas valorizam mais o que elas descobrem, do que as coisas que lhes são ditas. Ajudem-nas a descobrir o Senhor por si mesmas. Tem sido fascinante aprender com aquelas 70 entrevistas nos podcasts de que o principal fator de elevação da fé em meio a várias complexidades acontece quando alguém cultiva, ou desenvolve, um relacionamento pessoal próximo – uma conexão – com o Senhor. Foi o que Holly chamou de “aproximação”, e que se tornou um divisor de águas para ela.
Algumas vezes, a própria complexidade poderá ser o veículo para encontrar essa conexão, se as pessoas forem mansas o suficiente para isso. Como afirmou um sobrevivente de uma das Companhias de Carrinhos de Mão: “Conhecemos Deus em nosso extremo. [E] o preço que pagamos para [conhecê-lo] foi pago com prazer”.[15] Nem todos os que vivenciaram traumas adimitiriam isso da mesma maneira. Conforme disse Elder Neal A. Maxwell: “A experiência pode tanto amenizar quanto agravar as dúvidas [e talvez os traumas], dependendo do estoque de mansidão de uma pessoa”.[16]
Além dos podcasts e do website do livro A Fé Não É Cega, Sara d’Evegnee, Eric d’Evegnee e Jabob Hesse também estão analisando quarenta “histórias de reativação” de pessoas que venceram suas crises pessoais, e que, de alguma forma, puderam retornar plenamente à Igreja. Todas as constatações das análises – além das próprias histórias – serão publicadas no site faithisnotblind.org, possivelmente no segundo semestre de 2020. Elas identificam os temas e as tendências mais comuns nas experiências das pessoas que foram reativadas, o que ajudará a outros em sua jornada na complexidade religiosa – assim como a professores, líderes, pais e amigos que os apoiam. Entre as principais observações até agora, elas revelam que “embora as histórias manifestem numerosos, variados e significativos momentos e emoções, as experiências pessoais com o Divino refletem o ponto fundamental em todas as histórias.”[17]
Outra significativa fonte de prevenção é a de ensinar aos alunos que questões difíceis, oposição e complexidades de toda espécie são normais e naturais – abrindo caminhos para um aprendizado real. Por exemplo, um dos principais temas vindo das setenta entrevistas nos podcasts do livro A Fé Não É Cega é que:
Ser ensinado antecipadamente sobre complexidade ao invés de ser surpreendido por ela ajuda a evitar crises e pode estimular o progresso, e uma atitude de apreciação pela riqueza da história e da doutrina. Aqueles que foram ensinados segundo essa perspectiva viram suas dúvidas e perguntas como sendo parte de um processo normal e benéfico, em vez de se sentirem contrariados ou envergonhados. Muitas vezes eles tiveram um mentor (um pai, líder, ou professor) que os ensinaram este tipo de entendimento desde cedo na vida. Essas pessoas foram, na verdade, capazes de nutrir sua fé e apreciar o desenrolar do processo. (Para ver mais exemplos, veja os podcasts com Tyler, Bill, Marcus e Sarah).[18]
As entrevistas revelaram também que alguns acreditavam realmente ter “fé”, assim como um testemunho “perfeito” ou “solidamente seguro”. Essas pessoas, entretanto,
tinham a tendência de manifestar uma atitude do tipo “tudo ou nada”. Dessa maneira, quando vivenciavam qualquer incerteza ou dúvida séria, sentiam-se fragilizados. Muitos deles referiam-se a isso como uma “crise de fé” por causa da maneira como eles viam o termo “fé”. E alguns deles sentiam que não podiam permanecer, ou ficar ativos, na Igreja a menos que se sentissem totalmente seguros em seu testemunho. [Porém, quando aprenderam] a ampliar a maneira como percebiam a “fé” ou um “testemunho,” eles foram capazes de trabalhar suas dúvidas e se permitiram desenvolver uma fé dinâmica que crescia e se fortalecia. (Veja Kristine, David L., Zach, Jason, Ryan)[19]
Assim como a inoculação ajuda a criar imunidade nas crianças, nossas entrevistas evidenciam que aqueles que são ensinados pelos pais e por bons professores sobre conceitos complexos adequados para cada idade acabaram se tornando mais bem preparados para enfrentar qualquer “complexidade” que viesse a aparecer posteriormente em sua vida. Por exemplo, Bispo Kevin Knight, da Estaca Califórnia Oakland recentemente pediu aos membros do grupo faithisnotblind, no grupo Facebook, ideias para ajudá-lo a conduzir uma debate entre os bispos da estaca sobre como aconselhar “jovens com dúvidas”.[20] Alguns exemplos das respostas:
Quando comecei a ter dúvidas, senti-me muito culpado. Achei que não estava exercendo fé suficiente. Mas, desde então, aprendi que foram minhas dúvidas que me ajudaram a edificar uma fé mais poderosa. Dúvidas são ótimas oportunidades para crescermos e nos tornarmos mais fortes.
A verdade faz frente aos questionamentos. Ela não se enfraquece. A chave está em fazê-los sentirem-se à vontade ao buscarem os pais, ou os líderes da Igreja, com suas dúvidas em vez de buscarem o Google.
Eu diria a eles que ter dúvidas é normal. A dúvida é uma importante parte do caminho para se obter um testemunho verdadeiro, forte e inabalável.
E o Bispo Knight acrescentou: “Este é um ponto fundamental – assegurar aos nossos jovens que ter perguntas – ou dúvidas – é algo normal, e que elas deveriam ser tratadas abertamente com os pais, os líderes e os amigos. É parecido com o que acontecia antigamente quando não se falava com as crianças sobre sexo, mas atualmente é bem entendido que se tornou algo necessário”.
No mundo atual, há similaridades entre conversar com as crianças sobre sexo e conversar com nossos alunos sobre críticas à Igreja. Em ambos os casos, a internet oferece versões “adultas, sem filtro nenhum, que falam ‘de tudo’ acerca daqueles supostos, porém falsos, “segredos” que não adequados para uma debate numa sala de aula. Um outro aspecto da “prevenção”, portanto, é perguntar quando e como preparar os alunos para reagirem quando se deparam com uma informação delicada que está relacionada à fé.
Hoje em dia, temos um modelo fascinante para atender a essa questão – o livro Santos, a nova história oficial da Igreja em forma narrativa. Redigida por competentes escritores e historiadores santos dos últimos dias, ela combina relatos confiáveis, de fácil leitura e bem documentados sobre muitos assuntos ligados à história da Igreja, apresentados de forma natural e factual. Tratando de assuntos que vão desde os diversos relatos da Primeira Visão, a tradução do Livro de Mormon, pedras videntes e casamento plural, o livro Santos coloca assuntos específicos em uma abordagem ampla e compreensível – sem deixar de dar a eles devida atenção, ou sem tirá-los do contexto. Nessa linha, se um leitor quiser obter mais informações, notas de rodapé claras e bem fundadas mostrarão o caminho para novas pesquisas. Algo que também ajuda é que o novo curso de Alicerces da Restauração, ensinado nas aulas do Instituto e na BYU trata da história da Igreja de uma maneira mais completa do que foi feito até agora, oferecendo uma base melhor para assuntos e questões que, de alguma forma, poderiam surpreender os alunos.
Após ensinarmos contextos claros e adequados às idades, incentivaremos os alunos a formularem perguntas – quaisquer perguntas sinceras. Eis uma boa razão para termos notas de rodapé. E a decisão de debater alguma pergunta na sala de aula, ou pessoalmente, dependerá da pergunta e do aluno. Seja qual for o caso, estaremos abertos para um debate com base nos fatos.
Alguns professores poderão hesitar em responder perguntas difíceis, porém nunca precisaremos ir além do que conhecemos. Na realidade, poderá ser vantajosos para alguns de nossos alunos aprenderem como tivemos de lidar com algumas de nossas próprias dúvidas sem termos encontrado, todas as vezes, certezas absolutas em nossas respostas. E não há necessidade de sermos especialistas em história da Igreja e em outros assuntos correlatos, embora isso possa ajudar seus alunos mais inquisitivos e curiosos a perceber que seu professor de religião, pelo menos, lê e ouve bem o suficiente para se mostrar sensível às questões de hoje.
Novamente, nossa perspectiva e atitude será mais importante do que o que viermos a dizer sobre as coisas que debateremos. Porém, se os alunos perceberem que estamos na defensiva, ou que temos receio de falar com eles, provavelmente perderão seu interesse em conversar conosco. O Presidente Ballard aconselhou os professores de religião da Igreja, vocês devem
conhecer o conteúdo da seção Tópicos do Evangelho[21] como você conhece a palma de sua mão. Se vocês tiverem qualquer dúvida, pergunte a alguém que tenha estudado e que entenda do assunto. (Semelhantemente), familiarizem-se com o site Joseph Smith Papers e com o segmento de História da Igreja no site [churchofjesuschrist.org], além de outros recursos de pesquisadores que são membros da Igreja.[22]
Os membros da Igreja, naturalmente, esperam que os professores de religião da Igreja sejam mais bem informados sobre esses assuntos do que os líderes da Igreja em geral, especialmente partindo-se do fato que algumas informações encontradas na seção Tópicos do Evangelho ainda não são muito conhecidas pelos líderes locais, e muito menos pelos membros da Igreja.[23] Conforme acrescentou o Presidente Ballard, “Vocês podem ajudar os alunos ao ensinar-lhes o que significa combinar o estudo e a fé durante a aprendizagem. Tornem-se modelos desta habilidade e abordagem na sala de aula”.
Ao mesmo tempo, professores de religião não são psicólogos. Alguns alunos, ao perceberem que vocês são amigáveis, talvez precisarão de limites – porque aqueles que têm problemas prolongados, a exemplo de vícios e transtornos, poderão exigir mais tempo do que vocês podem oferecer. Seguramente, eles serão melhor atendidos se falarem com um psicólogo ou com o Bispo. Enquanto isso, vocês poderão orientá-los para usar o site da Igreja, que oferecerá a eles um material muito útil referente a uma série de assuntos desafiantes.
Além disso, nem todos os professores de religião conseguem ser pesquisadores especializados em história da Igreja, pelo simples fato de que desenvolver uma pesquisa histórica bem fundada exige muito de uma pessoa. Entretanto, procurar se guiar sozinho é tão arriscado no ensino de história quanto o é na medicina, no direito, ou na engenharia. Jed Woodworth, gerente historiador da obra Santos, no Departamento de História da Igreja, faz a seguinte colocação: “Muitos já tentaram ser especialistas em história da Igreja, mas acabaram vendo seus esforços na elaboração das explicações históricas irem por água a baixo”. Porém, “a verdade do Evangelho Restaurado não gira em torno de pesquisas. Acima de tudo, um testemunho se estabelece pela experiência.[24] Dominar as amplas perspectivas e os eventos mais importantes da história da Igreja tem validade e é algo inspirador. Porém, guiar-se sozinho nas águas profundas das pesquisas pode ser problemático – não porque a pessoa passará a conhecer muitas coisas, mas porque ela, provavelmente, conhece muito pouco para avaliar evidências, fontes e contextos de modo adequado.
É bem verdade, no entanto, que os abundantes recursos da história da Igreja nunca foram tão acessíveis ou tão completos como nos dias de hoje; nesse sentido, deveríamos oferecer incentivo e orientação aos alunos, à medida que investigam tópicos históricos que são de seu interesse. Curiosamente, as entrevistas nos podcasts Faith Is Not Blind têm mostrado a nós que aqueles que tinham perguntas específicas sobre a história da Igreja ou temas científicos passariam por suas pesquisas mais positivamente se já houvessem aprendido a não se sentirem tão surpresos quando as evidências que descobriam nem sempre eram tão conclusivas, mas sujeitas a uma variedade de padrões de interpretações e de contextos. E aqueles que queriam fazer suas próprias pesquisas tinham experiências mais satisfatórias e confiáveis quando contavam com um mentor de confiança e qualificado ao seu lado, com quem podiam debater os processos e as questões de suas pesquisas (vide podcasts com David P., Janiece, Jeff, Ryan, and Jason).[25]
Orientar com empatia
Ao mesmo tempo que seus alunos necessitam da atenção de seus ouvidos, aqueles que estão honestamente lutando com dúvidas e perguntas necessitam desesperadamente de sua compaixão. Em várias das entrevistas nos podcasts, percebemos quão desanimador era ter familiares, amigos, líderes da Igreja ou professores que julgavam os que vinham com perguntas sinceras como sendo alguém que não “tinha fé”, algumas vezes fazendo-os se sentirem marginalizados, incompreendidos ou desprezados - ou todas as opções anteriores.
Muitos alunos terão dúvidas ou ouvirão rumores que consideram tão preocupantes que acabam precisando de ajuda. Entretanto, nossos amigos jovens adultos explicam que seus amigos que passam por aflições evitam levar suas dúvidas a um líder da Igreja ou a um professor de religião. Por que? Um dos motivos é o fato de que, na cultura atual, eles compartilham a falta de confiança de sua geração nas instituições, particularmente as instituições religiosas, e nas pessoas que eles veem como representantes delas. Semelhantemente, como disse um jovem colega, eles ficam preocupados em serem “julgados” e em “receberem sermões” – o que nos indica, mesmo exageradamente, que líderes e professores adultos ganhariam muito se tivessem maior empatia.
Enquanto isso, aquele que têm necessidades falam apenas com amigos, os quais possivelmente estão tão desinformados quanto eles, e acabam acumulando preocupações – muitas vezes de uma maneira contagiosa. A partir daí, eles vão para a internet juntos, sem a necessária perspectiva ou orientação, e o vírus acaba se espalhando.
Estudos e entrevistas entre membros da Igreja que passaram por crises de fé confirmam essas impressões. Como disse Sarah d’Evegnee em sua entrevista no podcast:
Muitos dos que compartillharam suas dúvidas com amigos e familiares não encontraram quem lhes desse ouvidos; em vez disso, foram atendidos com atitudes depreciativas e com respostas imediatistas para “dar um jeito” nos assuntos. Entretanto, alguns tinham amigos e familiares que os acolheram com empatia, atenção sincera, em vez de apenas ligeiramente dar um bom conselho. Estes tendiam a permanecer na Igreja ao invés de optarem pelo afastamento. (Ver, por exemplo, as entrevistas nos podcasts Faith Is Not Blind com Kristine, Kevin, Jana, Dan, Loretta, e Casey)
Além disso,
Muitos achavam que alguma coisa estava “errada” se eles tinham perguntas e dúvidas sérias. Os que conseguiam permanecer na Igreja pareciam necessitar mais da segurança de um líder ou de um membro da família para saber se podiam permanecer mesmo sem ainda ter um “forte” testemunho de uma certeza completa. A expectativa de que eles ou seu testemunho tinha que ser “perfeito” era um importante alimentador da dor e do que sentiam. Simplesmente saber que era possível permanecer na Igreja, mesmo que tivessem dúvidas, ajudava-os a permanecer. (Ver entrevistas com Janae, Jordan, Emily C., and Alyson)
Conforme disse Elder Dieter F. Uchtdorf, “Nunca vi um aviso nas portas de nossas capelas dizendo ‘Seu testemunho precisa ter essa altura para você entrar’”.[26]
David Ostler descobriu em suas pesquisas e entrevistas com pessoas que estavam passando por crises de fé que, frequentemente, eles não estavam dispostos a compartilhar seus problemas com líderes da Igreja porque acreditavam que eles “não entenderiam”. E mesmo quando eles falavam com seus líderes, muitos notavam os líderes em uma posição defensiva e de crítica, em vez de realmente darem ouvidos a eles. Alguns líderes também assumiam, erroneamente, que o problema principal da pessoa entrevistada era falta de oração, de leitura das escrituras, e de obediência aos padrões da Igreja – mesmo quando a pessoa estava fazendo essas coisas. Tais atitudes tendem a distanciar a pessoa que carrega dúvidas cada vez mais longe de uma conversa. Assim, o conselho de Ostler aos líderes ressoa o que Stephen Covey já dizia: “Busque primeiro entender, e depois ser entendido”.[27]
Outros pesquisas mostram que, mesmo quando assuntos voltados à religião não são tratados
Compartilhar experiências sem pré-julgamentos é uma forma muito mais poderosa de mudar mentes do que ou tentar humilhar a outra pessoa ou buscar convencê-la por meio de argumentos armados (...) Advogados chamam isso de colocações inaceitáveis, que podem agravar a resistência das pessoas, ou levar a uma disputa de opinião, [as quais] causam pouco efeito. Descobrimos que ao simplesmente ouvir e fazer o acompanhamento de uma história pessoal relevante reduz a resistência da pessoa e aumenta sua receptividade.[28]
Um aluno da BYU comentou que, às vezes, professores de religião e bispos no campus “não entendem a seriedade e profundidade dos sentimentos que uma pessoa que vem em busca de conselho, ou ex-membro, vivenciam. Trata-se de uma das experiênciaa mais intensas e traumáticas, carregadas de dores genuínas, [que traz à tona] o entendimento que foi adquirido na infância, na comunidade, [e] nos relacionamentos familiares”. Ainda assim, “apologistas “ frequentemente “procuram fazer uma defesa da fé” com respostas tão superficiais que surgem como solução imediata. Tais atitudes depreciativas de autoridade podem acabar reforçando as preocupações de que a Igreja não se importa, não merece confiança, ou que oculta informações – fazendo da perda de confiança uma preocupação maior do que as perguntas específicas sobre a doutrina ou a história da Igreja. Se formos capazes de levar a sério alunos confusos e “dermos séria atenção”, com empatia genuína, isso transmitirá um toque essencial de confiança.
Como historiador da Igreja, Jed Woodworth já vivenciou muitos desses debates; ele foi capaz de aprender o motivo de duas pessoas aparentemente semelhantes reagirem diferentemente à mesma informação – uma podendo se sentir perturbada e a outra podendo recebê-la muito tranquilamente. Por que?
O problema intelectual que nos é apresentado deveria levar em conta a perspectiva mais ampla do contexto vivido pela pessoa a quem estamos ministrando. Uma outra pessoa, quando exposta à mesma informação, não sente a profundidade da ferida que é sentida por aquele que está em dúvida, chamando nossa atenção para a importância de se entender uma experiência específica de vida. Nossa atenção à pessoa deveria ter como propósito entender por que essa pessoa acha que aquela informação lhe é prejudicial. Por que a resiliência não seria uma oportunidade para ela?
Resgatar o contexto de uma vida envolve, normalmente, a descoberta de outras feridas não curadas: dinâmicas familiares prejudiciais, experiências missionárias frustrantes, brigas com autoridades institucionais, percepções ingênuas da história da Igreja, opiniões idealizadas de profetas, pecados, carência de uma experiência espiritual recente, vergonha, ou alguma mágoa vinda de um posicionamento da Igreja sobre um tema social, ou outros tipos de decepção.[29]
Então, concluíu ele, se a pessoa que pergunta não se sente entendida em sua realidade pessoal, isso trará um peso a mais ao problema de confiança na instituição. E a menos que a pessoa se sinta ouvida, nada do que possamos fazer ou dizer fará muita diferença. Para concluir, apenas quando o mentor ajuda a pessoa ao longo do que virá a ser um extenso processo de cura espiritual poderão as dúvidas intelectuais originais ser reformuladas em termos aceitáves e renovados.
Orientar com ajuda
Quando o aluno desenvolve confiança suficiente em um mentor e sente-se seguro para expressar suas mais profundas preocupações, esse poderá ser o momento para o mentor oferecer algumas perspectivas, exemplos e sugestões – não na forma de determinações, mas como ideias que valem a pena ser levadas em consideração.
Os professores de religião e bispos oram para encontrar um complexo equilíbrio entre seus óbvios, porém implícitos, laços com a Igreja e seu profundo e autêntico interesse pelo jovem como pessoa, não como projeto. Conheço uma jovem adulta solteira que se achava, inicialmente, intimidada e desconfiada do que ela julgava ser o papel “policial” de seu novo bispo na Ala de Adultos Solteiros. Entretanto, depois que ele agiu discretamente para ajudá-la a se aproximar dele, ela, finalmente, se sentiu à vontade para compartilhar seus segredos e fazer as perguntas que a assustavam. Depois de algumas entrevistas, ela disse, “Ele me tratou da mesma maneira como eu acho que o Salvador teria me tratado”. A partir daí fluíram bênçãos pessoais duradouras.
Em contextos seguros dessa natureza, o papel institucional de um professor de religião torna-se, claramente, uma força, pois quando o aluno passa a confiar no professor, ele ou ela passará, implicitamente, a confiar na Igreja – que é o inverso da perda de confiança na instituição quando um outro lider aparece para desencadear uma complexidade negativa. Além do mais, os membros da Igreja esperam que professores de religião entendam e sejam capazes de explicar (ao invés de apenas defender) uma controvérsia histórica, ou de outra natureza, segundo um ponto de vista favorável à Igreja, mesmo quando faltar uma evidência histórica clara e conclusiva que viabilize ainda que apenas uma interpretação legítima plausível – que seja aceitável.
Ao debaterem tais situações, seria útil se os alunos aprendessem por que o Senhor evita deliberadamente prover qualquer evidência irrefutável sobre qualquer assunto [inclusive a de que Ele existe] levando-nos a nos sentir compelidos a crer que aquele seria o único caminho. A intenção não é apenas preservar nosso arbítrio; Ele quer também nos ajudar para que aprendamos diante da necessidade de fazermos escolhas cruciais. Como se acha escrito no livro A Fé Não É Cega,
Não podemos “vir com provas” suficientes sobre essas perguntas a ponto de respondê-las com absoluta certeza. Verdadeiramente, o Senhor deseja que escolhamos onde depositar nossa confiança, por meio de um processo rigoroso, inquisitivo e pessoal que nos vinculará a Ele – assim como a tudo o que nossa experiência poderá nos ensinar se poderemos confiar Nele.
O Senhor frequentemente nos coloca em uma posição em que não podemos ser forçados pelas circunstâncias a acreditar, mesmo que ele ainda venha nos convidar para “sermos crentes”. Pois “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que [escolhem crer] em seu nome” (João 1:12) Por que? Porque alguma coisa acontece com as pessoas que [escolhem] recebê-Lo. Eles aprendem. Segui-Lo os fará mudar. Nossas escolhas sem coerção põem em movimento o processo de nos tornarmos como Ele.
O Senhor enxerga um quadro infinitamente maior do que o nosso. Se desejarmos a bênção daquela perspectiva infinita, daremos a Ele e a nosso profeta o benefício da dúvida – que no final das contas se torna uma questão de confiança. E somente ao ofertarmos nossa confiança Ele será capaz de nos ajudar a aprender o que Ele quer que aprendamos. Valorizamos muito mais aquilo que aprendemos do que aquilo que nos é dito.[30]
Portanto, depois de se pesar a evidência plausível dos dois lados de uma importante pergunta, o que faz a balança pender para um lado ou para o outro não é simplesmente o peso da evidência, mas nossa escolha. Conforme Terryl e Fiona Givens afirmaram, Deus assim projetou essa realidade porque aquilo que escolhemos crer, “adotar e tomar como nossa responsabilidade, é o reflexo mais puro do que amamos.”[31]
Essa mesma perspectiva ajudará a proteger os alunos das declarações dos críticos da Igreja que injustamente afirmam se basear simplesmente no que eles chamam de evidências objetivas.
Conforme escreveu Jacob Hess, a evidência que estes críticos apresentam não é tão objetiva como parece; na realidade, eles estão apenas apresentando sua interpretação particular da evidência. Depois de “montarem uma coleção de evidências desconcertantes “, eles ensinam seus ouvintes a colocarem tais incertezas em uma prateleira de perguntas não respondidas – ate que o acervo se torne pesado o suficiente para quebrar a prateleira.
Entretanto, “não é a evidência que faz quebrar a prateleira. Mas a intensidade da dúvida (que os críticos criaram) em torno da evidência”. Os críticos nos perguntarão se temos integridade suficiente para acompanhar sua versão da verdade. Entretanto, diante da natureza inconclusiva de cada porção de evidência alegada por eles, a real pergunta acabará sendo qual interpretação da evidência será mais digna de confiança; ou seja, com a orientação de quem vamos ter mais confiança frente às inevitáveis incertezas?[32]
A propósito, “o ônus da prova” ou as medidas de prova usadas nos casos criminais, civis, e outros em nosso sistema legal provê uma ferramenta que pode ser útil em uma comparação quando quisermos entender quanta evidência, e de qual tipo, deveria ser suficiente para “provar” (ou “negar”) uma alegação histórica. Além dos resultados convencionais de “verdadeiro” e “falso”, a pergunta é: o que faz um juri (ou nós) quando, mesmo depois de exaustivo esforço, a resposta acaba sendo “não dá para saber com certeza”? É nesse momento que o padrão legal de quem deve receber o “benefício da dúvida” pode decidir o caso, como é comum em ações judiciais que tratam de problemas desta natureza. Para uma descrição compreensível de como a abordagem do sistema legal pode abordar evidências a respeito da história da Igreja, veja ou ouça, no podcasts Faith Is Not Blind na parte “Bill” – Bill Barnett, um advogado de Denver, Colorado.
Além disso, um dos argumentos mais comuns usados pelos críticos da Igreja é que quando eles tomam conhecimento de novas informações (pelos menos nova para eles) sobre algum incidente na história da Igreja, normalmente eles alegam que os líderes da Igreja ocultaram parte da história – ou simplesmente que a Igreja mentiu – afim de proteger o poder e a autoridade dos líderes. Debatemos esse assunto no livro A Fé Não É Cega,[33] mas vamos apenas acrescentar mais um comentário aqui;
Nas duas últimas gerações, nossa cultura tem sofrido uma mudança grandual de maneira significativa, mesclando ou provocando transformações semelhantes nos padrões acadêmicos e profissionais. Parte disso está mais relacionada à própria mudança de geração. Porém, no que concerne a asssuntos tão controversos, a exemplo das questões LGBT, nossa cultura tem passado por grandes mudanças enquanto que os ensinamentos da Igreja continuam os mesmos. No entanto, aqueles sem perspectiva histórica podem, de uma maneira que podemos entender, perguntar-se por que a Igreja não alinha seus ensinamentos a fim de entrar em sintonia com a época. A respeito do tema geral de como as mudanças culturais afetam a maneira com a história da Igreja é escrita, eis um sumário informal do artigo de Jacot Hess, “Did the Church Lie to Me?” (O artigo original se encontra na nota de rodapé).
A condenação presente dos historiadores do passado expressa um notável etnocentrismo – adotar nosso padrão de cultura terapêutica do compartilhar-tudo, do revelar-tudo (inclusive o lado obscuro da história)... a uma geração que retornou de uma guerra e não queria falar sobre o horror (...) a uma geração que vivenciou maus-tratos dolorosos, e com frequência (tragicamente) não tinha o desejo de falar desses assuntos (pelo menos não tanto quanto hoje) (...) e sim, que escreveu histórias sobre a América e a Igreja com um enfoque nos elementos positivos, prestando menor atenção aos componentes mais chocantes e pesados. Isso deveria nos surpreender tanto assim? E mesmo que nos surpreendesse, poderíamos reconhecer o salto que estamos dando para impor uma narrativa enganosa em cima de tudo isso? (“Meu professor de História da América mentiu para mim também!”)[34]
As pessoas que entrevistamos nos relataram, muitas vezes, que após pesarem fervorosamente todas as evidências plausíveis acerca de perguntas difíceis, se as evidências disponíveis não solucionassem de vez as controvérsias, eles aprendiam a dar ao Senhor e a Sua Igreja o benefício da dúvida. Depois de tentar todo o possível, deliberadamente optavam por ecolocar sua confiança não apenas no Senhor e em Seu profeta; depositavam também confiança no evangelho e em seu poder – a certeza pessoal conjunta de todos os santos dos últimos dias de que o Senhor cumpre Suas promessas. Em todos os seus paradoxos e suas incertezas, os santos acabam refletindo aquela confiança nos olhos de um milhão de descobertas pessoais.
Seremos fortalecidos ao confiar nos testemunhos pessoais vigorosamente alcançados por milhares e milhares que leram, ponderaram e oraram sobre o Livro de Mormon, ano após ano; que serviram uma missão de fé e sacrifício em todo o mundo; que sentiram intimamente a influência do Senhor e quão perto Ele pode estar; que contemplaram as promessas da Redenção trazendo o doce fruto em suas vidas e na vida daqueles mais próximos; que contaram muitas vezes a história de Joseph Smith a seus filhos, amigos, e desconhecidos – e sentiram o espírito de sua verdade simples e pura. “... estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas...” (Heb 12:1)
Estes são aqueles que vão além da complexidade atingindo a serena confiança da simplicidade revelada; que confiam na liderança profética não como resultado de cálculos astuciosos, mas ao descobriram aquelas mesmas convicções e sentimentos no interior de sua própria alma. Elas descobriram suas próprias respostas, embora talvez nem todas que estavam buscando. Elas sabem o suficiente para não desprezarem sua confiança. Eles não estarão entre aqueles que vacilam. (Heb 10:35-39)
“Estes são os que vieram da grande tribulação [e complexidade], e lavaram as susa vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro” (Apo 7:14). “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci...” (Apo 3:21)[35]
A fé verdadeira não é cega. Na verdade, a fé verdadeira vê, e vence.
Conclusão
Vocês têm uma grande oportunidade de preparar seus alunos para trasformar suas complexidades em oportunidades de aprendizado (prevenção), mostrando real compaixão aos aflitos (empatia) e auxiliando-os a navegar em águas espirituais turbulentas (ajuda). Tenho certeza de que seus alunos, entre os quais estarão nossos netos, querem e necessitam de sua orientação. Esperamos que vocês, a sua maneira, possam fazer por eles e por nossos netos o que West Belnap fez por nós. E o que foi que ele fez?
Certa vez, West me falou a respeito dos professores de religião da BYU. Ele disse: “Alguns tem a matéria em sua mente, outros em seu coração. Mas é melhor quando eles as têm tanto num lugar quanto no outro.” West era assim, tinha-as em ambos os lugares. Havia se formado em uma escola de teologia de destaque, ele entendia tanto a história como a cultura da modernidade. Ele tinha uma sensatez fora de série na leitura de um livro – ou de uma pessoa. Ele sabia a diferença entre um argumento inteligente e um medíocre. Assim como Néfi, ele se regozijava com as escrituras, buscava ardentemente entender e viver as coisas profundas de Deus. Ele era honesto e se portava com muita maturidade, e ele conhecia e amava as Autoridade Gerais. Ele era a personificação do que ensinava, orientando-nos tanto para pensar seriamente como nos tornarmos verdadeiros discípulos. O que fazia de seu ensino tão eficaz?
- Ele exigia pensamento crítico, construtivo e uma redação inteligente;
- Ele nos encorajava a buscar nossas próprias respostas mostrando-nos, porém, fontes confiáveis;
- Ele nos fazia perguntas difíceis levando-nos a pensar claramente e a orar com sinceridade;
- Ele nos cutucava intelectual e espiritualmente sempre que necessário;
- Fazia-nos empenhar em nossas buscas e encorajava-nos quando tínhamos necessidade;
- Ele nos dava a certeza de que receberíamos as respostas a nossas perguntas – no tempo do Senhor.
Para nos ensinar o padrão de como fazer perguntas religiosas honestas e buscar respostas maduras e de acordo com o Espírito, no primeiro dia de aula ele compartilhou a luta que travou para responder a sua pergunta pessoal de cunho religioso – “de que forma poderei obter o dom da caridade?” À medida que relatava como sua fé crescera desde sua infância, tornou-se logo claro que sua pergunta não era apenas uma curiosidade intelectual. Sinceramente, ele compartilhou algumas de suas experiências espirituais pessoais em um relacionamento de reciprocidade com o Senhor. Pudemos perceber que, para ele, falar de “questões religiosas pessoais” é um processo profundo e de fortalecimento da fé que exige abertura ampla e madura.
Ele finalmente nos disse quão confuso ficou por sentir que não havia sido capaz de obter caridade – o puro amor de Cristo. Ele sabia o seu signifiado. Ele sabia tudo o que as escrituras ensinavam sobre aquilo – a exemplo de como ela reflete a natureza divina e que ela era uma promessa de Deus a “todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus Cristo” (Moro 7:48). Ainda assim, docilmente, ele nos explicou que, apesar de anos tentando viver tão puramente como sabia que deveria, aquele dom lhe havia. Podíamos sentir a tocante sinceridade de seu anseio.
Alguns anos mais tarde, West faleceu com aproximadamente 45 anos de idade, de um câncer prolongado e terrível no cérebro. No funeral, Elder Harold B. Lee falou de sua amizade com West. Falou que quando o tumor no cérebro permaneceu após duas cirurgias, West explicou-lhe que a dor era tão insuportável e o prognóstico tão sombrio que ele se perguntava se não seria melhor interromper o tratamento e deixar-se, rapidamente, ser levado daqui. Entretanto, Elder Lee aconselhou:
West, você e eu sabemos que o sofrimento pelo qual você está passando faz parte de um processo de refinamento cuja obediência torna-se necessária para a exaltação, [talvez] mais do que durante sua vida inteira. Viva com fidelidade até o fim, e nós o abençoaremos e oraremos a Deus para que sua dor não exceda sua capacidade de resistir sob a graça do misericordioso Deus.” 36
West seguiu aquele conselho, aceitando um grau de sofrimento do qual não fazemos ideia até, finalmente, ser aliviado pela morte.
Enquanto ouvíamos o Elder Lee, foi impossível não recordar daquele debate em sala de aula sobre caridade alguns anos antes. Ao pensarmos no sincero desejo do West de ser um discípulo consagrado de Cristo, era como se ele ainda estivesse nos ensinando. Ele podia não saber quão caro iria ser o preço da caridade. Aquele excruciante sofrimento em sua doença iria, de alguma forma, levá-lo àquele desejo de seu coração? Impossível saber, mas continuamos a nos perguntar – talvez não nos seja possível alcançar a caridade de Cristo sem, de alguma forma, fisicamente, ou por outro meio, entrar na “comunhão de suas aflições” (Filipenses 3:10). No final das contas, caridade e sofrimento não passam de dois lados de uma mesma, e singular, realidade – Seu amor pela humanidade esta profundamente entrelaçada com as impressionantes dores vinculadas ao que Elder Maxwell chamou de “a empatia que Cristo alcançou”.
Com seu coração e sua mente, West Belnap nos ensinou que perguntas sinceras sobre religiosidade merecem ser levadas a sério – e que as respostas sempre chegam a nós para desenvolver nossa alma. A busca cheia de motivação pelas respostas a essas questões, com nossos olhos e corações bem abertos, resulta em eternas consequências. West nos ensinou que a fé em Jesus Cristo não é cega.
O livro Faith Is Not Blind [A Fé Não É Cega] impresso, em e-book e em áudio estão disponíveis em inglês no site: https://
A tradução para o português está em andamento.
Notas
[1] Sistema Educacional da Igreja, “Guidelines for Strengthening Religious Education in Institutions of Higher Education” (documento não publicado, 12 de junho de 2019).
[2] M. Russell Ballard, “As oportunidades e responsabilidades dos professores do SEI no século XXI” (discurso proferido aos educadores religiosos do SEI, Tabernáculo de Salt Lake, 26 de fevereiro de 2016).
[3] John Gee, Saving Faith (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2020), pp. 20–21, 289.
[4] David B. Ostler, Bridges: Ministering to Those Who Question (Sale Lake City: Greg Kofford Books, 2019), pp. 14–16.
[5] Bruce C. Hafen e Marie K. Hafen, Faith Is Not Blind (Salt Lake City: Deseret Book, 2018).
[6] Clayton Christensen, resenha do livro Faith Is Not Blind, de Bruce C. Hafen e Marie K. Hafen, Deseret News National Edition, 20 de fevereiro de 2019.
[7] Jacob Z. Hess, e-mail enviado para Bruce C. Hafen, 9 de abril de 2020.
[8] John Milton, Areopagítica, 1644.
[9] A linguagem nestes últimos parágrafos foi levemente adaptada do capítulo 1 do livro Faith Is Not Blind.
[10] Um exemplar digital gratuito está disponível no site https://
[11] Juramento de Hipócrates, feito pelos alunos de medicina em preparação para a prática dela.
[12] J. Reuben Clark Jr., “O Curso Traçado para a Igreja nos Assuntos Educacionais” (discurso proferido para líderes dos Seminários e Institutos de Religião, Aspen Grove, Utah, 8 de agosto de 1938).
[13] Bruce C. Hafen, A Disciple’s Life: The Biography of Neal A. Maxwell (Salt Lake City: Deseret Book, 2002), p. 166.
[14] Ver, por exemplo, dois estudiosos evangélicos falando a seus colegas em 1996, após visita à BYU: “No nível acadêmico, os evangélicos estão perdendo o debate com os mórmons. Estamos perdendo a batalha e não nos demos conta. Nos últimos anos, a sofisticação e a erudição da apologética SUD aumentou consideravelmente, enquanto as respostas evangélicas não.” Carl Mosser e Paul Owen, “Mormon Apologetic, Scholarship and Evangelical Neglect: Losing the Battle and Not Knowing It?”, Trinity Journal, 1998, pp. 179–205, citado em Hafen, Disciple's Life, pp. 512–513.
[15] Francis Webster, citado em James E. Faust, “The Refiner’s Fire,” Ensign, maio de 1979.
[16] Neal A. Maxwell, That Ye May Believe (Salt Lake City: Deseret Book, 1992), pp. 191–192.
[17] Jacob Z. Hess, e-mail enviado para Bruce Hafen, 12 de abril de 2020. Para uma boa descrição de como nosso relacionamento com Deus nos ajuda em nossos desafios relacionados à fé, ouça o podcasts com Espen Amundsen.
[18] Sarah d’Evegnee, mensagem a Bruce Hafen, 12 de abril de 2020.
[19] d’Evegnee, mensagem a Bruce Hafen, 12 de abril de 2020.
[20] Faith Is Not Blind [A Fé Não É Cega], publicação no grupo do Facebook, 17 de novembro de 2019.
[21] Entre 2013 e 2014, a Igreja postou onze novos Tópicos do Evangelho no site churchofjesuschrist.org, fornecendo artigos completos e bem documentados sobre muitos dos tópicos que atraíram mais interesse e visibilidade por sites, podcasts e blogs contra a Igreja, como casamento plural, raça e sacerdócio, gênero, o Massacre de Mountain Meadows, nossa Mãe Celestial, a Tradução de Joseph Smith do Livro de Mórmon e o Livro de Abraão.
[22] Ballard, “As oportunidades e responsabilidades dos professores do SEI no século XXI”.
[23] Ostler, Bridges, pp. 29–31, 136–138. Na busca de um remédio para essa falta de consciência, a estaca de David Ostler organizou uma bem-sucedida aula semanal noturna, dedicada apenas a esses tópicos. Foi ministrada por um instrutor maduro e bem qualificado e a participação era voluntária (pp. 137–138).
[24] Jed Woodworth, e-mail enviado para Bruce Hafen, 7 de fevereiro de 2019
[25] d’Evegnee, e-mail enviado para Bruce Hafen, 12 de abril de 2020.
[26] Dieter F. Uchtdorf, “Receber um testemunho de luz e verdade”, A Liahona, novembro de 2014, p. 22.
[27] Ostler, Bridges, pp. x–xii, 6, 42–44.
[28] Mike Cummings, “Study Finds Non-judgmental Approach Can Reduce Prejudice,” Yale News, 7 de fevereiro de 2020, disponível no site https://
[29] Woodworth, e-mail enviado para Hafen, 7 de fevereiro de 2019.
[30] Hafen e Hafen, Faith Is Not Blind, p. 122.
[31] Terryl L. Givens e Fiona Givens, Crucible of Doubt: Reflections on the Quest for Faith (Salt Lake City: Deseret Book 2014), p. 144.
[32] Jacob Z. Hess, “It Wasn’t the Evidence That Broke Your Shelf,” Meridian Magazine, 3 de dezembro de 2019.
[33] Ver Hafen e Hafen, Faith Is Not Blind, pp. 19–21, 29–34.
[34] Hess, e-mail enviado para Hafen, 9 de abril de 2020. Ver Jacob Z. Hess, “Did the Church Lie to Me?” Mindfully Mormon (blog), 2 de abril de 2015, https://
[35] Hafen e Hafen, trechos de Faith Is Not Blind, pp. 127–128, Da transcrição do funeral, conforme citado em Hafen, Disciple’s Life, p. 60.