“As Leis da Igreja de Cristo” (D&C 42): Uma Análise Textual e Histórica
Grant Underwood
Grant Underwood é professor de história da Universidade Brigham Young e redator do Projeto Escritos de Joseph Smith
No dia 2 de janeiro de 1831, “na presença da congregação toda” da Igreja de Cristo reunida numa conferência trimestral em Fayette, Estado de Nova York, Joseph Smith recebeu “a palavra do Senhor.”[1] A revelação ordenou que os Santos se unissem “no Ohio” e incluiu a declaração: “Lá vos darei minha lei” (D&C 38:32). Em cumprimento desta promessa, no dia 9 de fevereiro de 1831, somente poucos dias depois da chegada de Joseph e Emma a Ohio, doze élderes “foram reunidos e se uniram em fervorosa oração e estavam de acordo quanto ao recebimento da Lei.”[2] Naquela ocasião Joseph recebeu “As Leis da Igreja de Cristo,” ou simplesmente “a Lei,” conforme o costume dos Santos.[3]
Duas semanas depois, em 22 de fevereiro, Joseph escreveu a Martin Harris: “Recebemos as leis do Reino após chegarmos aqui e os Discípulos desta região as receberam com alegria.”[4] No dia seguinte, 23 de fevereiro, o Profeta e sete élderes se reuniram para determinar “como os Élderes da igreja de Cristo iriam pôr em prática os preceitos da Lei.”[5] Como resultado disso mais parágrafos de instrução foram recebidos e registrados, os quais se encontram atualmente em Doutrina e Convênios 42:74-93.
As revelações destes dois dias constituem a atual seção 42, o assunto deste estudo. O que se segue é uma análise pormenorizado do texto e do conteúdo deste importante documento. Ao longo deste estudo as citações das revelações foram colhidas das fontes manuscritas mais antigas, porém, já que havia muitas variações de versificação e de números das revelações na história inicial da Igreja, citarei a numerção das seções e versículos do atual livro de Doutrina e Convênios para facilitar o acompanhamento das referências.
Análise Textual
Embora quase nenhum dos manuscritos originais das revelações ditadas por Joseph Smith tenham sobrevivido, ainda há em muitos casos manuscritos copiados antes da publicação inicial em forma impressa. No presente momento existem cinco cópias da Lei que sabemos que foram escritas antes de julho de 1832, quando os impressores em Missouri publicaram o primeiro extrato no jornal The Evening and the Morning Star [A Estrela do Crepúsculo e Alvorecer] (conhecido simplesmente como “the Star” [a Estrela] pelos Santos dos Últimos Dias pioneiros).[6] Somente um dos cinco manuscritos inclui todos os textos dados tanto em 9 de fevereiro como em 23 de fevereiro (vide a tabela anexa), mas cada um contém as passagens do material de 9 de fevereiro que se considera ser o âmago da Lei, os versículos 11—69 do livro de Doutrina e Convênios de hoje. Dos cinco manuscritos, três contêm textos revelados nos dois dias, indicando que os escrivões percebiam uma relação orgânica entre a articulação inicial da Lei em 9 de fevereiro e as instruções de como “atuar,” registradas em 23 de fevereiro. Embora os impressores de Missouri tivessem optado por publicar separadamente o material de cada dia no Livro de Mandamentos (que não foi o caso quando publicaram as duas partes no ano anterior no jornal o Star), a Primeira Presidência, encarregada de compilar o livro de Doutrina e Convênios em 1835, encarava as revelações dos dois dias como sendo vinculadas e as publicou em uma só seção. Não se faz menção de sua natureza composta na introdução da seção nem naquela época nem nas ediões posteriores e a data de recebimento se consta simplesmente como fevereiro de 1831.[7]
Composição de Versões Existentes da Seção 42 Anteriores a 1835
Além do fato pouco conhecido da seção 42 combinar materiais recebidos em dois dias diferente, com intervalo de duas semanas no meio, há outro aspecto igualmente obsuro. A parte recebida em 9 de fevereiro aparentemente consiste em respostas a cinco perguntas específicas feitas por Joseph Smith e seus colegas. Mesmo que as perguntas não fossem incluídas nas versões publicadas da revelação, dois manuscritos contêm-nas e oferecem conhecimentos valiosos concernentes à organização e conteúdo desta seção. Em sua devida ordem estas cinco perguntas e os blocos de passagens que enquadram são:
- “Deverá a Igreja se reunir num só lugar ou permanecer como está em grupos separados?” (a resposta se encontra nos versículos 1–10);
- “[Qual é] a Lei que regulará a Igreja nas condições atuais até a hora de seu ajuntamento[?]” (a resposta se encontra nos versículos 11–69);[8]
- “Qual será a disposição das famílias dos Élderes enquanto estes estiverem proclamando arrependimento e servirem a Igreja de outras formas?” (a resposta se encontra nos versículos 70–73);[9]
- “Até que ponto é a vontade do Senhor que façamos comércio com o mundo e como devemos conduzir nossos negócios com eles?” (a resposta foi dada em algumas linhas que foram eliminadas quando o livro de Doutrina e Convênios foi publicado);
- “Que preparações faremos para nossos irmãos do Leste e quando e como?” (Também se deu uma resposta mas este trecho foi eliminado quando Doutrina e Convênios foi publicado).
A parte posterior da Lei, escrita duas semanas depois em 23 de fevereiro de 1831, também se enquadra em unidades discretas de textos: versículos 74–77 e 78–93. Antes da publicação de Doutrina e Convênios, estas duas unidades apareciam em ordem invertida em todo manuscrito ou publicação que continha as duas partes. Assim, os versículos 74–77 sempre apareciam na conclusão do documento. A tabela em baixo mostra as combinações diferentes das sete unidades de texto que se encontram em cada um dos manuscritos ou fontes publicadas existentes anteriores a 1835. Em todos os casos as sete unidades contêm exatamente os mesmo material textual, mostrando que eram vistas como unidades discretas de textos.
Versões | Versículos Atuais | ||||||
Ryder (1831) | 1–10, | 11–69, | 70–73, | *, | **, | 78–93, | 74–77 |
Whitmer (1831) | 1–10, | 11–69, | 70–73, | *, | 74–77 | ||
Gilbert (1831) | 1–10, | 11–69, | 70–73, | *, | |||
Courier (Sept 1831) | 1–10, | 11–69, | |||||
Coltrin (Jan 1832) | 11–69, | ||||||
Hyde (1832) | 11–69, | 70–73, | *, | 78–93, | 74–77 | ||
Star (July 1832) | 11–69, | 70–73, | 74–77 | ||||
Star (October 1832) | 78–93, | ||||||
Book of Commandments chapter 44 (1833) | 1–10, | 11–69, | 70–73, | *, | |||
Book of Commandments chapter 47 (1833) | 78–93, | 74–77 | |||||
Williams (1834) | 74–77 |
O manuscrito de Symonds Ryder é de importância específica não só por ser um dos mais antigos mas também é um documento único de duas maneiras. Primeiro, como se constata na tabela, é o único manuscrito que contém todos os textos recebidos nos dois dias. Segundo, e talvez mais significativo, o manuscrito de Ryder contém dois pequenos parágrafos de mais ou menos 160 palavras, ou seja, textos adicionais que não se encontram em quaisquer dos outros manuscritos ou versões editadas. Embora a Igreja tenha possuído o manuscrito Ryder por mais de quarenta anos, os dois parágrafos passaram despercebidos e só agora aparecem em forma impressa pela primeira vez.[10] O primeiro parágrafo, em verdade um período muito extenso, serve de ponte entre o material recebido em 9 de fevereiro de o que se recebeu no dia 23 de fevereiro:
Dia 23 de fevereiro de 1831, as regras e regulamento da Lei de como os Élderes da Igreja de Cristo devem agir com relação aos pontos da Lei dada por Jesus Critso à Igreja na presença de doze Élderes em 9 de fevereiro de 1831 conforme concordaram sete élderes, segundo o mandamento de Deus em 23 de fevereiro de 1831.[11]
Por breve que seja, esta declaração nos elucida quanto à diferença entre os materiais registrados nos dois dias. Ainda que a gramática seja desajeitada, a declaração comunica que a própria Lei foi recebida em 9 de fevereiro na presença de doze élderes e o que foi acrescido em 23 de fevereiro quando sete élderes estavam presentes foram instuções divinas de “como agir com relação à Lei. Além disso, a frase “conforme concordaram sete Élderes” pode significar algo mais do que mera ratificação do que Joseph Smith recebeu no dia 23 de fevereiro. É possível que os sete élderes desempenharam um papel ativo em ajudar o Profeta a definir os procedimentos registrados naquele dia que se tornariam versículos 78—93 e 74–77. Esta possibilidade se torna mais provável pelo fato do manuscrito de Ryder constar que a ação que fizeram foi “segundo o mandamento de Deus,” o qual parece referir-se a uma diretriz dada aos élderes poucos dias antes na seção 43 que pode ter dado ímpeto específico à reunião: “Eu vos dou um mandamento que quando se reunirdes notareis com caneta como agir. . . quanto aos pontos da minha lei. . . . E assim se tornará uma lei para vós.”[12] Isto é exatamente o que aconteceu no dia 23 de fevereiro e devido ao fato das decisões sobre os métodos se tornarem “uma lei para a Igreja,” isso tudo foi combinado com a revelação de 9 de fevereiro num único documento.
No início este documento composto consistia em 2.395 palavras. Os documentos ditados originais da Lei recebidas e em 9 de fevereiro e 23 de fevereiro já não existem e é impossível fazer uma contagem exata das palavras ou saber com certeza absoluta as palavras exatas. Porém há muita coerência na linguagem dos cinco manuscritos existentes. Mesmo nos poucos casos em que há uma ou outra discrepância, de modo geral três ou quatro manuscritos conservam palavras idênticas. Isso nos dá confiança razoável sobre o texto original, ou pelo menos a linguagem de uma versão antiga da qual os manuscritos existentes foram copiados. O consenso sobre a formação das palavras nos manusicritos mais antigos, “consensus early wording” (CEW), e a contagem das palavras que possibilita formarmos a base das comparações que seguem.
Quando a Lei foi publicada no livro de Doutrina e Convênios em 1835, consistia em 2.622 palavras.[13] Isso representa um aumento líquido de aproximadamente 230 palavras em comparação com as 2.395 no CEW. Este aumento líquido é resultado da eliminação de 220 palavras e o acréscimo de 450 novas palavras. A maioria das revisões foi feita entre setembro de 1834, quando a Primeira Presidência foi designada a preparar o livro de Doutrina e Convênios, e setembro de 1835, quando o volume saiu da prensa. Algumas redações foram feitas antes de novembro de 1831 quando as revelações foram avaliadas e revisadas em preparação para pulicá-las no Livro de Mandamentos. Embora a avaliação do propósito de certas revisões seja subjetiva, elas podem, de modo geral, ser divididas entre aquelas que esclarecem o significado e aquelas que mudam o significado. Na primeira categoria, por volta de 110 palavras foram eliminadas e substituídas por mais ou menos 300, um aumento líquido de 190, ou seja um aumento de 8 por cento na versão da Lei que se encontra em Doutrina e Convênios. Estas revisões variam do gramatical ao conceptual, sendo este o tipo que procura dar mais clareza ou afinar o tom da mensagem e que produziu o maior número de novas palavras. Cerca de 20 por cento das novas palavras são as que incluem o gênero feminino (por exemplo, “ele ou ela” ou “homem ou mulher”).
Outras revisões mudam o significado original, geralmente por atualizar a revelação para mantê-la em dia com as novas políticas ou com o crescimento de organização eclesiástica da Igreja. Se o aumento total de tamanho da Lei entre o CEW e a versão de Doutrina e Convênsio é de 9,6 por cento e se 8 por cento clarifica os significado, resta, pelo jeito, somente 1,6 por cento que muda de significado. Porém este argumento é ilusório. Em contraste com aquilo que “esclarece o significado,” onde quase todas as palavras que são eliminadas são substituídas, as palavras acrescidas na categoria de “mudar de sentido” contêm novas informações independentes das palavras anteriores, não requerendo eliminação de palavras. Cerca de 150 novas palavras na versão de Doutrina e Convênios entram na categoria de mudança de significado e nesta categoria só foram eliminadas 15 palavras do CEW, dando um aumento líquido de 135 palavras.
Assim, na verdade 5,6 por cento do aumento de palavras se atribui a revisões que mudam o significado. A discrepância entre o aumento total e os 13,6 por cento que são o total das duas categorias se deve aos redatores que eliminaram as unidades de textos 4 e 5 (vide tabela). Isso tudo representa 95 palavras ou 4 por cento do CEW que foi eliminado para alterar, apropriadamente, a Lei. Na análise final, o que é marcante não é o fato de se terem feito umas revisões, mas que mais de 85 por cento do conteúdo e frases da Lei permaneceu como estava, mesmo muitos anos depois de seu pronunicamento inicial, para acompanhar uma igreja em pleno e rápido desenvolvimento. O que é de significativo também é que não há registro de nenhuma oposição às mudanças que foram feitas. Os Santos parecem tê-las abraçado como produto da mesma inspiração que deu origem ao texto original.[14]
As seções que seguem discutem revisões significativas que foram feitas para produzir o texto final da Lei, fazendo observações das interpretações da época. Trata-se de um trabalho de reconstrução histórica e não de prescrição teológica. Os leitores que procuram entender as práticas modernas dos Santos dos Últimos Dias ou a interpretações mais recentes da Lei terão que procurar em outro lugar. Dentro da comunidade dos Santos dos Últimos Dias a interpretação autorizada da teologia se compreende como prerrogativa de profetas e apóstolos. Assim, nossa abordagem é histórica e não teológica nem pastoral.
D&C 42:1–10
Adquirimos elucidação expressiva da primeira parcela de versículos através de voltar aos dois parágrafos únicos do manuscrito Ryder, especificamente o segundo parágrafo, que nos oferece uma visão rara do entendimento dos primeiros santos através de um estudo e reiteração dos versículos:
O primeiro mandamento da lei ensina que todos os élderes, menos Joseph [Smith], Sidney [Rigdon] e Edward [Partridge] e os que o Bispo designar para ajudá-lo nos seu deveres, irão às regiões do Oeste e obrarão para edificar igrejas para Cristo onde acharem quem os receber e obedecer ao evangelho de Cristo, segundo a Lei que recebemos. Este mandamento no que diz respeito a estes élderes a serem enviados ao Oeste é um mandamento especial incumbindo os presentes élderes que voltarão quando forem dirigidos pelo Espírito Santo!
Declarações resumidas como esta, por sua natureza distilante, proporcionam uma janela útil e interpretativa para apreciar os textos. Assim como foi registrado inicialmente o “primeiro mandamento” da Lei mandou os élderes “saírdes em meu nome cada um de vós a não ser meu servo Joseph e Sidney e dou-lhes um mandamento que vão por uma temporada breve e ser-lhes-á dado pelo espírito quando voltarão” (versículo 4).[15] Quem são o “lhes” a quem foi dado sair por uma temporada breve e voltar quando o Espírito ordenasse? O antecedente imediato é Joseph e Sidney, mas o parágrafo de resumo do manuscrito Ryder interpreta “eles” como os élderes e isenta totalmente Joseph e Sidney desta missão de proselitismo específica. Se o parágrafo reflete o entendimento correto deste texto ambíguo ou se houve uma alteração nos planos para o Profeta e Sidney Rigdon nas duas semanas seguintes não está claro. Não há, porém evidência histórica de que Joseph e Sidney fizeram missão nesta ocasião, nem mesmo por uma temporada breve.
O parágrafo de Ryder contém mais duas interpretaçoes que merecem atenção. Em 9 de fevereiro foi dito aos élderes: “Vós ireis às regiões do oeste e no que acharem meus discípulos edificareis minha igreja.” Um Santo dos Últimos Dias moderno pode entender a última parte da passagem como ordem de procurar conversos em lugares isolados e organizá-los num ramo da Igreja. Na verdade, “meus discípulos” se refere a cristãos que Jesus conhecia como discípulos verdadeiros e que, portanto, iriam abraçar o evangelho restaurado quando lhes fosse apresentado. Esta forma incomum de denominar tais indivíduos é semelhante à referência a “minha igreja” na seção 10. Nesta seção “minha igreja,” como “meus discípulos,” parece indentificar os seguidores devotos de Cristo de qualquer (ou nenhuma) organização religiosa. A revelação promete que “se esta geração não endurecer o coração, estabelecerei minha igreja entre eles” (D&C 10:53). Entaõ aparece um trecho fora do comum: “Ora, não digo isto para destruir minha igreja, mas digo isto para edificar minha igreja; Portanto todos os que pertencem a minha igreja não precisam temer, porque herderão o reino dos céus” (D&C 10:54–55). Na época que isto foi pronunciado ainda não havia uma igreja restaurada na terra e não haveria por mais um ano. Assun “minha igreja” parece referir-se a uma irmandade espiritual conhecida somente a Deus e consistindo em pessoas, independentes de sua instituição, cujos comportamento e crença particulares as qualificavam para ser membros dela e que, como “meus discípulos,” receberiam a plenitude do evangelho e herdariam o reino do céu.
Mais tarde, quando a Lei estava sendo preparada para publicação no Livro de Mandamentos, a frase, “meus discípulos” foi substituída por “aqueles que vos receberem.” Este esclarecimento transfere a ênfase de um nome, que pode ter muitas interpretações, para uma ação, a de receber, que é inconfundível.
É de interesse que um esclarecimento semelhante apareceu primeiramente no parágrafo do manuscrito de Ryder em que os élderes iriam “edificar Igrejas a Cristo onde quer que achassem alguém que os recebesse.” O parágrafo de Ryder também declara mais claramente que o original que a missão designada para os élderes os incumbiam somente “por enquanto.” John Whitmer escreveu que “depois que a Lei acima mencionada, ou revelação, foi recebida, os élderes saíram para proclamar arrependimento segundo o mandamento e que muitos se uniram à Igreja.”[16] Um dos élderes, John Corrill, relatou que ele e seu companheiro de pregação “fomos a New London, cerca de cem milhas (150 quilômetros) de Kirtland, onde estabelecemos uma Igreja de trinta e seis membros em aproximadamente três semanas. . . . Outros élderes ergueram igrejas em vários lugares e a obra cresceu muito depressa.”[17]
D&C 42:11–69
Esta unidade de texto constitui a parte central da Lei. Em verdade, alguns manuscritos e publicações designam esta parte só como “a Lei.” A introdução do capítulo do Livro de Mandamentos que contém as primeiras duas unidades chama-as “uma revelação dada a doze élderes reunidos em Kirtland, Ohio; e também a lei para o governo da igreja recebida na presença dos mesmos.”[18] A pergunta que lançou esta porção de texto se refere à Lei que regulamenta a Igreja nas suas condições atuais,” e vários manuscritos abreviam o cabeçalho para simplesmente “A Lei” ou “As Leis.” Assim, não é de se admirar que dos textos revelados em 9 de fevereiro somente esta unidade, versículos 11–69, se inclui em todos os cinco manuscritos.
Além de expor o código moral de Igreja, esta undidade de texto se dirige a vários assuntos irritantes que haviam preocupado a congregação nova em Ohio. Primeiro, num esforço de controlar o caos carismático que Joseph Smith encontrou ao chegar, a Lei esclarece que ninguém pode funcionar no ministério de ensino na Igreja sem ser devidamente ordenado por autoridade eclesiástica reconhecida (versículo 11). Nem um chamado pessoal nem dons espirituais eram suficientes para designar alguém para o ministério, e mesmo assim, os ministros devidamente ordenados somente seriam eficazes à medida que o Espírito Santo os auxiliasse: “Vós sereis dirigidos pelo espírito . . . e se não receberdes o espírito, não eninareis” (versículos 13–14).
Alguns meses depois que esta revelação foi recebida, o recém convertido William E. McLellin deixou uma descrição típica do que era tentar ensinar sem o Espírito: “Levantei-me e tentei pregar mas não pude; não tinha nem ânimo nem memória e em verdade eu havia perdido o espírito de Deus. Portanto estava confuso. Sentei-me e disse ao irmão H. que pregasse porque eu não pude.”[19] A necessidade de ajuda do Espírito Santo era essencial numa igreja leiga que rejeitava o treinamento ministerial formal e dependia de indivíduos comuns para fazer o trabalho de evangelização. Como observou o historiador Richard Bushman, Joseph Smith mesmo era um “homem simples,” sem experiência de pregação, e ele confiava em homens comuns para levar adiante a mensagem. Numa era democrática, os Mórmons surgiram como a mais democrática das igrejas, rivalizados somente pelos Quákeres.”[20]
Depois de discutir as qualificações para o ministério, a revelação se dirige dos élderes aos membros: “Eis que agora falo à igreja” (versículo 18). Reafirma-se a visão ética dos Dez Mandamentos ao incluir proibições contra o assassínio, o furto, a mentira, o adultério e injuriar ao próximo. A revelação então resume tal código moral: “Tu conheces minhas leis, elas foram dadas em minhas escrituras. . . . Se me amares, servir-me-ás e guardarás todos os meus mandamentos” (versículos 28–29).
A próxima lei trata da organização econômica da Igreja, em parte para corrigir os esforços bem-intencionados porém errôneos de alguns dos conversos de Ohio que haviam formado grupos comunais chamados “famílias” para imitar os primeiros cristãos que tinham “todas as coisas em comum” (Atos 2:44).[21] Em vez do comunismo praticado por esses conversos, princípios foram revelados na Lei que, conforme se entendiam, formavam a base de como o Enoque bíblico levou seu povo a ser “de um coração e de uma só mente” e não haver “pobres entre eles” (Moisés 7:18). Estes princípios incluíam a “socialização de rendas restantes, formação de emprendimentos livres e a auto-suficiência econômica do grupo.”[22] A chave para aplicar estes princípios era “a consagração,” uma palavra que significava, na terminologia religiosa daquela época,“colocar à parte, dedicar or ou consignar ao serviço e adoração de Deus” a vida e as posses.[23] A visão do Profeta de consagração coincidia com o florescimento de experimentos utopianos na história dos Estados Unidos. Nesta era, grupos tão diversos como os Shakers e a Harmony Society procuravam melhorar a vida econômica e social das pessoas por meio de associação comunitária.[24] A consagração provia uma base teológica para o compartilhamento necessário dos recursos para efetuar a migração e radicação em Ohio dos Santos vindos de Nova York e para lançar os aliceres de sua tentativa de replicar o Sião de Enoque na fronteira ocidental dos Estados Unidos.
Por fim, devido a motivos internos e externos, a implantação não atingiu o resultado ideal esperado. O historiador da Igreja, John Whitmer, relatou que quando o “Bispo Edward Partridge visitou a Igreja nos seus vários ramos, havia alguns que não receberiam a Lei. O tempo ainda não chegou,” ele opinou, “em que a lei pode ser plenamente estabelecida pois os discípulos moram espalhados por todos os lados e não estão organizados; nossos membros são poucos e os discípulos não foram instruídos, de forma que não entendem, por conseguinte não compreendem, as coisas do reino.” Entre os problemas que Whitmer identificou eram membros “que se atraíram à Igreja porque ouviram falar que os Santos tinham tudo em comum e portanto achavam que poderiam fartar-se do trabalho dos outros.”[25] Conforme aconteceu a consagração total de propriedades só foi praticada durante o período de 1831–33 e somente por alguns Santos em certos lugares.[26] Assim para a publicação em 1835 do livro de Doutrina e Convênios, a declaração “consagrarás todas as suas propriedades” foi redigida e ficou “E eis que te lembrarás dos pobres e consagrarás de tuas propriedades, para sustento deles” (D&C 42:30; revisões das revelações aparecerão em letra itálica daqui em diante).[27]
A Lei declarou que tal consagração seria feita “com um convênio e promessa que não poderão ser violados” (D&C 42:30). A necessidade de uma promessa (documento, escritura) foi reiterada alguns meses depois quando os Santos de Colesville (Nova York) receberam o “privilégio de organizarem-se segundo minhas leis” (D&C 51:15). O Bispo Edward Partridge foi instruído a “organizar este povo” (D&C 51:1), e que “quando designar a um homem sua porção, dê-lhe um documento que lhe assegure sua porção” (D&C 51:4). Esta tentativa inicial de viver a lei de consagração se desfez antes que Partridge pudesse implantar as instruções mas ele o fez no ano seguinte em Missouri. Uns tempos depois que a Igreja fundou a gráfica em 1832, o Bispo Partridge criou e começou a utilizar documentos impressos para certificar o recebimento e transferência das propriedades consagradas. Estas escrituras mostram como os vários princípios de consagração realmente foram praticados. Documentos referentes à mordomia, por exemplo, mostraram de maneira uniforme que quem consagrava “se fez mordomo de suas próprias propriedades” (D&C 42:32) e não das propriedades consagradas por terceiros. Embora seja óbvio que esta prática não pode ter sido universal (porque alguns Santos pobres teriam necessitado de mais propriedade para suprir suas necessidades) mostra que a parte fundamental do que se “emprestava” ao mordomo era justamente a mesma propriedade que se havia consagrado em primeiro lugar.
A escritura também conserva a intenção original da Lei de que as propriedades consagradas “não possam ser tomadas de vós [mais tarde se esclareceu que “vós” era a igreja]” (versículo 32) e que “o que pecar e não se arrepender será expulso da igreja e não receberá de volta o que houver consagrado aos pobres e necessitados” (versículo 37). As cópias do documento de escritura declaram que se o mordomo fosse excomungado, perderia seu direito às propriedades imóveis e pessoais e se comprometeria a devolver o imóvel, mesmo que pertencesse a ele antes de consagrá-la ao Senhor, e quitar qualquer dívida referente a ele.[28]
Não é de se admirar que estas condições tenham sido contestadas em tribunais por membros desafetos, de modo que a natureza das mordomias foi modificada.[29] Em maio de 1833 Joseph Smith escreveu ao Bispo Partridge, instruindo-lhe que desse uma escritura assegurando àquele que recebe uma herança que a herança é uma herança sempiterna, ou em outras palavras, será sua própria propriedade, sua mordomia particular, e se ele pecar e for expulso da Igreja, sua herança ainda lhe pertence. . . . Mas as propriedades que ele consagrou aos pobres para seu benefício e herança e mordomia [significando “o resíduo” ou excesso que ficou no armazém (vide versículo 34)], não podia reaver segundo a lei do Senhor. Assim se pode ver a sabedoria desta lei: que o rico não pode ter poder de deserdar os pobres para tomar de volta aquilo que havia consagrado”.[30]
Confirmou-se este novo entendimento, quando a seção 51 mais tarde foi redigida para publicação em Doutrina e Convênios, acrescentando-se uma nova declaração (o atual versículo 5: “E se transgredir e não for considerado digno de pertencer à igreja, não terá poder para reclamar (reaver) a porção que consagrou ao bispo para os pobres e necessitados da igreja; portanto ele não conservará a dádiva, mas terá direito somente à porção que tenha recebido por documento.” Devido ao fato das doações caridosas serem protegidas e os recursos de compartilhamento comunal não, em algumas partes da Lei, acrescentou-se linguagem para esclarecer que os pobres eram os beneficiados das consagrações. Em vez de “consagrarás a mim todas as suas propriedades que possuis,” que pode ser interpretado de forma negativa, a declaração foi redigida desta forma: “Lembrar-te-ás dos pobres e necessitados e consagrarás de tuas propriedades para seu sustento aquilo que tiveres para lhes dar” (D&C 42:30). De igual modo, no trecho “aquilo que consagrou a mim” foi revisado, ficando: “Aquilo que ele consagrou aos pobres e necessitados de minha igreja, ou em outra palavras a mim, porque quando o fazeis ao menor destes, a mim o fazeis” (versículos 37–38).
Em sua carta ao Bispo Partridge, o Profeta esclareceu o processo e os procedimentos de consagração e mordomia não só com a intenção de proteger as doações do armazém destinadas aos pobres como também para “assegurar a [cada mordomo] sua porção.” Depois que esta carta chegou em Missouri, um comentário editorial apareceu no próximo exemplar do Star, enfatizando que quando os Santos “forem reunidos, em vez de se tornar uma família comunal, como foi dito . . . cada homem receberá uma escritura, assegurando a ele e a seus herdeiros sua herança como patrimônio eterno sem restrições.”[31] Em julho de 1833 houve uma briga anti-Mórmon em Indepenência, Estado de Missouri, colocando os Santos numa posição precária. Até o fim do ano haviam sido expulsos de suas casas no Condado de Jackson. Sob tais condições inquietas parece que os documentos revisados de propriedade nunca foram preparados nem emitidos (pelos menos nenhum destes documentos sobreviveu). Além disso é notável que somente meia dúzia dos documentos originais ainda existem e daqueles somente o de Joseph Knight Jr. foi assinado. Os outros, que parecem ser rascunhos, só existem porque o Bispo Partridge os guardou para escrever cartas pessoais no verso. O fato de nem o bispo responsável para administrar o programa de consagração e mordomia nem os mordomos, a não ser Knight, não terem retido a escritura oficial e “legal” levanta questões quanto ao sistema e o nível de formalidade das consagrações e a extensão da prática deste princípio.[32]
Imbutida na contemplação de consagração que se encontra na Lei, está esta passagem curiosa: “Pois acontecerá que o que eu disse pela boca de meus profetas será cumprido; pois consagrarei das riquezas daqueles que abraçam meu evangelho dentre os gentios aos pobres de meu povo, que são da casa de Israel” (versículo 39). Isto alude à profecia de Isaías que Israel um dia “comereis as riquezas do gentios e na sua glória vos gloriareis” Isaías 61:6). O fato desta passagem ser reiterada na Lei serviu de desculpa para alguns Santos dos Últimos Dias terem visões grandiosas porém distorcidas sobre o cumprimento da profecia. Um membro desafeto, Ezra Booth, apresentou aos Santos este resumo de sua percepção das expectativas escatológicas: Sião “será uma cidade de refúgio e um abrigo seguro quando as tempestades de vingança cobrirem a Terra e aqueles que rejeitarem o Livro de Mórmon serão desvanecidos da face da terra pela vassoura da destruição. Então as riquezas dos gentios serão consagradas aos ‘Mormonitas,’ os quais terão terras e gado em abundância e possuirão ouro e prata e todos os tesouros de seus inimigos.”[33] Em face de tais mal-entendidos, o Profeta sentiu impressiondado a fazer um esclarecimento crucial quando publicou esta passagem de Doutrina e Convênios: “Pois consagrarei das riquezas daqueles que abraçam meu evangelho dentre os gentios aos pobres de meu povo que são da casa de Israel” (D&C 42:39).
Apesar disso o sonho apocalíptico de uma grande contraversão das fortunas e das relações entre os santos e seus antagonistas não foi fácil de se extinguir. No outono de 1838, no auge das contendas entre os mórmons e os missourianos, certos zelotes dos Santos dos Últimos Dias se lembraram da citação original na Lei da profecia de Isaías e usaram-na como justificativa de saquear os inimigos. Morris Phelps se lembra da seguinte ordem do líder danita Sampson Avard a seus liderados: “Não sabem, irmãos, que logo será seu privilégio levar suas companhias respectivas afora para patrulhar nos arredores das povoaçoes e tomar para si a pilhagem dos bens dos gentios iníquos? Pois está escrito que as riquezas dos gentios serão consagradas para meu povo, a casa de Israel e assim os irmãos rechaçarão os gentios por meio de roubar e pilhar suas propriedades; e deste jeito edificaremos o reino de Deus.”[34] Mais tarde John Whitmer, desafeto na época, acusou os Santos de Nauvoo de fazer igual sob o mesmo pretexto na Guerra Mórmon do Condado de Hancock, Estado de Illinois, em meados dos anos 1840.[35]
A palestra de consagração conclui nesta parte da Lei com a admoestação de vestir-se com simplicidade, cultivar o asseio e evitar a ociosidade (vide D&C 42:40–42). Tais ideais eram comuns entre as sociedades comunitárias contemporâneas. A ociosidade especificamente teria que ser evitado a todo custo. Desde o começo os Santos de Missouri pareciam ter encontrado dificuldades com este preceito. Uma revelação de novembro de 1831 declara: “Eu, o Senhor, não estou satisfeito com os habitantes de Sião, porque há ociosos entre eles” (D&C 68:31). Alguns meses depois a admoestação foi colocada mais diretamente ainda: “O ocioso não terá lugar na igreja” (D&C 75:29). Até os pobres, que raramente são condenados nas escrituras, não eram isentos da admoestação: “Ai de vós, homens pobres . . . que não trabalhais com as próprias mãos” (D&C 56:17).
A esta altura a revelação volta aos assuntos de enfermidades e curas. Reitera a ordem do Novo Testamento no livro de Tiago de “chamar os élderes da igreja” quando alguém está doente para “ungir” com óleo e oferecer “uma oração de fé” a seu favor (Tiago 5:14–15). Os anos pioneiros da história dos Santos dos Últimos Dias estavam repletos de exemplos de curas milagrosas.[36] Cito aqui somente um dos exemplos mais notáveis: Pouco tempo depois que a revelação foi recebida, Joseph Smith foi o intrumento da cura do braço manco de Elsa Johnson, uma cura que levou à conversão de vários colegas dela.[37]
Por outro lado, os fiéis cuja fé não era suficiente para serem divinamente curados deviam ser “nutridos com toda a ternura de hervas e alimentos amenos” (D&C 42:43). Nos Estados Unidos antes da guerra civil, a prática de medicina herbal servia de alternativa relativamente bem-sucedida de tais práticas medicinais ‘ortodoxas’ como ‘o sangramento terapêutico’ e engerir calomelano. Os Santos dos Úlitmos Dias participaram da rebelião crescente contra estas práticas médicas e preferiam a cura por fé e a medicina botânica.[38] Diz-se que Joseph Smith opinou que
“os médico não devem curar as pessoas, que a medicina não tinha efeito. Os gentios estudavam medicina em vão.”[39] A medicina botânica recebeu um grande embalo das atividades de Samuel Thomson que publicou um livro muito popular, Nova Guia para Saúde; ou, o Médico Familiar Botânico. Comprava-se o livro por dois dólares e a franquia, ou “direito” de praticar os métodos de Thomson dentro da família se conseguia por vinte dólares. Até 1835 os que praticavam os métodos de Thomson alegavam de a metade da população do Estado de Ohio praticava a medicina botânica. Vários Santos proeminentes, tais como Frederick G. Williams e os irmãos Richards, Levi e Willard, eram médicos praticantes do Thomsonismo.[40]
Em questões de saúde e curas, a vontade de Deus tinha prioridade. Apesar da fé da pessoa, somente aqueles que “não estiverem designados para morrer serão curados” (D&C 42:48). A inclusão da frase bíblica “estar designado para morrer” (Salmos 102:20; 1 Coríntios 4:9) é importante. Como outros cristãos, os Santos dos Últimos Dias reconheciam que a vontade de Deus supercedia em todos os aspectos da vida. Por exemplo, ao chegar a certo ponto no declínio da saúde de Joseph Smith Sênior devido à doença conhecida como “consumpção,” sua esposa, Lucy Mack Smith, “concluiu que estava designado para morrer.”[41]
O ministério sagrado do Santos dos Últimos Dias para os enfermos, inclusive os cenários delineados na Lei, foi resumido por Wilford Woodruff:
“Às vezes impomos as mãos nos enfermos e são curados no momento, outras vezes, mesmo com toda a fé e medicina, levam tempo para sarar e outros morrem.”[42] Além disso, dava-se ênfase que para aqueles que não tinham fé suficiente para serem curados de enfermidades graves como a cegueira, mudez ou deficiências físicas, “E aqueles que não têm fé para fazer estas coisas, mas acreditam em mim, têm poder para tornarem-se meus filhos; e, se não desobedecerem a minhas leis, tu suportarás suas enfermidades” (D&C 42:52).
Então a Lei volta a uma breve discussão de ainda mais uns aspectos da vida de uma comunidade consagrada: “Não tomarás a vestimenta de teu irmão; pagarás pelo que receberes de teu irmão” (versículo 54). Aqui a Lei condena explicitamente o tipo de compartilhamento de propriedades encontrado na várias organizações comunais em que alguns conversos de Ohio haviam vivido. John Whitmer, que visitou a comunidade Morley, relatou:
“Os discípulos tinham todas as coisas em comum e já estavam a caminho da destruição quanto às coisas temporais porque consideravam que o que pertencia a um irmão, pertencia a qualquer dos irmãos, portanto tomavam e usavam até as roupas e outras propriedades do outro sem licença, o que trouxe confusão e desapontamentos pois não entendiam as escrituras.”[43]
A correção dada pela Lei foi repetida nas instruções dadas ao Bispo Partridge acerca de como organizar os Santos de Colesville de acordo com a lei de consagração: “E que aquilo que pertencer a este povo não seja dele tirado e dado ao povo de outra igreja portanto, se outra igreja receber dinheiro desta igreja, que eles paguem de volta a esta igreja conforme combinado” (D&C 51:10–11). A seção 42 deixou claro que a mordomia devia funcionar dentro dos parâmetros normais de uma economia de mercado.[44]
Assim, esperava-se que no decorrer normal de “permanecer firme no local de tua mordomia” (D&C 42:53), um excesso seria criado “e se receberes mais do que o necessário para teu sustento, entragá-lo-ás a meu armazém ” (v. 55). O Bispo Partridge se esforçou por instituir este requisito anual. Nos documentos impressos que ele preparou, o acordo obrigava o mordomo a “pagar o valor anual, que consiste no que for realizado ou acumulado mais do que é necessário para seu sustento e conforto e os da família, ao dito Edward Partridge, bispo da dita igreja ou a seu sucessor no ofício para o benefício da igreja.”[45] Identificar o excesso, naturalmente, era uma decisão subjetiva e o Profeta aconselhou o Bispo Partridge a fazer uma decisão em conjunto, ou seja entre o mordomo e o bispo:
“Todo homem deve ser seu próprio juiz quanto à quantidade que recebe de volta e o que permanece nas mãos do Bispo. Falo daqueles que consagram o que for mais do que o necessário para seu sustento e o da família. O princípio de consagração deve ser seguido pela permissão de ambas as partes pois dar ao Bispo o poder de ditar quanto cada homem consagrará e obrigá-lo a cumprir com o julgamento dos bispos equivale a dar mais poder ao bispo do que tem um rei. Por outro lado, deixar que cada um faça sua própria decisão e obrigar o bispo a aceitá-la criará muita confusão em Sião e escravizará o bispo. O fato é que deve haver um equilíbrio entre o poder do bispo e do povo e assim a harmonia e boa vontade serão preservadas entre os irmãos.”[46]
A esta altura a Lei muda de súbito da discussão de como lidar com as propriedades restantes para o assunto da nova tradução de Joseph Smith da Bíblia: “Pedirás e minhas escrituras serão dadas como determinei e para tua salvação convém que guardes silêncio a respeito delas até que as tenhas recebido” (versículos 56–57). A redação posterior desta passagem proporciona uma visão rara das camadas múltiplas da revisão. A primeria revisão foi feita em novembro de 1831 como parte das conferências realizadas para planejar a publicação do Livro de Mandamentos. Numa reunião em 8 de novembro os élderes resolveram que “o Irmão Joseph Smith Jr. corrigisse os erros que descobrisse pelo santo Espírito.”[47] Entre as revisões feitas nesta ocasião havia uma sobre esta passagem referente à Nova Tradução. A forma original desta revisão, que não tinha pontuação, dá um sentido de que “para a tua salvação as escrituras serão dadas” em vez de “para a tua salvação [segurança] convém que guardes silêncio.” Joseph, porém, revisou a passagem para esclarecer que o vínculo era entre a salvação temporária e o guardar silêncio sobre a nova tradução: “Para tua segurança convém que guarde silêncio a respeito delas.”[48]
Aparentemente não satisfeito com esta rendição, o Profeta (ou os que trabalhavam sob sua direção) revisou de novo a passagem três anos depois ao preparar esta revelação para sua publicação em Doutrina e Convênios. A versão posterior muda de ênfase da segurança dos Santos à segurança das escriturras. Na sua forma final a passagem completa ficou: “Minhas escrituras serão dadas como determinei e serão preservadas em segurança; e convém que guardes silêncio a respeito delas e não as ensines até que as tenhas recebido em sua totalidadel” (versículos 56–57).
Outro exemplo de revisões múltiplas aparece nas linhas depois do fim da segunda pergunta em que procuravam conhecer “a lei que regula a Igreja em suas condições atuais até o tempo da coligação.” Aqui se faz um resumo: “E estas leis que recebestes são suficientes tanto para aqui como na Nova Jerusalém mas àquele que faltar conhecimento que a peça a mim.” Nas revisões de novembro de 1831, deixou-se a porta aberta um pouquinho para esclarecimentos futuros da Lei ou até acréscimos a ela mas logo a porta se abriu por completo e a possibilidade se tornou certeza quando se declarou: “Estas leis que recebestes e recebereis daqui em diante serão suficinetes para vós tanto aqui como na Nova Jerusalém portanto àquele que faltar conhecimento peça-a a mim.” Em 1835 o texto foi revisado mais uma vez para esclarecer que viriam “convênios” em vez de “leis” e que se tinha que observar as leis já recebidas e seriam estes convênios específicos que estabeleceriam os Santos tanto em Ohio como em Missouri: “Vós observareis as leis que já recebestes e sereis fiéis. E daqui em diante recebereis convênios da Igreja, os quais serão suficientes para vos estabelecerdes tanto aqui como na Nova Jesusalém. Portanto, aquele que tem falta de sabedoria, peça-a a mim” (versículos 66–68; revisões em letra itálica).
Esta segunda undidade de textos, a essência da Lei, conclui com este pedido: “Alegrai-vos e regozijai-vos, porque a vós foi dado o reino, assim seja. Amém.” A passagem foi revisada em 1835 para incluir um conhecimento amplificatório que Joseph às vezes sentia inspirado a acrescentar ao redigir as revelações: “Alegrai-vos e regozijai-vos, porque a vós foi dado o reino, ou, em outras palavras, as chaves da Igreja. Assim seja. Amém” (versículo 69; revisão em letra itálica).
D&C 42:70–73
A terceira unidade de textos da Lei responde à pergunta “qual será a disposição de suas famílias quando os élderes estiverem proclamando arrependimento ou estiverem de outra forma atuando a serviço da Igreja.” A reposta é que “os élderes devem ajudar o bispo em todas as coisas e este assegurará que as famílias sejam sustentadas das propriedades consagradas ao Senhor como mordomia ou de outro modo conforme acharem melhor o bispo e os élderes.” Até o fim do ano o bispo recém chamado, Newel K. Whitney, foi ordenando a “receber o relatório dos élderes como antes foi mandado e prover as suas necessidades; eles pagarão o que receberem, se tiverem com o que pagar” (D&C 72:11). “E aquele que não puder pagar apresentará uma conta ao bispo de Sião, que pagará a dívida com aquilo que o Senhor lhe puser nas mãos. E as obras dos fiéis que trabalham em coisas espirituais, na administração do evangelho e das coisas do reino na igreja e no mundo, responderão pela dívida junto ao bispo de Sião” (D&C 72:13–14).
No mês seguinte, a idéia da Igreja dar sustento aos élderes se ampliou de um foco monetário, com o potencial de esgotar os recursos escaços do armazém, para um que dependeia da generosidade dos membros em geral. De início os élderes é que tinham que tomar a iniciativa em buscar sustento. Uma revelação lembrava os Santos de que “é dever na igreja ajudar e sustent[á-los], e também sustentar as famílias dos que são chamados e precisam ser enviados pelo mundo para proclamar o evangelho ao mundo” (D&C 75:24). Era para os élderes necessitados arranjar o alojamento de suas famílias durante sua ausência com membros dispostos (D&C 75:25), mas caso o élder não pudesse fazer acomodações satisfatórias e fosse “obrigado a prover o próprio sustento da família,” era-lhe dito: “Que a mantenha; e de modo algum perderá sua coroa; e que trabalhe na igreja” [em casa] (D&C 75:28). Assim, dentro de um ano após o recebimento da Lei, considerações práticas inspiraram alterações da declaração inicial que as famílias dos élderes seriam “sustentadas das propriedades consagradas ao Senhor.”
Não é de admirar-se de que as revisões de 1835 refletissem essa realidade. Para efetuar a publicação de Doutrina e Convênios, o texto foi redigido para restringir o “sustento” para os élderes (e mais tarde, sumos sacerdotes) designados conselheiros do bispo [neste caso, o Bispo Presidente]: “Dos élderes ou dos sumos sacerdotes designados para ajudar o bispo como conselheiros, em todas as coisas receberão sustento para sua família da propriedade consagrada ao bispo para benefício dos pobres e para outros propósitos, como mencionado antes; ou receberão uma justa remuneração por todos os seus serviços, seja uma mordomia ou outra coisa—conforme o que os conselheiros e o bispo considerem melhor ou decidam” (D&C 42:71–72).
Sem a desingação no prefácio dos élderes envolvidos no trabalho missionário ou outras atividades de serviço na Igreja, a restrição de sustento somente para os conselheiros do bispo era uma interpretação razoável do enunciado original que “os élderes devem ajudar o Bispo em todas as coisas.” A revisão de 1835 também acrescentou um período incluindo especificamente o bispo como merecedor e assistência temporal: “E o bispo também receberá seu sustento ou uma justa remuneração por todos os seus serviços na igreja” (D&C 42:73).[49]
Unidades Texuais 4 e 5 (Não se Encontram em Doutrina e Convênios)
A quarta e a quinta unidades textuais são as mais breves das sete unidades da Lei. Juntas consistem em menos de cem palavras, ou um pouco mais de 4% do total da Lei. Embora tivessem sido incluídas no Livro de Mandamentos, foram tiradas da revelação quando foi publicada em Doutrina e Convênios. A quarta pergunta indaga: “Até que ponto o Senhor deseja que façamos negócios como o mundo e como devemos conduzir nossos tratos com eles?” A resposta: “Não contrairás dívidas com eles e de novo os élderes e o bispo asconselharão juntos e seguirão a orientação do espírito à medida que for necessário.” Ainda que esta citação breve claramente enucie a política básica de não se endividar com “o mundo,” também abre a porta, quando guiado pelo Espírito, para fazer tudo que for “necessário” para avançar nossa causa.[50]
Com uma referência específica a esta passagem da Lei, os conselhos foram colocados com mais eloqüência sete meses depois: “Eis que minhas leis dizem, ou seja, proíbem contraír dívidas com vosso inimigos; mas eis que em tempo algum se diz que o Senhor não poderá tomar quando quiser e pagar como lhe aprouver portanto, como sois agentes, estais a serviço do Senhor; e tudo o que fazeis de acordo com a vontade do Senhor é negócio do Senhor e é o negócio do Senhor sustentar seus santos” (D&C 64:27–30). Pouco tempo depois disso, a Lei foi esclarecida para: “Não contraireis dívidas com o mundo a não ser que sejais mandados.” Tal mandamento veio em março como reposta a uma pergunta sobre a compra de papel para imprimir o Livro de Mandamentos:
“Que a compra seja feita pelo Bispo, se for preciso a crédito [51] e que tudo que se fizer seja feito em nome do Senhor.”[52] Este pronunciamento foi seguido em abril pela decisão da Firma Unida, uma sociedade de líderes de Igreja que administravam propriedades da Igreja, de fazer um empréstimo de quinze mil dólares a um prazo de cinco anos ou mais com juros de seis por cento anuais ou semi-anuais conforme puderem fazer o acordo.”[53]
Tais ações “necessárias” não aconteceram sem custo. Até o final de 1833 o Profeta esreveu aos líderes da Igreja refugiados no Condado de Clay, Estado de Missouri, que “será impossível dar-lhes qualquer ajuda do ponto de vista monetária porque nossos fundos já estão esgotados e estamos profundamente endividados e não sabemos como poderemos nos livrar.”[54] Um mês depois, em 11 de janeiro de 1834, Joseph e outros se uniram em oração e fizeram várias petições a Deus, uma delas sendo “que o Senhor providencie, segundo a ordem de sua providência, ao bispo desta Igreja meios suficientes de quitar todas as dívidas que a Firma deve, no devido tempo, para que a igreja não seja mal-afamada e os santos perseguidos pela maõ dos inimigos.”[55] Apesar da necissidade ocasional de contrair dívidas, o Profeta abre seu coração neste sentido no seu diário numa passagem rara escrita por ele mesmo: “Meu coração hoje se enche do desejo de ser abençoado pelo Deus de Abraão com prosperidade até que eu possa pagar todas as dívidas pois é a alegria da minha alma ser honesto. Ó Senhor, tu sabes tão bem!”[56]
Não ficou claro porque a quarta unidade textual foi tirada da revelação. Certamente na sua forma redigida coincidia com outras declarações semelhante que ocorrem em outros lugares de Doutrina e Convênios. Talvez fosse eliminada por sua proximidade da quinta unidade que, como veremos, era muito específico às circunstâncias temporárias em Ohio em 1831 e portanto de pouca relevância para a Igreja nos anos seguintes.
A quinta pergunta é: “Que preparações faremos para nossos irmãos do Leste—quando [‘onde’ no manuscrito de Gilbert] e como?” A resposta revelada foi: “Haverá tantos quanto forem necessários para ajudar o Bispo a obter lugares [‘casas’ no manuscrito de Gilbert] para que possam ficar juntos, tanto quanto for possível, conforme dirigidos pelo santo Espírito.” Quando se fizeram revisões em novembro de 1831, a última parte do comunicado foi esclarecida, ficando: “obter lugares para seus irmãos de Nova York para que possam residir próximos um do outro dentro do possível ao serem dirigidos pelo Espírito Santo.” Na primavera de 1831 esperavam que os Santos de Nova York logo imigrassem para Ohio de acordo com revelações prévias que os instruíram a unir-se em Ohio (vide D&C 37 e 38). Preparar para aquele evento foi um assunto de importância e de algumas revelações na época (vide D&C 48 e 51).
A resposta à quinta pergunta incluiu esta diretriz: “Todas as famílias terão uma casa em que possam viver separada como família e toda Igreja (ramo, ala) será organizada de forma que os membros possam morar próximos uns dos outros em conseqüência dos inimigos,” acrescentando depois, “E isso por um motivo sábio. Assim seja. Amém.” A idéia de colocar as famílias dos ramos do imigrantes próximas umas das outras, especialmente porque muitos membros destas famílias eram parentes, fazia sentido por vários motivos. Devido às experiências prévias de perseguições, destacou-se o benefício de proteção dos inimigos. Onde estavam situadas as casas dos imigrantes depois de chegarem não se sabe. O único caso bem documentado é o do ramo de Colesville que foi dirigido à fazenda de Leman Copley em Thompson, Ohio (vide D&C 51). No entanto, morar próximos não significava viver em comunas segundo a prática das organizações “familiares” que o Profeta encontrou em Ohio. O texto deixa bem claro que cada família teria sua própria moradia em que só uma família moraria.
D&C 42:78–93
Esta unidade e a que segue foram registradas duas semanas depois das primeiras cinco unidades da Lei. Como explica o manuscrito Ryder, estes segmentos finais, “aprovados por sete élderes em 23 de fevereiro de 1831, segundo o mandamento de Deus, consistiam em regras e regulamento de “como os élderes da igreja de Cristo deviam agir em relação aos preceitos da Lei.” A primeira metade da sexta unidade descreve as medidas a serem tomadas em casos de assassínio, adultério, furto e mentira, cada uma das quais já tendo sido proibida pela própria Lei. Era para entregar os assassinos “às leis do país para serem julgados, lembrando-nos de que para eles não há perdão” (v. 79). A justificativa para entregar o assassino às autoridades civis baseia-se na declaração anterior da Lei que “para aquele que mata não há perdão nem neste mundo nem no mundo vindouro” (v. 18).
Por outro lado, a Igreja trata dos casos de adultério. A lei decreta que um adúltero que não se arrepende ou repete o pecado será expulso” (versículos 24, 26), e a sexta unidade apresenta os procedimentos para implantar tal política, ordenando que o acusado seja julgado por dois ou mais élderes com a presença também do bispo, se possível, [57]. Também requer que o ato de adultério “seja comprovado contra ele” (a frase “ou ela” foi acrescida mais tarde) por pelos menos duas testemunhas que são membros. Já que naquela altura a Lei estipulava que a excomunhão requeria um voto de apoio da Igreja, “os élderes apresentarão o caso diante da igreja e a igeja levantará a mão contra ela para que seja julgada conforme a lei de Deus.81 Este processo serviria de modelo para a disciplina em geral na Igreja: “E assim fareis em todos os casos que vos forem apresentados” (v. 83). Algumas linhas depois a revelação declara que se os Santos “cometerem qualquer iniqüidade, serão entregues à lei, sim à lei de Deus” (v. 87). Entre estas duas declarações se encontram instruções, ordenando que aqueles que roubam, furtam ou mentem serão “entregues à lei” (versículos 84–86). Se esta passagem se referia à lei de Deus ou à lei do país não estava claro até que a frase “do país” foi adicionada em 1835.
Na mesma versão de 1835 do livro de Doutrina e Convênios, a declaração sobre “Governos e Leis em Geral” (a atual seção 134 de D&C) explicou a posição da Igreja a respeito de ofensas civis: “Cremos que a perpetuação de um crime deve ser punida de acordo com a natureza do delito; que o homicídio, a traição, o roubo, o furto e a violação da paz geral, em todos os aspectos, devem ser punidos de acordo com sua criminalidade e sua má influência entre os homens, pelas leis do governo sob o qual o delito tiver sido cometido; e para a paz e tranqüilidade públicas, todos os homens devem usar sua habilidade para entregar os transgressores das boas leis ao castigo.” E ainda se afirmou: “Cremos que todas as sociedades religiosas têm o direito de lidar com seus membros, em caso de conduta inadequada, de acordo com as regras e os regulamentos dessas sociedades; desde que tal ação se limite à participação e posição da pessoa na sociedade a que pertença; mas não cremos ter qualquer sociedade religiosa autoridade para julgar os homens quanto a seu direito a propriedade ou à vida; para confiscar-lhes os bens deste mundo, ou para pô-los em perigo de vida ou de danos físicos ou para infligir-lhes qualquer castigo físico. Podem apenas excomungá-los de sua sociedade e negar-lhes a participação” (D&C 134:8, 10).
A Lei então expõe o que só havia sido impícito nos “Artigos e Convênios” da Igreja (D&C 20) referente à disciplina na Igreja. “Qualquer membro da igreja de Cristo que transgredir ou for surpreendido em alguma ofensa [58] será tratado como indicam as escrituras” (D&C 20:80). Durante uns mil e oitocentos anos o texto clássico sobre disciplina havia sido São Mateus 18:15–17.[59] Não é de surpreender que o processo de três etapas esboçado em Mateus seja reiterado aqui na Lei. Se um membro é ofendido por outro, ele ou ela pode procurar o ofensor e apresentar a queixa em particular. Se o pecador confessar, as duas partes se reconciliarão. Se o ofensor não confessar a ofensa, instrui-se que o ofendido leve outro (testemunha) consigo, e se o pecador ainda não confessar, entregar-se-á o caso aos élderes (vide D&C 42:88–89).[60] A única variação expressiva na Lei em relação a Mateus 18:15–17 é que esclarece que “dize-o à igreja” significa “não aos membros e sim aos élderes (D&C 42:89).[61] O “Far West Record [Registro de Far West]” e o “Kirtland Council Minute Book [Livro de Atas do Conselho de Kirtland]” contêm muitos relatos de conduta transgressiva relativamente moderada que se apresentou perante os élderes da Igreja. A disciplina dos Santos dos Últimos Dia daquela época era semelhante à que as outras igrejas cristãs praticavam tanto no seu compromisso de seguir a política de Mateus 18:15–17 para resolver dificuldades interpessoais e pecados graves como na manutenção da pureza e santidade do corpo de adeptos.[62] Hoje os conselhos disciplinários só se realizam para tratar dos assuntos mais graves.
A parte final desta unidade textual da Lei proporciona diretrizes para a confissão pública e até a repreensão pública, aspectos da disciplina da Igreja que raramente se praticam hoje em dia. Mesmo que a Bíblia ensine: “Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor” (1 Timóteo 5:20), a revelação da Lei limita a repreensão pública somente àqueles que “ofenderam muitos” ou que “ofenderam abertamente” (D&C 42:90–91). Numa época anterior a nossa, pensava-se que a humilhação pública facilitava o arrependimento: “Se alguém ofender publicamente, será repreendido publicamente, para que se envergonhe. E se não confessar, será entregue à lei de Deus” (v. 91).[63] Porém para os que pecavam em segredo, uma admoestação confidencial parecia melhor. Tal prática possibilita que o pecador confesse em segredo a quem quer que tenha ofendido e a Deus para que a igreja (os irmãos) não fale com reprovação a seu respeito” (v. 92). “E assim,” como conclui esta unidade textual, “agireis em todas as coisas” (v. 93).
D&C 42:74–77
Embora este segmento estivesse colocado em frente da unidade anterior (unidade 6) quando se publicou na primeira versão de Doutrina e Convênios, antes disso sempre seguia a unidade 6 nas fontes que continham estas duas últimas unidades (vide tabela). Em dois outros casos, só ela (unidade 7) foi anexa à Lei e num caso apareceu sozinha. Em algumas fontes esta unidade recebeu seu próprio título—“Como agir em casos de adultério” ou “ Um Mandamento concernente a como agir em casos de adultério.” Nas fontes em que aparece uma data, consta-se 23 de fevereiro de 1831.
O título deste segmento pode confundir um pouco pois na realidade o assunto é a relação entre o adultério e o divórcio ou separação em vez de adultério em si. O texto expõe quatro situações específicas e fornece instruções a respeito de como agir nestes casos. A primeira situação trata-se do caso em que um membro se divoricia do cônjuge devido a imoralidade sexual: “Quaisquer pessoas entre vós que tenham repudiado o cônjuge por causa de fornicação, ou em outras palavras, se com toda a humildade testificarem diante de vós ser este o caso, não as expulsareis de vosso meio” (v. 74). A linguagem desta declarção dá a entender que o divórcio punha a risco a sociedade do indivíduo na Igreja e o cônjuge inocente somente permaneceria membro da Igreja mediante provas de que o divórcio havia sido resultado de infidelidade por parte do outo cônjuge. Apesar das atitudes sobre o divórcio terem relaxadas na América antes da guerra civil [64], a linguagem da revelação lembra o rigor do Sermão da Montanha: “Qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério” (Matthew 5:32).
O segundo caso está claro. A pessoa (membro) que abandona o cônjuge “por causa do adultério e é ela mesma a culpada e seu cônjuge vive, essa pessoa será expulsa de vosso meio” (D&C 42:75). O tercerio caso e quarto caso se relacionam ao segundo porque tratam do adúltero que abandona seu cônjuge fiel mas que não é membro mas quer filiar-se à Igreja. Nestes casos os élderes devem “ser diligentes e cuidadosos em vossas investigações, para que não recebais tais pessoas entre vós, se [caso 3] forem casadas; e se [caso 4] não forem casadas, deverão arrepender-se de todos os pecados; caso contrário, não as recebereis” (versículos 76–77).
Observa-se no terceiro caso, não como no quarto caso, que não há condição explícita para o arrependimento e aceitação no meio do Santos. Foi esta uma omissão sem importância porque se subentendia que o arrependimento era sempre possível nestes casos? Ou, foi a rejeição sem condições da validade espiritual do recasamento de um adúltero esporádico ou habitual do qual se fala em Mateus 19:9: “Qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério”? É a seriedade do caso aumenta pelo fato de sua [seu] companheira[o] (aflita) ainda estar viva[o]”? A escassez de outras fontes da época referentes ao divórcio torna difícil determinar com confiança quais eram as atitudes dos Santos neste sentido. Porém um relato breve do diário de Hyrum Smith mostra que o recasamento após o divórcio era suspeito a não ser que a causa do divórcio fosse infidelidade por parte de um dos cônjuges:
“Fui à casa do Irmão Rounday onde nos reunimos com o Irmão Morse. Indagamos a respeito do assunto da situção de sua vida, sendo ele um homem que teve duas esposas e que vive com a segunda enquanto a primeira ainda vive. Mas esta foi repudiada por causa de fornicação, sendo ele inocente. Ele testificou com toda a humildade que a que foi liberada foi a pecadora.”[65]
A linguagem desta passagem do diário lembra muitas frases da unidade textual que estamos analizando e mostra a seriedade com que os élderes seguiam suas diretrizes.
Conclusion
A Lei foi, é claro, um dos documentos mais importantes dos anos iniciais da história dos Santos dos Últimos Dias. Sobreviveram mais cópias de manuscritos desta revelação feitas antes de publicação do que de qualquer outra revelação. Fica do lado dos Artigos e Convênios em termos de sua utilidade para os líderes da Igreja da era pioneira. A principal contribuição deste estudo foi a análise de revisões significativas do texto da Lei e prover uma visão parcial de como se entendiam as passagens na época. A análise quantativa e classificação das alterações textuais possibilitaram uma avaliação mais precisa do que outrora se podia fazer da quantia e espécie de revisões inspiradas feitas sob a direção profética.
O que se destaca é que apesar do fato das revelações serem dadas “ao meus servos na sua fraqueza segundo a sua maneira de falar” (D&C 1:24), o Profeta se esforçou muito por compensar a fraqueza linguística e aprimorar o texto conforme a inspiração que sentia. Ele também se esforçou para que a Lei refletisse as práticas da época da mesma forma que a Igreja hoje em dia faz atualizaçoes do Manual de Instruçoes usado por líderes de todos os níveis para administrar corretamente os assuntos da Igreja.
Por final, a composição geral da Lei agora pode ser vista com uma nova perspectiva. Mesmo que alguns historiadores tenham notado previamente que a Lei foi recebida em dois dias diferentes, este estudo ilumina as diferenças da natureza das duas partes e o propósito destes materiais revelaods naqueles dias. Além disso, uma análise detalhada revelou que a revelação consistia em sete unidades textuais distintas, uma das quais (a maior, contendo 58 por cento do documento interio) contém a Lei, propriamente dito. De um modo geral, esta avaliação apurada oferece ilucidação a respeito do processo revelatório que produziu os textos canônicos do livro de Doutrina e Convênios e a influência profunda que exerceram na comunidade inicial do Santos dos Últimos Dias.
Notas
[1] John Whitmer, “Book of John Whitmer,” 6, Community of Christ Library-
Archives, Independence, Missouri.
[2] Whitmer, “Book of John Whitmer,” 12.
[3] A versão inglesa deste estudo conserva a ortografia da época das revelações, aparecendo a palavra Lei com letra maiúscula ao longo da redação que se refere a revelação contida na seção 42 de Doutrina e Convênios.
[4] Carta de Joseph Smith a Martin Harris, February 22, 1831, Joseph Smith Collection, box 2, folder 3, Church History Library, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Salt Lake City.
[5] Esta citação de um parágrafo de transição na cópia manuscrita feita por Symonds Ryder (vide Revelations Collection, box 1, folder 13, Church History Library).
[6] Outra cópia manuscrita é mencionada numa carta de Oliver Cowdery a Newel K. Whitney em 4 de fevereiro de 1835: “Bishop Whitney, Will you have the kindness to send us by the bearer the original copy of the Revelation given to 12 elders Feb. 1831 called ‘The Law of the Church’? We are preparing the old Star for re-printing, and have no copy from which to correct, and kno[w] of no other beside yours. Your Ob’t Serv’t. Oliver Cowdery” (Newel K. Whitney Papers, L. Tom Perry Special Collections, Harold B. Lee Library, Brigham Young University, Provo, Utah).
[7] A versão atual fornece datas específicas quando são conhecidas, mas só consta a de 9 de fevereiro para a seção 42.
[8] As respostas às primeiras duas perguntas terminam em “Assim seja. Amém,” reforçando a idéia de que são unidades distintas.
[9] Versícsulo 73 não fazia parte da resposta original mas foi acrescido depois quando a unidade foi revisada na edição de Doutrina e Convênios.
[10] Seguem-se comentários sobre o manuscrito de Symonds Ryder: ‘It has been suggested that Symonds Ryder illicitly obtained this and the other manuscript copies of the revelations that were in his descendants’ possession at the time they were acquired by the Church (see Scott Faulring, “Symonds Ryder,” Mormon History Association Newsletter [Fall 1996], 4–5; and Faulring, “An Examination of the 1829 ‘Articles of the Church of Christ’ in Relation to Section 20 of the Doctrine and Covenants,” BYU Studies 43, no. 4 [2004]: 75–76). This now appears to be incorrect. It is true that in September 1831, Ryder, along with Ezra Booth, renounced his membership in the Church at a camp meeting in Shalersville, Ohio. It is also true that Ryder loaned his copy (or a copy of his copy) of the Law to the editor of the Western Courier in nearby Ravenna, Ohio, who printed a portion of it in his newspaper, along with a derisive editorial introduction. What is not substantiated by evidence, however, is that Ryder purloined his copies of the revelations while the Prophet was away in Missouri that summer. The best reading of the evidence is that Ryder made his copies sometime before mid-June 1831, when Joseph Smith left for Missouri, and that he did so, like other early elders, with the permission of the Prophet for his personal use. This seems likely for several reasons. First, such a practice was common and accounts for many of the manuscript copies of the revelations in existence today. Second, there is no reason to believe that Ryder was dishonest. The Prophet never accused him of such behavior, and long after ceasing his association with the Church, Ryder continued as a highly regarded, upstanding member of the Hiram, Ohio, community in which he resided. Third, and most important, he probably made his copy of the Law in May 1831 (see Painesville Telegraph, September 13, 1831) when he clearly was in good standing in the Church (he is mentioned positively in D&C 52:37, given in early June 1831). However he acquired his copy, it is clear that he did not tamper with the text. Its wording is very close to that found in other early manuscripts.’
[11] Comentários sobre correções ortográficas nos manuscritos em inglês (vide estudo em inglês).
[12] Livro de Mandamentos, 97 (capítulo 45, versículos 8–9). This wording was later revised for publication in the Doctrine and Covenants (vide D&C 43:8–9).
[13] Section 42 contains almost the same number of words in the current edition of the Doctrine and Covenants. Although there are dozens of punctuation, grammar, and spelling variations between the two versions, there are no conceptually significant differences. Indeed, textual analysis of the entire Doctrine and Covenants shows that this is true of almost all the revelations. Once they were published in 1835 in the Doctrine and Covenants, their wording seems to have been considered final, and no further updates or other significant revisions appear in subsequent editions.
[14] Of similar changes in the Book of Mormon, President Boyd K. Packer remarked years ago, “Of course there have been changes and corrections. Anyone who has done even limited research knows that. When properly reviewed, such corrections become a testimony for, not against, the truth of the books” (“We Believe All That God Has Revealed,” Ensign, May 1974, 94).
[15] Unless it does not agree with the CEW, the Ryder manuscript will be quoted throughout this study.
[16] Whitmer, “Book of John Whitmer,” 17.
[17] John Corrill, A Brief History of the Church of Christ of Latter Day Saints (St. Louis:printed for the author, 1839), 17.
[18] Book of Commandments, 89 (chapter 44, heading); emphasis added.
[19] Jan Shipps and John W. Welch, eds., The Journals of William E. McLellin, 1831–1836 (Provo, UT: BYU Studies; Urbana: University of Illinois Press, 1994), 41 (September 18, 1831).
[20] Richard Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling (New York: Knopf, 2005), 153.
[21] Best known is “the Family,” or “Morley’s Family,” who lived communally on Isaac Morley’s farm in the township of Kirtland, Ohio. Of its origin, Family member Lyman Wight wrote, “I went to Kirtland, about twenty miles, to see Bro. I[saac] Morley and-[Titus] Billings, after some conversation on the subject we entered into a covenant to make our interests one as anciently. In conformity to this covenant I moved the next February [1830] to Kirtland, into the house with Bro. Morley. We commenced our labors together with great peace and union. We were soon joined by eight other families. Our labors were united both in farming and mechanism, all of which was prosecuted with great vigor. We truly began to feel as if the millennium was close at hand” (The History of the Reorganized Church of Jesus Christ of Latter Day Saints [Independence, MO: Herald House, 1977], 1:152–53). Although Isaac Morley’s Family lived together on the same property, others, like the smaller Family in Chardon, Ohio, reportedly shared a single house: “One man has torn away all the partitions of the lower part of a good two story house. Here a large number live together” (The Geauga Gazette [Painesville, Ohio], February 1, 1831).
[22] Leonard J. Arrington, Feramorz Y. Fox, and Dean L. May, Building the City of God: Community and Cooperation Among the Mormons (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 15. “The laws of the church of Christ” 137
[23] Noah Webster, American Dictionary of the English Language (New York: S. Converse, 1828; reprint, San Francisco: Foundation for American Christian Education, 1989), s.v. “consecrate.”
[24] See Donald E. Pitzer, ed., America’s Communal Utopias (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1997).
[25] Whitmer, “Book of John Whitmer,” 17–18. Church members in Hiram, Ohio, appear to have been among those who “underst[oo]d not the things of the kingdom.” A recollection years later by Symonds Ryder seems to refer to section 42 as the source of their disaffection. A long-since-disaffiliated Ryder recalled that several months after recording the Law, when Joseph and others “went to Missouri to lay the foundation of the splendid city of Zion, and also of the temple, they left their papers behind. This gave their new converts an opportunity to become acquainted with the internal arrangement of their church, which revealed to them the horrid fact that a plot was laid to take their property from them and place it under the control of Joseph Smith the prophet. This was too much for the Hiramites, and they left the Mormonites faster than they had ever joined them” (Symonds Ryder to Amos S. Hayden, February 1, 1868, as cited in Hayden, Early History of the Disciples in the Western Reserve, Ohio [Cincinnati: Chase & Hall, 1875], 221).
[26] See Arrington and others, Building the City of God, 15–40.
[27] Hereafter, for ease of comparison, textual revisions will be italicized.
[28] Levi Jackman, Deed of Stewardship, Edward Partridge Papers, Church History Library.
[29] See, for example, incidents reported in Painesville Telegraph, April 26, 1833; and Star, July 1833, 110.
[30] Joseph Smith to Edward Partridge, May 2, 1833, Joseph Smith Collection, box 2, folder 3, Church History Library.
[31] Star, June 1833, 100. In antebellum America, to be identified as a “common stock” organization or to be said to have “all things common” were characterizations of disparagement. As the editor of the reprinted Star remarked, “This assertion is meant, not only to falsify on the subject of property, but to blast the reputation and moral characters of the members of the same.” Not that there was something intrinsically wrong with a community of goods, as the editor pointed out by citing the apostolic “church at Jerusalem” or the actions of Book of Mormon peoples “after the appearance of Christ,” but the respective “government” under which each lived “was differently organized from ours, and could admit of such a course when ours cannot” (August 1831, reprint [March 1835], 48).
[32] That some had gathered to Zion without consecrating is implicit in the strong warning issued in November 1832: “It is conterary to the will and commandment of God that those who receive not their inheritance by consecration agreeable to his law . . . should have there names enrolled with the people of God, neithe[r] is the[ir] geneology to be kept or to be had where it may be found on any of the reccords or hystory of the church there names shall not be found . . . writen in the book of the Law of God saith the Lord of hosts” (Joseph Smith to William W. Phelps, November 27, 1832, Joseph Smith Collection, box 2, folder 1, Church History Library; compare D&C 85:3–5).
[33] “Mormonism.—No. II,” Ohio Star, October 20, 1831.
[34] Morris Phelps, Reminiscence, as quoted in Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed. B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret Book, 1957), 3:180. This was corroborated by several witnesses at the Richmond Court of Inquiry in November 1838. There John Cleminson testified that “it was frequently observed among the troops, that the time had come when the riches of the Gentiles should be consecrated to the Saints.” And George Hinkle averred, “It was taught, that the time had come when the riches of the Gentiles were to be consecrated to the true Israel. This thing of taking property was considered a fulfillment of the above prophecy” (Document Containing the Correspondence, Orders, &c. in Relation to the Disturbances with the Mormons [Fayette, MO: Published by Order of the General Assembly, 1841], 115, 128).
[35] Whitmer, “Book of John Whitmer,” 91.
[36] For a sampling of early Latter-day Saint healing accounts and a discussion of the doctrinal ideas that sustained them, see Underwood, “Supernaturalism and Healing in the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints,” in Religions of the United States in Practice, ed. Colleen McDannell (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2001), 1:299–309.
[37] Milton V. Backman Jr., The Heavens Resound: A History of the Latter-day Saints in Ohio, 1830–1838 (Salt Lake City: Deseret Book, 1983), 82–83.
[38] Lester E. Bush Jr., Health and Medicine among the Latter-Day Saints: Science, Sense, and Scripture (New York: Crossroad Publishing, 1993).
[39] Kirtland Revelation Book, [138], Church History Library.
[40] Robert T. Divett, “Medicine and the Mormons: A Historical Perspective,” Dialogue: A Journal of Mormon Thought 12 (Fall 1979): 16–25; see also Alex Berman and Michael A. Flannery, America’s Botanico-Medical Movements: Vox Populi (New York: Haworth Press, 2001); John S. Haller Jr., The People’s Doctors: Samuel Thomson and the American Botanical Movement, 1790–1860 (Carbondale: Southern Illinois University Press, 2000).
[41] Lavina Fielding Anderson, ed., Lucy’s Book: A Critical Edition of Lucy Mack Smith’s Family Memoir (Salt Lake City: Signature Books, 2001), 713.
[42] “Willford Woodruff’s Journal for 1848,” February 23, 1848, Church History Library.
[43] Whitmer, “Book of John Whitmer,” 11. Levi Hancock recorded a similar experience with another Family organization (see Hancock, “Life of Levi Hancock,” 28, Church History Library).
[44] “Each member was free to work as he pleased within the limitations of his stewardship. The profit system, the forces of supply and demand, and the price system presumably would continue to allocate resources, influence production decisions, and distribute primary or earned income. Some of the institutions of capitalism were thus retained and a considerable amount of economic freedom was permitted. Above all, there was to be no communism of goods” (Arrington and others, Building the City of God, 17).
[45] Levi Jackman, Deed of Stewardship, Church History Library.
[46] Joseph Smith et al. to Brethren [in Zion], June 25, 1833, Joseph Smith Collection, box 2, folder 1, Church History Library.
[47] “The Conference Minutes and Record Book of Christ’s Church of the Latter Day Saints,” 16 (November 8, 1831), Church History Library; hereafter cited as Far West Record.
[48] This revision appears in the Whitmer, Coltrin, and Hyde manuscripts, all copied in early 1832 or before, as well as in the excerpt of the Law published later that year in the Star and in the Book of Commandments the following year.
[49] This merely echoes what had been stated as early as May 1831: “Let all things both in money & in meat which is more then is needful for the want of this People be kept in the hands of the Bishop & let him also reserve unto himself for his own wants & for the wants of his family as he shall be employed in doing this Business” (D&C 51:13–14).
[50] That situation-specific guidance from the Spirit always took precedence over general guidelines—“notwithstanding those things which are written it always has been given to the Elders of my Church . . . to conduct all [matters] as they are directed & guided by the Holy spirit” (D&C 46:2)—appears not to have been comprehended initially by some of the Church leaders. Regarding this particular passage in the Law, Ezra Booth reported that in spring of 1831, in order to help settle the emigrating New York Saints, the Prophet felt prompted to direct Bishop Partridge to “secure” a particular land purchase in Thompson by contracting “a debt with the world to the amount of several hundred dollars.” When Partridge “hesitated,” construing the Law’s injunction against debt as an absolute proscription, the Prophet insisted that Partridge “must secure the land” by arranging the loan (“Mormonism VII,” Ohio Star, November 24, 831).
[51] The phrase “by hire” is an older English expression for “on credit” or “through a loan.” The exact financial arrangements whereby the paper was acquired in Wheeling, Virginia, are not known.
[52] “Revelation as to Paper,” March 20, 1832, Newel K. Whitney Collection, L. Tom Perry Special Collections.
[53] Far West Record, 26 (April 30, 1832).
[54] Joseph Smith to “Dear Brethren” [in Missouri], December 5, 1833, Joseph Smith Collection, box 2, folder 1, Church History Library.
[55] Joseph Smith, Journal (1832–34), 45–46, Joseph Smith Collection, box 1, folder 1, Church History Library; compare D&C 90:22–23.
[56] Joseph Smith, Journal (1835–36), 1, Joseph Smith Collection, box 1, folder 2, Church History Library.
[57] In the months ahead, the bishop would be “appointed to be a Judge in Israel . . . to Judge his people by the testimony of the Just & by the assistance of his councilors according to the laws of the kingdom” (D&C 58:17–18).
[58] Being “overtaken in a fault” is language from Galatians 6:1.
[59] See John S. Bowden, Encyclopedia of Christianity (New York: Oxford University Press, 2005), s.v. “discipline.” For a modern pastoral analysis of the passage, see Jay E. Adams, Handbook of Church Discipline (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1986).
[60] The identical phrase “if he confess not” introduces both steps two and three. When this passage was first published in the Star in October 1832, typesetters missed the entire second step—“if he confess not thou shalt take another with thee.” Though the error was corrected the following year when the Book of Commandments was published, it was perpetuated in the 1835 reprint of the Star. Because the wording in the Star reprint was almost always followed in the preparation of the 1835 Doctrine and Covenants, the line was similarly omitted there and was not subsequently restored in any edition of the Doctrine and Covenants.
[61] Methodists shared this interpretation. John Wesley, in his “Sermon 49,” explained: “It would not answer any valuable end, to tell the faults of every particular member to the church. . . . It remains that you tell it to the elder, or elders of the church, to those who are overseers of that flock of Christ, to which you both belong, who watch over yours and his soul” (John Wesley, Sermons on Several Occasions [New York: Lane & Scott, 1852], 1:438).
[62] Compare Baptist practice as described in Gregory A. Wills, Democratic Religion: Freedom, Authority, and Church Discipline in the Baptist South, 1785–1900 (New York: Oxford University Press, 1997), 20–25, 29–31, 37–49.
[63] A probing analysis of the widespread social functions of honor and shame in the ontemporary South is Bertram Wyatt-Brown, Southern Honor: Ethics and Behavior in the Old South (New York: Oxford University Press, 1982). For a particular focus on religious life, see Wyatt- Brown’s chapter “Paradox, Shame, and Grace in the Backcountry,” in his The Shaping of Southern Culture: Honor, Grace, and War, 1760s-1890s (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2001), 106–16.
[64] See Norma Basch, Framing American Divorce (Berkeley: University of California Press, 1999).
[65] Hyrum Smith, Journal (1832–33), April 4, 1833, L. Tom Perry Special Collections.