Os Propósitos Precisos do Livro de Mórmon
Jay E. Jensen
Jay E. Jensen, “Os Propósitos Precisos do Livro de Mórmon,” in Richard Neitzel Holzapfel and Paulo Renato Grahl, eds., Buscai Diligentemente: Seleções de “o Educador Religioso,” trans. Roydon Olsen and Vanessa Fitzgibbon (Provo, UT: Religious Studies Center, 2010), 71–81.
Élder Jay E. Jensen é membro do Primeiro Quórum dos Setenta.
Quando era um jovem aluno do ensino médio, desenvolvi um amor pela leitura de bons livros. Tenho certeza que muito de minha motivação veio de minha mãe. Bons livros sempre estavam disponíveis em nossa casa. Nós também tínhamos a biblioteca pública local. O sábado era dia de compras, e minha mãe dirigia a curta distância de Mapleton a Springville, em Utah, para fazer as compras de supermercado da semana. A biblioteca da cidade ficava a uma quadra do mercado e muitas vezes passei meu tempo lendo na biblioteca em vez de segui-la pelos corredores do supermercado – uma tarefa bastante monótona.
De alguma forma, durante todos estes anos de leitura, falhei em aprender a importância da leitura dos prefácios ou introdução dos livros, e tenho certeza que foi minha culpa, e não de meus professores. Mais tarde, na faculdade, aprendi que ler o prefácio é uma das coisas mais importantes a fazer, pois nele conhecemos os propósitos declarados dos autores ou intenções e informações importantes dos antecedentes referentes ao texto.
Declaração do Propósito de Morôni na Página de Rosto
Ler e entender as introduções das quatro obras-padrão e seus propósitos declarados, não é exceção; esta prática é particularmente verdade para o Livro de Mórmon. Um fato sem par neste volume de escritura é que a mesma contém duas introduções importantes: (1) a página de rosto, escrita por Morôni e, (2) a introdução, escrita sob a direção da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze. As três outras seções introdutórias do Livro de Mórmon – O Testemunho das Três e Oito Testemunhas, o Testemunho do Profeta Joseph Smith, e Uma Breve Explicação sobre o Livro de Mórmon – são também importantes devido à valiosa informação histórica e contextual que elas proporcionam, mas não porque elas são declarações de intenção.
Morôni declarou os propósitos precisos do Livro de Mórmon na página de rosto - Destina-se a mostrar aos remanescentes da casa de Israel:
- “as grandes coisas que o Senhor fez por seus antepassados; e
- “para que possam conhecer os convênios do Senhor e saibam que não foram rejeitados para sempre—E também
- “para convencer os judeus e os gentios de que Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, que se manifesta a todas as nações.”
A esta lista podemos acrescentar as últimas palavras de Morôni na página de rosto, “Para que sejais declarados sem mancha no tribunal de Cristo,” uma parte vital do propósito do Livro de Mórmon.
Um exercício adequado de estudo de escritura pode ser feito ao se pegar três pedaços separados de papel e escrever uma das declarações no topo de cada um deles, e então começar um cuidadoso estudo do Livro de Mórmon, escrevendo as referências das escrituras que apóiam cada propósito. Meus próprios esforços mostraram-me que a maior lista de referências está sob o terceiro propósito, confirmando a verdade que o Livro de Mórmon é o livro mais centralizado em Cristo jamais escrito e, verdadeiramente, o “Outro Testamento de Jesus Cristo.”
Nas duas primeiras declarações, “as grandes coisas que o Senhor fez por seus antepassados,” e “para que possam conhecer os convênios do Senhor,” Morôni claramente estabeleceu que as pessoas no Livro de Mórmon são israelitas e herdeiros das promessas feitas a seus pais. Especificamente, o termo antepassados citado na primeira declaração pode se referir a linhas ancestrais específicas e a todos os grandes profetas e patriarcas no Velho Testamento, mas muitas vezes os antepassados são os três grandes patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó, com quem o Senhor fez convênios. Portanto, a primeira declaração nos conduz à segunda: “para que possam conhecer os convênios do Senhor.” [1]
Néfi é o principal escritor e autor das placas menores ao lado de Mórmon e Morôni que são os principais compiladores e escritores das placas maiores. Estes três escritores foram claros em seus propósitos de escrever, todos os quais geralmente se entrelaçam à página de rosto do Livro de Mórmon; mas, como veremos logo abaixo, foi provavelmente Néfi quem começou a escrever sobre os temas básicos que ajudaram todos os outros escritores e compiladores a manter seu foco, resultando na página de rosto que conhecemos hoje.
Propósitos de Néfi em Escrever
A placas menores são tão importantes e especificamente os escritos de Néfi, que o Senhor declarou: “Eis que há muitas coisas gravadas nas placas de Néfi que lançam maior luz sobre meu evangelho” (D&C 10:45 – ênfase acrescentada). Esta grande compreensão aparece no início de 1 Néfi. De fato, quanto mais leio, estudo, pondero e oro a respeito do Livro de Mórmon, mais estou convencido que Leí e Néfi estabeleceram os maiores temas doutrinários para todos os outros escritores. Se este é o caso, então as placas menores de Néfi (1 e 2 Néfi, Jacó, Enos, Jarom e Ômni) são um prefácio para todas as 531 páginas (edição em inglês). Talvez seja mesmo seguro dizer que aqueles temas foram estabelecidos pelo sonho e visão de Leí (veja 2 Néfi 8; 19), e a subsequente visão de Néfi sobre o mesmo assunto (veja 1 Néfi 11-14). Também é importante incluir o comentário de Néfi sobre a visão ou sonho de Leí, conforme encontrado no capítulo 15. Em resumo, 1 Néfi capítulos 8 a 15 (inclusive) são os prefácios mais completos de todo o Livro de Mórmon, e tudo mais que se segue neste magnífico livro provém e está em harmonia com estes oito capítulos. [2]
Nestes primeiros capítulos, Leí e Néfi focalizaram em convênios, no Messias, na coligação de Israel, nos gentios e na Restauração, mas é o comentário de Néfi sobre eles que estabelece a centralidade dos temas que Morôni traçou na página de rosto. Para mim, 1 Néfi 15 é um dos capítulos mais importantes do Livro de Mórmon inteiro. O cenário deste trecho é que Lamã e Lemuel não haviam compreendido as palavras de Leí “concernentes aos ramos naturais da oliveira e também aos gentios” (1 Néfi 15:7). Néfi contestou ensinando-os sobre Israel e sua dispersão e subsequente coligação nos últimos dias, começando com o aparecimento do Livro de Mórmon, o qual ele diz conter a plenitude do evangelho e que “chegar[ia] aos gentios; e dos gentios, aos remanescentes de nossos descendentes” (1 Néfi 15:13). O resultado do Livro de Mórmon seria que os remanescentes de sua semente e toda a casa de Israel saberiam:
- “que são da casa de Israel, e
- “que são o povo do convênio do Senhor; e
- “saberão, daí, quem eram seus antepassados, e
- “terão também conhecimento do Redentor e do evangelho que foi por ele ministrado a seus pais. Portanto,
- “virão a conhecer seu Redentor e os pontos essenciais de sua doutrina, para que saibam como chegar a ele e ser salvos” (1 Néfi 15:14).
Aqueles que atingirem tal conhecimento regozijarão e virão ao verdadeiro rebanho de Deus e serão enxertados na verdadeira videira (veja 1 Néfi 15:15-16). Ser enxertado, significa nas escrituras “[vir] a conhecer o verdadeiro Messias, seu Senhor e seu Redentor” (1 Néfi 10:14). Conforme as pessoas chegam a esse conhecimento e são enxertadas, vemos o grande cumprimento das promessas feitas a Abraão, “indicando o convênio que haveria de ser cumprido nos últimos dias, convênio esse que o Senhor fez com nosso pai Abraão, dizendo: Em tua semente serão benditas todas as famílias da Terra” (1 Néfi 15:18).
As famílias referidas nesta escritura serão convertidas através do poder do Espírito à medida que eles leem, ponderam e oram a respeito do Livro de Mórmon e eles serão levados ao santo templo, onde famílias são seladas umas às outras em cumprimento às promessas feitas a Abraão.
Todos os outros autores e profetas do Livro de Mórmon receberam revelação do Espírito Santo, de mensageiros celestiais e do Salvador Ele mesmo, construindo e expandindo sobre as simples e profundas verdades que Leí e Néfi receberam por revelação. Esta revelação demonstra que Jesus Cristo “é o mesmo ontem, hoje e para sempre; e o caminho está preparado para todos os homens desde a fundação do mundo, caso se arrependam e venham a ele” (1 Néfi 10:18).
Néfi conclui sua porção das placas ensinando-nos sobre aquilo que ele esperava que seus escritos fizessem – e, para ênfase, eu os identifiquei e delineei aqui com esta declaração introdutória de Néfi: “E as palavras que escrevi em fraqueza tornar-se-ão fortes para eles; porque
- “os persuadem a fazer o bem;
- “fazem com que saibam a respeito de seus pais;
- “e falam de Jesus, persuadindo-os a acreditar nele e a perseverar até o fim, que é vida eterna.
- “E falam asperamente contra o pecado” (2 Néfi 33:4-5).
Outros Propósitos do Livro de Mórmon, Conforme Descritos por Néfi
Além dos propósitos declarados e discutidos até aqui, Néfi compartilhou pensamentos e sentimentos pungentes sobre o que ele havia escrito e naquilo que ele esperava que seus escritos resultassem. Por exemplo, Néfi incluiu os escritos de Isaías com a esperança que nós estabelecêssemos uma conexão entre eles, e que eles pudessem nos “persuadi[r] [nos nestes últimos dias] a lembrar-[nos] do Senhor seu Redentor. . . .e acreditar [Nele]” (1 Néfi 19:18, 23). Além disso, falando sobre as placas de latão, Néfi testificou que ao estabelecermos uma conexão entre elas e nós mesmos, saberemos que “[são] verdadeiras . . .; e elas testificam que o homem deve ser obediente aos mandamentos de Deus” (1 Néfi 22:30).
O entendimento de Néfi sobre estas coisas, os escritos nas placas menores, é claramente declarado com sua interpretação sobre o sonho de seu pai, e podemos ler nas entrelinhas e discernir seus sentimentos mais profundos: “E eu disse-lhes que [a barra de ferro] era a palavra de Deus; e todos os que dessem ouvidos à palavra de Deus e a ela se apegassem, jamais pereceriam; nem as tentações nem os ardentes dardos do adversário poderiam dominá-los até a cegueira, para levá-los à destruição” (1 Néfi 15:24).
No chamado Salmo de Néfi, vislumbramos seus sentimentos sobre as placas: “E nestas escrevo as coisas de minha alma. . . . Porque minha alma se deleita nas escrituras e meu coração nelas medita e escreve-as para instrução e proveito de meus filhos. Eis que minha alma se deleita nas coisas do Senhor; e meu coração medita continuamente nas coisas que vi e ouvi” (2 Néfi 4:15-16).
Depois de Néfi ter incluído os escritos de Isaías e seus comentários e profecias sobre os mesmos, ele disse estar satisfeito exceto por “algumas poucas palavras que devo dizer sobre a doutrina de Cristo” (2 Néfi 31:2). Depois desta declaração, ele escreveu sobre aquilo que o Senhor havia lhe mostrado, talvez como parte da visão descrita em 1 Néfi 11-14, sobre o Salvador, Seu batismo, e por que devemos segui-Lo e nos manter no caminho que Ele nos indicou (veja 2 Néfi 31; compare com 1 Néfi 8, o sonho de Leí). Néfi, então, deu primeiro aquilo que chamo de uma proposição se-então concernente às palavras de Cristo: “Se assim prosseguirdes, banqueteando-vos com a palavra de Cristo, e perseverardes até o fim, eis [então] que assim diz o Pai: Tereis vida eterna” (2 Néfi 31:20; ênfase acrescentada). Este firme convite foi seguido por este mandamento: “Banqueteai-vos com as palavras de Cristo; pois eis que as palavras de Cristo vos dirão todas as coisas que deveis fazer” (2 Néfi 32:3).
Finalmente, ele chega ao fim de sua porção das placas menores declarando que “estaremos face a face” e seremos julgados de acordo com aquilo que nós fizermos com as palavras que ele escreveu, pois elas irão ou nos condenar, ou nos abençoar com a vida eterna (veja 2 Néfi 33:11-15).
Declaração do Propósito de Jacó
Jacó aderiu ao objetivo estabelecido por Néfi e ao importante foco nos temas que o Senhor havia dado para seus pais, de que Israel pudesse conhecer os convênios do Senhor e para convencer o judeu e o gentio que Jesus é o Cristo. Isto pode ser encontrado em 2 Néfi, capítulos de 6 a 10, especialmente nos capítulos 9 e 10, e em Jacó capítulos de 1 a 6. Na seguinte declaração de propósito bastante significativa, Jacó expressou sua esperança naquilo que ele havia escrito: “E trabalhamos diligentemente para gravar estas palavras em placas, na esperança de que nossos amados irmãos e nossos filhos as recebam com o coração agradecido e as examinem, para que aprendam com alegria, e não com tristeza nem com desdém, o que se refere a seus antepassados. Porque para este fim escrevemos estas coisas: para que tenham conhecimento de que sabíamos de Cristo e tínhamos esperança em sua glória muitos séculos antes de sua vinda; e não somente nós tínhamos esperança em sua glória, mas também todos os santos profetas que viveram antes de nós” (Jacó 4:3-4).
Esta declaração de intenção específica é então ilustrada pela magnífica alegoria em Jacó, capítulo 5, e o resumo da mesma no capítulo 6, especificamente de que Deus irá se lembrar da casa de Israel e Seu convênio com eles, exortando-os a se “arrepend[er] e . . . [se] apeg[ar] a Deus de todo o coração” e não “[rejeitar] todas as palavras que foram ditas sobre Cristo” (Jacó 6:5, 8), as quais ele e Néfi haviam sido tão cuidadosos em escrever e preservar.
Cumprimento das Intenções dos Autores do Livro de Mórmon
Na sinopse de Mórmon sobre os ensinamentos e experiências de Alma, o seguinte resumo daquilo que as placas haviam realizado até então, ilustra o cumprimento de suas intenções. Se mudarmos o tempo verbal do passado para o presente ou futuro, estas verdades também podem ser consideradas como uma declaração de propósito.
“E eis que foi pela sabedoria de Deus que estas coisas foram preservadas; pois eis que elas [as placas]
- “ampliaram a memória deste povo, sim, e
- “convenceram a muitos do erro de seus caminhos,
- “levando-os a conhecer o seu Deus para a salvação de suas almas.
- “Sim, eu te digo que, se não fosse pelas coisas que estes registros contêm, que estão nestas placas, Amon e seus irmãos não poderiam ter convencido tantos milhares de lamanitas dos erros das tradições de seus pais; sim, estes registros e suas palavras fizeram com que eles se arrependessem; isto é, por eles foram levados a conhecer o Senhor seu Deus e a regozijarem-se em Jesus Cristo, seu Redentor” (Alma 37:8-9).
Este trabalho de significância superna oferece um testemunho convincente de que Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, que manifesta a Si mesmo para todos aqueles que se arrependem e vêm até Ele, especialmente a posteridade de Leí, que Deus ama – o povo do Seu convênio, os filhos de Israel.
Uma Declaração do Propósito de Doutrina e Convênios
A seguinte declaração aparece em uma revelação ao Profeta Joseph Smith em 1828. Observem o paralelo que ela estabelece com a página de rosto e as visões de Leí e Néfi. Novamente, enfatizo as palavras introdutórias fim e para que, as quais estabelecem a intenção:
E para este fim específico as placas que contêm esses registros foram preservadas
- “para que se cumprissem as promessas do Senhor a seu povo; E
- “para que os lamanitas tivessem conhecimento de seus antepassados e
- “[para que]conhecessem as promessas do Senhor e
- “[para que] cressem no evangelho e confiassem nos méritos de Jesus Cristo e fossem glorificados pela fé em seu nome; e
- “para que, pelo seu arrependimento, fossem salvos” (D&C 3:19-20; ênfase acrescentada).
Uma Declaração do Propósito do Livro de Éter
Quando Morôni incluiu sua sinopse das placas de Éter, ele inseriu esta curta declaração de propósito:
“Portanto eu, Morôni, tenho ordem de escrever estas coisas
- “para que o mal seja reprimido e
- “para que chegue o tempo em que Satanás já não tenha poder sobre o coração dos filhos dos homens, mas
- “[para] que eles sejam persuadidos a fazer o bem continuamente,
- “para que cheguem à fonte de toda retidão e sejam salvos” (Éter 8:26; ênfase acrescentada).
Observem como o quarto propósito acima estabelece um paralelo com as palavras de Leí e Néfi no sonho da árvore da vida, segundo o ilustrado na metáfora de se vir à fonte de toda retidão e de ser salvo (veja1 Néfi 8:15–16, 30; 11:25).
Comparação das Declarações dos Propósitos de Mórmon e Morôni
Os filhos aprendem de seus pais, tanto por palavras como por obras. Morôni certamente aprendeu muito de seu pai, Mórmon, como veremos ao compararmos as três declarações de propósito, duas de Mórmon e a página de rosto escrita por Morôni.
Observem a ênfase no trono do julgamento em Mórmon 3 e na página de rosto e, conforme declarado anteriormente, a função do Livro de Mórmon é para preparar-nos para o julgamento.
Declaração do Propósito de Mórmon no. 1 | Declaração do Propósito de Mórmon no. 2 | Página de rosto (Declaração do Propósito de Morôni) |
Portanto eu vos escrevo, gentios, e também a vós, casa de Israel... Sim, eis que escrevo a todos os confins da Terra... E escrevo também aos remanescentes deste povo . . .portanto escrevo a todos vós. E por esta razão vos escrevo, para que saibais que deveis todos comparecer ante o tribunal de Cristo; . . . e deveis comparecer para serdes julgados por vossas obras, sejam elas boas ou más. E também para que acrediteis no evangelho de Jesus Cristo, que tereis no meio de vós; E também para que os judeus, o povo do convênio do Senhor, tenham outra testemunha, além daquele a quem viram e ouviram, de que Jesus, a quem mataram, era o próprio Cristo e o próprio Deus. E quisera persuadir todos vós, confins da Terra, a vos arrependerdes e a vos preparardes para comparecer perante o tribunal de Cristo. (Mórmon 3:17-22) | Ora, estas coisas são escritas para os remanescentes da casa de Jacó; . . . E eis que elas irão aos judeus incrédulos; Para que sejam persuadidos de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo; para que o Pai realize, por meio de seu mui Amado, o seu grande e eterno propósito de restituir aos judeus, ou a toda a casa de Israel, a terra de sua herança, que o Senhor seu Deus lhes deu em cumprimento de seu convênio. E também para que a semente deste povo possa mais plenamente acreditar em seu evangelho. (Mórmon 5:12, 14-15) | Escrito aos lamanitas, que são um remanescente da casa de Israel; e também aos judeus e aos gentios... Destina-se a mostrar aos remanescentes da casa de Israel as grandes coisas que o Senhor fez por seus antepassados; e para que possam conhecer os convênios do Senhor e saibam que não foram rejeitados para sempre – E também para convencer os judeus e os gentios de que Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, que se manifesta a todas as nações. . . . Não condeneis portanto as coisas de Deus, para que sejais declarados sem mancha no tribunal de Cristo. (Página de Rosto) |
A Declaração de Propósito Final de Mórmon
Conforme observado nos paralelos acima (Mórmon 3:17-22; Mórmon 5:12, 14-15; e a página de rosto), Mórmon claramente compreendeu os propósitos tencionados do Livro de Mórmon. E se olharmos para a cronologia dos escritos de Mórmon, parece-nos que no capítulo 7 de Mórmon está sua mensagem final. (Morôni concluiu as placas e inseriu duas epístolas de seu pai em Morôni 8 e 9, as quais foram provavelmente escritas anteriormente em seu ministério, fazendo com que o capítulo 7 de Mórmon fosse a sua última mensagem nas placas.) A esperança final e conselho de Mórmon são para que os remanescentes de seu povo no Livro de Mórmon, conheçam o seguinte:
- As coisas de seus pais (v.1);
- Que eles são da casa de Israel (v. 2);
- O que eles devem saber para serem salvos (v. 3-4);
- Que eles devem conhecer seus pais (v.5);
- Que eles devem crer em Jesus Cristo e em Sua missão, Expiação e Ressurreição e que haverá um julgamento final (v. 5-6);
- Que aqueles que crerem no Livro de Mórmon crerão na Bíblia e vice versa (v. 9);
- Que eles são a semente de Jacó (Israel) e que se eles crerem em Jesus Cristo, se arrependerem, forem batizados e receberem o Espírito Santo, tudo sairá bem com eles no dia do julgamento (v.10).
Declarações de Propósito Finais de Morôni
Morôni recebeu os registros de seu pai, Mórmon, e então acrescentou suas palavras (veja Mórmon 8-9, Morôni 1-10, e partes de Éter). Morôni disse que “meu pai fez este registro e nele escreveu o seu objetivo” (Mórmon 8:5, veja 3:20-22, 5:14-15; e 7). Morôni resumiu as intenções de seu pai dizendo que ele esperava que o registro ajudasse seus autores a “livr[ar] nossas vestes do sangue de nossos irmãos” (Mórmon 9:35), e que estes irmãos seriam restaurados ao conhecimento de Jesus Cristo e que Deus, o Pai, iria “se lembr[ar] do convênio que fez com a casa de Israel” (Mórmon 9:37).
Continuo a me maravilhar com os paralelos precisos encontrados em todas estas declarações de propósito, todas elas tão lindamente resumidas na página de rosto de Livro de Mórmon.
Além da página de rosto, o capítulo conclusivo do Livro de Mórmon, Morôni 10, contém oito verdades relacionadas a todas estas declarações de propósito. Cada verdade começa com uma exortação.
- “Eis que desejo exortar-vos, [...] a vos lembrardes de quão misericordioso tem sido o Senhor [...] e a meditardes sobre isto em vosso coração” (v. 3).
- “Eu vos exorto a perguntardes a Deus, o Pai Eterno, em nome de Cristo, se estas coisas não são verdadeiras” (v. 4).
- “Eu vos exorto a não negardes o poder de Deus” (v. 7).
- “E novamente vos exorto, meus irmãos, a não negardes os dons de Deus” (v. 8).
- “E eu desejaria exortar-vos [...] a vos lembrardes de que toda boa dádiva vem de Cristo” (v. 18).
- “E desejaria exortar-vos, [...] a vos lembrardes de que ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre” (v. 19).
- “E exorto-vos a que recordeis estas coisas” (v. 27).
- “E novamente desejo exortar-vos a virdes a Cristo” (v. 30).
As duas últimas exortações focalizam “[n]estas coisas” e em Jesus Cristo. “Estas coisas” referem-se aos registros escritos e, as exortações de Morôni, estabelecem um paralelo com as de Néfi: haverá um julgamento final e veremos a Néfi e a Morôni para assegurar-nos uma responsabilidade em relação àquilo que fizemos com os registros (veja 2 Néfi 33:10-15). Finalmente, Morôni nos convida a virmos a Cristo e sermos aperfeiçoados Nele (veja Morôni 10:30, 32). Assim terminam as placas maiores, com este convite inspirador centralizado em Cristo.
Mas e o fim das placas menores? Não é nenhuma surpresa que as placas menores, aqueles escritos magníficos que Néfi começou e que Amaléqui concluiu, estabelecem um paralelo com as exortações de Morôni: “Entregar-lhe-ei portanto estas placas, exortando todos os homens a virem a Deus, o Santo de Israel, e a acreditarem em profecias e em revelações e no ministério de anjos; e no dom de línguas e no dom de interpretação de línguas e em todas as coisas que são boas; pois nada há, que seja bom, que não venha do Senhor; e o que é mau vem do diabo. E agora, meus queridos irmãos, quisera que viésseis a Cristo, que é o Santo de Israel, e participásseis de sua salvação e do poder de sua redenção. Sim, vinde a ele e ofertai-lhe toda a vossa alma, como dádiva; e continuai em jejum e oração, perseverando até o fim; e assim como vive o Senhor, sereis salvos” (Ômni 1:25-26; ênfase acrescentada).
O Profeta Joseph Smith traduziu as placas menores e maiores pelo dom e poder de Deus e declarou ao mundo que “o Livro de Mórmon era o mais correto de todos os livros da Terra e a pedra fundamental de nossa religião; e que um homem poderá se aproximar mais de Deus observando os seus preceitos do que pelos de qualquer outro livro.” [3]
Esta corajosa declaração adquire um significado ainda maior quando é colocada em harmonia com os propósitos declarados do Livro de Mórmon.
Notas
[1] Um resumo desses convênios que Deus fez com Abraão é que Jesus Cristo nasceria da linhagem de Abraão, que a posteridade de Abraão seria mais numerosa que as estrelas ou a areia do mar, que sua posteridade abençoaria todas as nações e, finalmente, que lhes foi prometida uma terra de herança (veja Gênesis 17; 22; Abraão 2:6–11; Bible Dictionary [Dicionário da Bíblia], “Abraham” and “Abraham, Covenant of” [“Abraão” e “Abraão, Convênio de”], 601–2).
[2] Veja também o excelente artigo de Andrew C. Skinner, “The Foundational Doctrine of 1 Nephi 11–14” [“A Doutrina Fundacional de 1 Néfi 11–14”], Religious Educator [Educador Religioso] 2, no. 2 (2001): 139–55.
[3] History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [História d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), ed. B. H. Roberts, 2a. ed. rev. (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1957), 4:461.