Noivar-se ou empenhar-se, eis a questão

Kathy Kipp Clayton

Kathy Kipp Clayton, “Noivar-se ou empenhar-se, eis a questão,” in Richard Neitzel Holzapfel and Paulo Renato Grahl, eds., Buscai Diligentemente: Seleções de “o Educador Religioso, trans. Roydon Olsen and Vanessa Fitzgibbon (Provo, UT: Religious Studies Center, 2010), 264–272.

Kathy Kipp Clayton (kathykippclayton@yahoo.com) é membro da junta de consultores do Religious Studies Center [Centro de Esudos Religiosos da BYU].

Não fui criada num lar em que havia o evangelho, mas devido a minha professora da Organização das Moças recebi um testemunho pessoal da realidade do amor que o Salvador tem para mim. Minha professora não morava dentro dos limites de minha ala e eu nunca assisti a uma de sua aulas formais, mas mesmo assim foi minha professora. Esta professora discursava em seguidamente nas aulas da região e ela sempre me convidava para ser um de seus recursos visuais. Depois que ela acabava de dar instruções importantes para a congregação, convidava-me para cantar “Eu Sei que Vive Meu Senhor” para ilustrar os princípios que acabava de ensinar. Eu me sentia honrada com tal convite e sempre procurava cantar de todo o coração para agradar ao meu mentor, mas algo bem mais importante aconteceu durante este processo. Ao cantar a letra, eu cheguei a saber, mas saber mesmo, que o que eu cantava era verdade. Eu sabia que ele realmente vivia e me amava até o final. Eu sabia que ele realmente era meu amigo celestial “bondoso e sábio.” [1] Eu sabia que ao esforçar-me para cantar a contento, conforme o talento jovem que eu tinha, o poder do céu havia gravado no meu âmago a realidade das coisas de que eu cantava.

Naquele ano na orientação para os novos estudantes da BYU, um apresentador muito animado começou por dizer aos calouros que havia muitos mitos na BYU. Ele nos garantiu que alguns deles eram verdídicos, inclusive o fato de muitos estudantes se engage [Nesta altura todos pensavam que ela queria dizer noivarem-se]. “De fato,” ela prosseguia, “Já me ‘noivei’ muitas vezes. Minha meta é a de ‘noivar-me’ pelo menos cinco vezes ao semestre.” Os calouros estavam de olhos esbugalhados e rindo. Ela continuou: “Sugiro que vocês liguem para seus pais logo no fim do semestre, ou até no fim desta aula, para dizer-lhes que vocês estão engaged [noivos ou empenhados?].” Esta palestra não se tratava de casamento e sim de dedicação ao aprendizado. Meu papel de recurso visual não era fundamental para o sucesso das apresentações da minha professora, porém empenhar-me em aprender era fundamental para que o coração meu fosse transformado.

O objetivo do envolvimento do estudante pode ser ilustrado por uma lição sobre uma maçã. Um professor que quer que seus alunos aprendam sobre a maçã pode simplesmente ficar diante deles e oferecer uma apresentação bem-pesquisada e cuidadosamente preparada para documentar as características de uma maçã. Provavelmente, os alunos sairão da aula com mais informações do que antes tinham. Ele também pode mostrar uma imagem de uma maçã. Os alunos certamente aprenderão ainda mais por terem se envolvido visualmente com o assunto. O professor pode aumentar mais a conexão sensorial por levar uma maçã real para a aula para os alunos verem, sentirem, cheirarem e apalparem. Mas a melhor abordagem de todas para o professor que espera fazer uma impressão duradoura em seus alunos poderá levar para a classe vários tipos diferentes de maçãs e deixar os alunos provarem as maçãs. Esses estudantes totalmente envolvidos sairão da sala de aula sabendo do assunto pessoalmente porque foram convidados a conhecer o assunto pessolamente.

As pesquisas psicológicas mostram que as pessoas tendem a aprender a pensar depois de fazer, ao invés de pensar para poder fazer. Ou seja, se sorrirmos, seremos mais felizes; se assobiarmos uma música alegre, teremos menos medo e se contarmos as bênçãos, sentiremos mais gratidão. Ou, conforme ensinou o Profeta Joseph Smith: “A fé é um princípio de ação.” [2] Receberemos um testemunho da verdade e cresceremos na fé à medida que vivermos o evangelho. Aprender e aperfeiçoar-se ocorrem de forma melhor quando fazemos as coisas, porque “se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo” (João 7:17). Eu cantava “Eu Sei que Vive Meu Senhor” e ao cantar aquelas palavras, sua veracidade se tornou meu testemunho pessoal. A mensagem se tornou minha própria mensagem a partir do momento em que eu fiz algo com ela. O ato de eu fazer concedeu ao Espírito a oportunidade de selá-la no meu coração e ajudou-me a saber e recordar.

Uma professor atencioso que incentivou o empenho do aluno compreendia a diferença entre o impacto passivo e ativo na sala de aula. Ele planejou suas aulas para serem mais ateliês de trabalhos práticos do que simples apresentações do professor. Para seus alunos de onze anos de idade conhecerem o sacerdócio, ao invés de dar lições aos jovens inquietos sobre os direitos e a importância da ordenação que estavam prestes a receber, ele acompanhou-os a uma pia batismal vazia e convidou-os para entrar lá dentro e ler as escrituras que contêm o convênio batismal. Juntos, eles refletiram nos detalhes de seu próprio batismo. De lá, este grupo empenhado foi à mesa do sacramento, onde leram e discutiram as escrituras relevantes ao sacramento, incluindo a oração sacramental. Eles caminharam até o escritório do bispo, onde cada um obteve um formulário de doação e começou a preenchê-lo. Eles discutiram juntos a importância dessas doações e como elas são usadas para ajudar os necessitados. Concluíram a atividade na presença de dois missionários que compartilharam histórias de experiências espirituais provenientes de seu serviço missionário. Aos alunos de onze anos de idade foi permitido fazerem perguntas, bem como examinar a agenda dos Élderes, o manual Pregar Meu Evangelho e as plaquetas. Ao final da aula participativa, aqueles jovens entenderam mais profundamente e pessoalmente o sacerdócio porque tinham estado em locais e visto práticas relativos ao sacerdócio de uma forma activa e multisensorial.

Jogos interativos também podem ser meios eficazes e gratificantes de envolver o aluno no aprendizado. Os escoteiros-mirins tem um ditado: “Não compliquem as coisas e divirtam-se.” Não deixa de ser uma diretriz valiosa. The Big Book of Team Building Games [O Grande Livro de Jogos para Unificar o Time] de John Newstrom e Edward Scannell sugere que jogos bem-pensados na sala de aula podem ser úteis em esclarecer e fazer memoráveis certos ensinamentos, aumentar a moral, incentivar a confiança mútua entre os membros da classe ao compartilharem entendimento e desenvolverem soluções em comum, promover flexibilidade e reforçar um comportamneto apropriado no que diz respeito a cooperar, prestar atenção e pensar de forma criativa. Os jogos também são econômicos, participativos e de pouco risco. Certo professor descobriu num dos primeiros dias de aula de seminário de manhã cedo que o jogo “Conhecê-los,” uma forma de bingo, ajudou a integrar e estabelecer um vínculo entre estudantes de cinco colégios diferentes. Devido a esta aproximação, dois alunos, uma moça e um rapaz surdo de colégios diferentes que estavam habilitados em mergulho, se tornaram amigos. Através do jogo souberam que tinham algo em comum em vez de encararem-se como sendo diferentes.

Num acampamento da Organização das Moças de certa estaca, as moças de cinco alas diferentes se uniram numa colaboração brincalhona em que tinham que trabalhar juntas para desatarem o nó humano em que se achavam emaranhadas. Elas conversaram e fizeram estratégias e então baixaram, subiram e se entorteceram num esforço pouco perigoso de formar um círculo simples. Ao fazê-lo aprenderam lições importantes sobre a cooperação, comunicação, tentativa e erro, e perseverança. Também aprenderam a apreciar os vários talentos e conhecimentos de moças que ainda não conheciam. Aquele jogo simples, sem custo nenhum, proporcionou uma maneira interativa, divertida e rápida de promover amizadade entre as moças sem terem que passar por uma palestra enfadonha e severa sobre o assunto.

Embora os jogos tenham uma utilidade ampla e atraente, é importante lembrarmo-nos de vários perigos potenciais: Estejam bem preparados com todos os acessórios necessários, controlem o tempo cuidadosamente, escolham os jogos nos quais possam avançar e fortalecer a aprendizagem sem se tornarem um objetivo em si mesmos e evitem imagens exageradas que possam ser perturbadoras e desviar os alunos de temas sagrados. Por exemplo, de vez em quando, os líderes convidam os jovens para preparar esquetes extemporâneos, usando temas do evangelho. Quando os jovens respondem com apresentações bobas sobre assuntos sagrados, como a moralidade ou a oração, as sátiras podem rapidamente tornar-se irreverentes.

A aprendizagem envolvente serve bem para atingir os alunos de atenção curta. Uma nova professora muito capaz, porém muito frustrada, da Escola Dominical saiu no primeiro domingo de sua classe nova de adolescentes animados pronta para fazer uma entrevista com o bispo para pedir sua desobrigação. Apesar da ampla preparação da professora, aqueles jovens agitados tinham perdido a atenção em poucos minutos depois do início da apresentação da professora. Ansiosa para se redimir, aquela professora fiel voltou na próxima semana com uma nova estratégia. Ela preparou sua lição em três segmentos de dez minutos cada intitulados “introdução, exposição e aplicação.” A seção de “introdução” consistia em uma atividade para chamar a atenção dos alunos, sendo uma atividade que poderia ser até tão simples como um desenho, um objeto, uma pergunta instigadora ou uma provinha. Na seção de “exposição” os alunos passavam da fase inicial de captar sua atenção para os conceitos que ela pretendia ensinar. Essa seção pode incluir a leitura de escrituras cuidadosamente selecionadas, uma narração ou uma apresentação bem compreensível de um ponto doutrinário. A seção final, “aplicação,” incluia a resposta à velha pergunta tão importante para os adolescentes: “E daí?” Durante esse segmento, a professora ajudava os alunos a aplicar o princípio a sua própria vida. Às vezes ela começava esse processo importante através da partilha de uma história de sua vida pessoal. De vez em quando ela jogava um pufe e perguntava ao aluno que o apanhou: “E daí?” Ela sempre fazia perguntas cuidadosamente preparadas, não ameaçadoras e abertas para estimular o pensamento e a aplicação pessoal. No decorrer de uma aula de trinta minutos, a professora geralmente fazia o ciclo de “introduçao, exposição e aplicação” até três vezes.

Numa comunidade de alunos empenhados incluem-se festas de celebração um do outro, celebração do assunto, e celebração da própria aprendizagem. Infelizmente muitas vezes nós separamos o trabalho do lazer como se fossem mutuamente excludentes, quando na realidade o trabalho envolvente se trata de uma das formas de aprendizado mais satisfatórias e divertidas. Em seu livro Happier [Mais Feliz], Tal Ben-Shahar sugere que um professor habilidoso pode “criar ambientes em casa e na escola que conduzem à alegria, ao significado e às experiências benéficas do presente e do futuro.” [3] Especialmente quando se entra no estudo sério do evangelho, a essência do qual se chama, apropriadamente, “o plano de felicidade,” os alunos devem encontrar felicidade, satisfação e até diversão.

Um saudoso professor brilhante e divertido de seminário de manhã cedo organizou nas aulas um programa de prêmios anuais “Vovozinha” que se realizava toda primavera e que se assemelhava aos prêmios “Grammy (palavra inglesa parecida com granny [vovozinha]).” Durante vários meses antes da festa, ela servia a sua família panquecas e waffles diariamente, sufocando os com o tal xarope Mrs. Butterworth’s [uma marca norteamericana de xarope que vem em vazilhas em forma de uma vovozinha], guardando as garrafas plásticas vazias para pintá-las com tinta dourada e usá-las como prêmios na festa do seminário. Os estudantes nomeavam personagens da obra-padrão que vinham estudando ao longo do ano e então apresentavam para a classe suas razões por que o personagem bíblico merecia ser premiado com o “Vovozinha” para “melhor atriz/ator”, ou “melhor coadjuvante”, ou porque tal história bíblica merecia o prémio de “melhor roteiro” ou “melhor história.” A classe votava para identificar os vencedores, após o qual o aluno que fez a nomeação aceitava o frasco de xarope de ouro. A celebração anual servia de revisão, envolvia os alunos inquietos e promovia uma comunidade de aprendizagem envolvente.

A aprendizagem activa também atende às necessidades de alunos com diferentes estilos de aprendizagem. Como alguém que aprende do lado esquerdo do cérebro e que é um clássico pensador linear, eu gosto de palestras e encontro prazer em planilhas. A escolaridade tradicional com sua rigidez é perfeita para mim. Mesas em linhas puras e pastas com divisões para cada máteria me agradam. Cada vez mais, no entanto, nossas salas de aula estão repletas de alunos que aprendem de forma diferente. Esforços para envolver os alunos com estratégias criativas e diversificadas são essenciais para os alunos não-lineares e para refrescar o resto.

Um judeu convertido à Igreja encantou seus alunos, proporcionando-lhes uma autêntica festa de Páscoa para familiarizá-los com os símbolos desse evento. Os alunos tiveram uma experiência multisensorial com ervas amargas que lhes permitiram compreender e literalmente sentir o gosto da amargura.

Outro professor recorreu para o estilo de aprendizagem de sua classe, criando rimas simples e frases musicais de cada um dos versículos bíblicos a serem decorados. Os alunos sempre saberão onde encontrar a história de José, fugindo da tentação. Quem poderia esquecer “Gênesis 39 lembrar, a mente suja da mulher de Potifar”?

Os estudantes que aprendem através de atividade física se alegraram na aula de seminário quando o professor os convidou para chegar ao quadro em grupos de seis até que todos tiveram sua vez. Depois de ter lido uma passagem bíblica, pediu-se-lhes que escrevessem uma única palavra ou frase em resposta a uma pergunta como: “Que qualidade você admira em tal personagem?” ou “Qual é o tema mais importante desta passagem?” ou “ O que você mais admira no seu pai / mãe / bispo?” Quando todo o quadro ficou preenchido, a classe leu e discutiu os resultados de seus esforços em conjunto.

Um inesquecível professor da Escola Dominical se estendeu para além dos limites normais de uma apresentação formal, fazendo atividades criativas e imprevisíveis de “introdução.” Por exemplo, para familiarizar a classe com os elementos do sonho de Daniel, ele trouxe para a sala da Sociedade de Socorro um modelo grande de plástico do gigante dos pneus Michelin com todas as partes daquele corpo inchado marcadas com pincel para representar os vários reinos que seriam destruídos pela pedra cortada da montanha sem mãos. Em outro domingo, a classe começou quando um homem tocando música ruidosa começou a marchar pelo corredor tocando muito alto uma música estridente no seu instrumento irritante. O professor envolveu o músico em uma entrevista em que soube que este estava para pagar o dízimo e queria ter certeza de receber o crédito e devidos elogios por sua boa ação. Depois da atividade de “intrudução envolvente,” o professor voltou para a classe e entrou na parte de “exposição,” uma palestra baseada no livro de Mateus a respeito de não dar esmolas “para serem vistos pelos homens.”

Csikszentmihalyi, em seu livro Finding Flow: The Psychology of Engagement with Everyday Life [Achar Fluxo: a psicologia de envolvimento com a vida cotidiana], escreveu: “Nem os pais nem as escolas são muito eficazes em ensinar os jovens a encontrar prazer nas coisas certas. Os adultos, eles próprios muitas vezes iludidos pela paixão por modelos fátuos, conspiram no engano. Eles fazem as tarefas sérias parecerem chatas e difíceis, e o frívolo emocionante e fácil. As escolas geralmente não ensinam quão emocionante, fascinante e bonita a ciência ou a matemática podem ser; eles ensinam só a rotina da literatura ou da história e não a aventura.” [4]

Quão fascinante e bonito é o evangelho em comparação com a ciência e a matemática! Com um empenho criativo os alunos podem saborear os frutos de um aprendizado ativo, e às vezes até uma fruta mesmo. A fé é um princípio de ação. À medida que os professores facilitarem um envolvimento autêntico e ativo para os alunos, estes descobrirão que a aprendizagem é tão gostosa como uma maçã madura, tão saudosa como uma canção preferida e tão pessoal como uma visita à pia batismal. Através de seu comportamento chegarão a entender e daí terão a felicidade de empenharem-se muitas vezes mais.

Notas

[1] “I Know That My Redeemer Lives [Eu Sei que Vive Meu Senhor],” Hymns (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1985), no. 136.

[2] Joseph Smith, Lectures on Faith: Delivered to the School of the Prophets in Kirtland, Ohio, 1834–35 (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), 1:9.

[3] Tal Ben-Shahar, Happier (New York: McGraw-Hill, 2007), 86.

[4] Mihaly Csikszentmihalyi, quoted in Ben-Shahar, Happier, 94.