A Jornada do Eterno Aprendizado

Robert D. Hales

Robert D. Hales, “A Jornada do Eterno Aprendizado,” in Richard Neitzel Holzapfel and Paulo Renato Grahl, eds., Buscai Diligentemente: Seleções de “o Educador Religioso, trans. Roydon Olsen and Vanessa Fitzgibbon (Provo, UT: Religious Studies Center, 2010), 1–15.

O Élder Robert D. Hales é membro do Quórum dos Doze Apóstolos.

Este discurso foi proferdio em 19 de agosto de 2008, durante a Education Week da BYU.

Hoje nesta reunião de devoção sinto-me honrado em discursar àqueles que se dedicaram ao aprendizado por toda a vida.

Nossa busca de conhecimento e nossa jornada de progresso eterno se iniciaram muito antes de nossa existência terrena. Recebemos o pleno conhecimento de que durante o Conselho nos Céus todos nós utilizamos o arbítrio, optando por vir à Terra e por participar da vida terrena. Ao escolhermos a opção de vir à Terra, escolhemos a oportunidade de progredir, crescer e adquirir mais conhecimento. É justamente no processo de vir à Terra e tomar sobre nós um corpo físico, para adquirirmos conhecimento e experiência de vida, que se acha uma das partes essenciais do nosso progresso eterno, a do aprendizado contínuo.

O tema de eterno aprendizado é importante porque para nós, os Santos dos Últimos Dias, a busca, durante a vida toda, de conhecimento se trata de uma atividade não só temporal como também espiritual. Compreendemos que adquirir conhecimento é indispensável em alcançarmos a salvação eterna. Brigham Young disse: “Se nossa vida fosse prolongada até mais mil anos, mesmo assim haveria o que viver e aprender.” [1]

É verdade o velho ditado: “Não se pode levar os bens para o outro mundo,” no que diz respeito à maioria das posses temporais e mundanas. Porém, há tesouros intelectuais de conhecimento e de valores espirituais que nos prometem um benefício eterno. Lemos no livro de Doutrina e Convênios: “Qualquer princípio de inteligência que alcançarmos nesta vida, surgirá conosco na ressurreição. E se nesta vida uma pessoa, por sua diligência e obediência, adquirir mais conhecimento e inteligência do que outra, ela terá tanto mais vantagem no mundo futuro” (D&C 130:18–19).

Então, embora esta vida mortal seja um momentinho só em comparação com a eternidade, o aprendizado ao longo de nossa vida é uma parte fundamental da nossa educação eterna. Aqui na terra, como certa vez observou Brigham Young: “Nós estamos em uma grande escola.” [2]

Quando encaramos nosso aprendizado aqui na terra como parte de nossa educação eterna, estabelecemos metas mas elevadas de aprendizagem. Enquanto éramos crianças, talvez aprendêssemos porque nossos pais nos persuadiam ou nos lisonjeavam. Eles queriam que adquiríssemos uma educação formal ou com diploma de faculdade ou com perícia técnica, sabendo que ao fim dos estudos seríamos abençoados por sermos auto-suficientes, produtivos e capazes de sobreviver no mundo real. Alguns estudaram com diligência, sendo motivados pela competição de receber notas altas ou de receber outras honras.

Esta forma de motivação pode ter desempenhado um papel importante em diferentes épocas de nossa vida, mas se notas altas e honras dos homens forem nosso único incentivo, deixaremos de aprender depois que os pais e professores forem embora e depois de formados. Aqueles que aprendem ao longo da vida toda, são motivados por incentivos mais eternos. Um grande passo à frente em nosso amadurecimento e na aquisição de conhecimento e experiência se dá quando estudamos pelo prazer de sermos edificados em vez do prazer de sermos entretidos. O objetivo dos sábios que aprendem pela vida inteira não é o de impressionar os outros, e sim, o de melhorar-se e de ajudar os outros. Seu objetivo é aprender e modificar seu comportamento por meio de seguir os conselhos e exemplos bons que lhes foram compartilhados pelos grandes professores a seu redor.

Às vezes nosso aprendizado se torna limitado quando o encaramos como o estudo, uma por uma, de várias matérias ou talvez a formatura numa área de especialização. Mas ao estudarmos as escrituras, notamos que elas nos proporcionam um currículo para a vida toda: “Tanto as coisas do céu como da Terra e de debaixo da Terra; coisas que foram, coisas que são, coisas que logo hão de suceder; coisas que estão em casa, coisas que estão no estrangeiro; as guerras e as complexidades das nações e os julgamentos que estão sobre a terra; e também um conhecimento de países e reinos” (D&C 88:79).

O primeiro versículo do Livro de Mórmon consta: “Eu, Néfi, tendo nascido de bons pais, recebi, portanto, alguma instrução em todo o conhecimento de meu pai” (1 Néfi 1:1). Do mesmo modo que o campo de estudo de Néfi consistia em tudo que seu pai conhecia, os que estão à busca de maiores conhecimentos e aprendem pela vida inteira desconhecem divísas entre os ramos de estudo.

O estudioso que está sempre aprendendo tem um anseio insaciável de adquirir conhecimento de um âmplo leque de assuntos e disciplinas. Assim o prêmio dos que aprendem pela vida inteira é simplesmente a alegria de aprender e adquirir conhecimento de uma extensão grande de matérias que lhes interessam.

Alguns podem pensar: Será que é possível aprender a querer estudar ao longo da vida, ou será este desejo um mero dom genético. Da mesma forma que alguns nascem capazes de correr mais rápido, alguns podem ter, por natureza, um desejo maior de estudar. Mesmo assim, sabemos que um bom treinador pode ajudar um atleta que queira pagar o preço a melhorar de desempenho; e desta maneira nosso Pai Celeste está ansioso para abençoar aqueles que estiverem dispostos a pagar o preço com a determinação de estudar e aprender durante a vida toda.

Muitas vezes é preciso que haja um grande professor para nos motivar e inspirar. Como é que podemos aumentar nosso desejo e o desejo de outros de obter mais conhecimento ao longo de uma vida cheia de experiências de estudo e aprendizado?

Caraterísticas dos que Aprendem ao longo da Vida

É importante contemplar os atributos que se deve adquirir para se tornar um estudioso empenhado no eterno aprendizado. Umas das caraterísticas necessárias para se tornar uma pessoa que aprende sempre são: coragem, fiel desejo, humildade, paciência, curiosidade e uma disposição de comunicar e compartilhar a outros os conhecimentos que adquirirmos. Vamos dar uma pausa para refletir mais a fundo como cada uma dessas caraterísticas contribui à meta de aprender pelo resto da vida. Além disso, devemos estudar como poderemos inspirar os outors, especialmente nossos filhos, a querer estudar até o fim da vida.

Coragem. “Tende boa coragem, e ele fortalecerá o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor” (Salmos 31:24).

Os estudantes pertétuos têm a coragem de sobrepujar o medo de ultrapassar os limites dos estudos com que já estão acostumados, partindo para áreas desconhecidas e não habituais. As escrituras dizem: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de mente sã” (2 Timóteo 1:7).

Nós nos contentamos demais com o conforto do que já sabemos, nosso forte educacional, e evitamos o trabalho de nos fortalecermos nas áreas de fraqueza. Assim, nossos fortes podem se tornar nossas maiores fraquezas. Podemos permanecer na segurança do passado, sem ousar passar para o futuro por causa do medo da ignorância ou da falta de conhecimento sobre um assunto que possa nos interessar, mas que receamos estudar ou pesquisar. Temos que ter coragem para dar um passo de fé na assustadora terra do desconhecido, não sabendo quão profunda pode ser a caverna educacional em que estamos para entrar.

O temor só pode ser afastado conforme a quantidade de luz intelectual com que estamos dispostos a iluminar a escuridão do abismo educacional que forma uma lacuna no nosso entendimento. Temos que achar forças para irmos adiante—avante, irmãos! Lemos no livro de Doutrina e Convênios: “Esforçastes-vos para crer que receberíeis a bênção que vos fora oferecida; mas eis que em verdade vos digo que havia temores em vosso coração e, em verdade, esta é a razão por que não a recebestes” (D&C 67:3). Apesar de nosso temor, a coragem de adquirir novos conhecimentos é essencial à busca de conhecimento por parte de quem estuda pela vida inteira.

Desejo fiel. “Buscai diligentement e ensinai-vos uns aos outros palavras de sabedoria; nos melhores livros buscai sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118).

Logo entra o desejo fiel. O aprendizado vitalício é motivado pelo desejo desinteressado e insaciável dentro de si de adquirir, pela mera satisfação de alcançar e compartilhar (sem reconhimento ou recompensa pessoais) mais iluminação, um âmplo conhecimento relativo a muitas disciplinas. Muitas vezes o desejo de aprender mais é motivado pela necessidade que se percebe de ajudar os outros. Por exemplo, uma mãe preocupada com a falta de uma diagnose médica referente a um problema de saúde física ou mental de um familiar pode pesquisar livros e revistas do ramo para ajudar a achar uma solução.

Uma pessoa que busca entendimento pela vida inteira pode ter um desejo de se melhorar para poder desfrutar de uma vida mais feliz e mais benevolente. Os que aprendem pela vida inteira têm um desejo de adquirir conhecimentos que os ajudarão a ser melhores ajudadores(as), melhores mães, melhores pais, melhores cidadãos e melhores servos no reino do Senhor “para que [eles] possam aprender e glorificar o nome de [seu] Deus” (2 Néfi 6:4).

Humildade. “Que o que for ignoranate adquira sabedoria, humilhando-se e invocando o Senhor seu Deus a fim de que seus olhos sejam abertos para que ele veja e seus ouvidos, abertos para que ele ouça” (D&C 136:32).

A próxima caraterística é a de humildade. Os que dedicam a vida ao estudo reconhecem que recebemos o dom de conhecimento de Deus. “Sim, aquele que verdadeiramente se humilhar e arrepender-se de seus pecados . . . , esse será abençoado” (Alma 32:15).

Devido ao fato dos estudantes assíduos reconhecerem que a inteligência é um dom de Deus, eles não gostam de mostrar-se nem se tornam orgulhosos em relação a seu quociente de inteligência e de seus feitos pessoais. Cada nova descoberta de conhecimento é medida, uma por uma, das alturas do jeito e na hora que Deus decidir, “linha sobre linha, preceito sobre preceito” (2 Néfi 28:30).

Quando somos verdadeiramente humildes, lembramo-nos de que o conhecimento e a sabedoria nos são dados pelo Senhor e que devemos usar aquele conhecimento e sabedoria para elevar e fortalecer os outros: “A cada homem é dado um dom pelo Espírito de Deus. A alguns é dado um, a outros é dado outro, para que desse modo todos sejam beneficiados” (D&C 46:11–12). Adquirimos conhecimento para melhor servir.

Paciência. “Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude e à ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade” (2 Pedro 1:5–6).

Na sua busca de entendimento, os estudantes que perduram até o fim alcançam um nível superior de paciência. Eles compreendem que sua busca diligente de aprendizagem leva uma quantia grande de energia e muito tempo para achar o conhecimento puro.

Que bela sensação! Os irmãos já procuraram algo—buscaram, contemplaram e oraram—até que finalmente a resposta apareceu em frente de si? Às vezes o que aprendemos hoje pode não parecer importante ate´ meses, ou até anos, depois. Além de aprender, ponderamos sobre o conhecimento para que no lugar certo, na hora certa, possamos aplicá-lo da melhor forma possível.

Curiosidade. “Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura” (Eclesiastes 7:25).

O próximo atributo é a curiosidade. Minha irmã sempre me dizia: A curiosidade é que matou o gato, mas a satisfação de aprender o ressuscitou.”

Os que estudam a vida interia já de natureza são curiosos. Quando crianças, nossa curiosidade é instintiva, mas a instrução formal é mais restritiva e sistemática. O estudante sério desenvolve técnicas próprias de aprendizagem que ultrapassam o que se aprende na escola. Um aspecto chave é que ele nunca perde a curiosidade inerente que Deus lhe deu. São detetives, os que estudam a vida toda, à imagem de Sherlock Holmes, que resolvem os casos por juntar os fatos que colheram. O método deles é perguntar “por que” e depois achar a resposta. A emoção de investigar e pesquisar um novo conceito, ou de descobrir uma solução antes desconhecida, é algo que nos proporciona momentos de alegira e satisfação.

Os que se dedicam ao eterno aprendizado aprendem “linha sobre linha” e “preceito sobre preceito,” mas também há momentos pessoais em que dizem “ah!” pela alegria de ver, de vez, o contexto total de um princípio. O que aprende deste jeito não desiste. Tomás Edison era um que aprendia ao longo de sua vida. Dizem que ele declarou: “Eu não fracassei—simplesmente descobri dez mil soluções que não funcionam.”

Comunicação. “Portanto aquele que prega e aquele que recebe se compreendem um ao outro e ambos são edificados e juntos se regozijam” (D&C 50:22).

São professores, no âmago, os estudantes do eterno aprendizado que se regozijam em comunicar entendimento e conhecimeto aos outros. Ao compartilharem seus conhecimentos, encontram alegria à medida que aqueles a quem ensinam se edificam e se fortalecem. Eles se comunicam com Deus através de oração para receber orientação e ilucidação. Comunicam-se com Deus para dar-lhe graças e exprimir gratidão pelos conhecimentos que receberam. Comunicam-se com outros estudiosos, escutando com intensidade num intercâmbio de aprendizado que é de benefício mútuo.

Os grandes professores não só comunicam de forma excelente como também escutam com sinceridade. Ao comunicarmos, podemos aprender algo de cada indivíduo com que nos encontramos.

Os grandes professores produzem estudantes dedicados ao eterno aprendizado. Os grandes professores não dão todas as respostas aos alunos. Guiam os alunos à fonte de conhecimento e inspiram neles o desejo de tomar água da mesma. Os grandes professores motivam os alunos a buscar conhecimento.

Certo professor estava numa reunião em que o Presidente [Boyd K.] Packer havia entrado na fase de perguntas e respostas. Aquele perguntou ao Presidente Packer a respeito de seu ensino referente à expiação de Cristo. O que foi que o Élder Packer ensinava? O professor queria ouvir o testemunho do Presidente Packer e uma dissertação completa a respeito da expiação. Foi isso que se esperava do grande mestre. Não obstante, sua resposta proporcionou a todos uma lição acerca do eterno aprendizado. O Presidente Packer lhe respondeu: “Leia o Livro de Mórmon algumas vezes, procurando os ensinamentos sobre a expiação. Daí, escreva um resumo de uma página do que se aprendeu. Então, meu querido irmão, terá a resposta.”

O Estudo das Escrituras e o Eterno Aprendizado

O estudo das escrituras se trata de uma experiência sem fim de aprendizagem. Não há uma área de estudo em que haja uma necessidade mais óbvia do que o estudo das escrituras. Não importa que tenhamos lido as escrituras muitas vezes, pois, ao continuar a estudá-las, pelo poder e inspiração do Espírito Santo sempre aprenderemos novas verdades e receberemos conselhos e entendimento valiosos para enfrentar os desafios da vida. O Presidente Ezra Taft Benson ensinou: “A refeição de ontem não é suficiente para nos sustentar hoje. Tampouco é suficiente uma leitura infrequente do [Livro de Mórmon], ‘o livro mais correto na terra,’ conforme disse Joseph Smith.” [3]

Os propósitos principais de estudar as escrituras são: adquirirmos um entendimento do evangelho e fortalecermo-nos espiritualmente. Um dos motivos pelos quais precisamos banquetear-nos com as palavras de Cristo é que o entendimento do evangelho e a ilucidação espiritual, como todo aprendizado, nos vem preceito por preceito.

O estudo das escrituras é uma forma sui generis de aprendizagem. Requer que sejamos alfabetizados. O Rei Mosias ensinou seus filhos “em todo o indioma de seus pais, para que assim se tornassem homens de entendimento; e para que soubessem das profecias que haviam sido feitas pela boca de seus pais e que lhes foram entregues pela mão do Senhor” (Mosias 1:2).

Mosias não só ensinou seus filhos a lerem, para que fossem bem-sucedidos no mundo, como também os ensinou a ler para que se imergissem nas escrituras e se tornassem sábios quanto às coisas do espírito.

As placas de latão foram preservadas e levadas à terra da promissão a fim de que a família de Leí e seus descendentes não se esquecessem de quem eram, “um povo escolhido,” e se lembrassem de como deviam viver como filhos de Deus. É justamente por estes propósitos que as escrituras foram preservadas para nós neste momento em nossos dias.

Todavia, adquirir conhecimento por meio do estudo das escrituras requer certos atributos e ações que não são requeridos na maioria do cursos de estudo, a saber: um desejo sincero, fé inabalável, oração e a vontade e obediência de seguir os sussurros do Espírito. Quase todos os seres hunanos na terra, independente de sua capacidade intelectual, podem sentir a alegria e recompensa do eterno aprendizado do evangelho.

O estudo das escrituras não requer anos de instrução formal para adquirir um entendimento básico dos princípios essenciais do evangelho. Este fato foi ilustrado por Pedro e João no livro de Atos. Os líderes judaicos se surpreenderam. Achavam que um conhecimento do evangelho requeria um curso de treinamento formal e inclusivo. As escrituras nos dizem:: “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (Atos 4:13).

Pedro e João, iletrados e ignorantes aos olhos do mundo, adquiriam um grande conhecimento do evangoelo através de ouvir e obedecer às palavras do nosso Salvador. Isto tudo pode ser realidade para cada um de nós e para cada membro de nossa família. No estudo do evangelho, um mestrado em teologia é muito menos valioso do que o grau de conhecimento que podemos obter diretamente do próprio Mestre.

Um componente crucial à aquisição de conhecimento do Salvador é praticar os princípios que Ele nos ensinou. A fim de obtermos a maior ilucidicação que as escrituras nos oferecem, devemos focalizar nosso estudo nos princípios e doutrinas, em vez de nos lugares e nos nomes. Não são, simplesmente, fatos num livro que buscamos, e sim, entendimento que possa transformar nosso comportamento e fazer uma grande diferença em nossa vida. Devemos encarar as escrituras como aquilo que elas são: um manual de intruções para nos tornarmos como o Salvador é.

O estudo contínuo das escrituras se trata de uma busca sem fim de conhecimento e entendimento espirituais, como também do crescimento pessoal que ocorre quando aplicamos tal conhecimento em nossa vida. Posto que somos Santos dos Últimos Dias, compreendemos que é importante para nosso crescimento na vida terrena adquirir conhecimento espiritual, passar por experiências espirituais e desenvolver nossos dons e capacidades. Além disso, devemos desenvolver uma disposição espiritual em relação a Deus, nosso Pai, e seu Filho, Jesus Cristo, e cultivar as qualidades de fé e obediência que convidam o Espírito Santo para entrar em nossa vida. Também crescemos, em termos espirituais, quando servimos nosso próximo e cuidamos dele e do mundo ao nosso redor. Todos estes elementos do eterno aprendizado possuem consequências eternas e seu galardão é a essência de nossa meta nesta vida de obtermos qualidades espirituais e realizarmos atos benevolentes. O resultado mais importante de nosso estudo assíduo não se refletirá em notas nem diplomas nem honras dos homens, mas em quem nós seremos. Nossa meta é desenvolver valores morais eternos, tais como conhecimento, esperança, fé, caridade e amor. Esta é a busca de conhecimento mais importante para nós.

Estudarmos as escrituras nos ajuda a desenvolver e progredir individualmente. As escrituras são adaptadas, de forma sem igual, para o eterno aprendizado.

À medida que nossa capacidade intelectual, emocional e espiritual for crescendo, qualificamo-nos para receber nova ilucidação das escrituras. Quantas vezes os irmãos já pausaram e ponderam um trecho das escrituras que antes já haviam lido muitas vezes e, de repente, num momento revelador, uma nova consciência, um novo entendimento lhes veio à mente e ao coração, proporcionando novo conhecimento, conhecimento este que responde a uma pergunta, resolve um problema ou ajuda a enfrentar um dos desafios da vida. Isso, irmãos, é o meigo mistério do eterno aprendizado—um instante terno de um momento bem-aventurado na vida quando se presencia um grande passo para a frente em fé e entendimento.

É por este motivo que fazemos oração antes e depois do estudo das escrituras. A oração antes de estudar as escrituras é para nos preparar espiritualmente para termos momentos reveladores e elevação espiritual. A oração depois é para dar graças por aquilo que nos foi dado.

Jamais possuiremos conhecimento tão valioso como o conhecimento das verdades do evangelho restaurado de Jesus Cristo. Este conhecimento se encontra nas palavras de Deus tal qual se acham nas escrituras, nas mensagens dos profetas vivos e no templo. Na verdade, a investidura é o currículo eterno, pois nela se ensina de onde viemos e por que estamos aqui; além disso, recebemos a promessa de alcançar a vida eterna no reino celestial, se obedecermos aos mandamentos e aos convênios que tomamos sobre nós.

O Eterno Aprendizadoo—do Passado, do Presente e do Futuro

Junto com todas as caraterísticas de que já falamos, os estudantes que dedicam a vida ao aprendizado veem a conexão entre o que aprendemos no passado, o que estamos aprendendo agora e o que aprenderemos no futuro. Os estundantes assíduos aprendem de forma cumulativa. Eles juntam tudo que aprenderam para servir e nunca permanecerão no passado porque estão ansiosos para descobrir o que está no futuro. Sempre estarão dispostos a aprender novos conceitos, sendo dotados de mentes que diariamente procuram novos conhecimentos.

Os que se dedicam ao aprendizado pela vida inteira aprendem a fazer melhor que o melhor! Às vezes o nosso melhor não é suficiente. O desafio de fazer mais que o nosso melhor pode parecer ilógico, mas o progresso pessoal é isso aí! A realidade é que o nosso melhor de hoje não nos dará sucesso no mundo de amanhã.

Por exemplo, nos jogos olímpicos de 2004, o nadador americano Michael Phelps, de quem temos ouvido muito falar ultimamente, venceu a medalha de bronze no 200 metros livre (masculino) no tempo de um minuto e quarenta e cinco segundos. Há quatro anos atrás isso representava seu melhor. Mas ele sabia que para vencer a medalha de ouro neste evento em 2008 teria que fazer melhor do que seu melhor, de forma que começou a treinar para alcançar a nova meta. Milhões de pessoas tiveram a oportunidade de assistir à saga olímpica que desdobrou quando Phelps fez melhor que seu melhor prévio, estabelecendo um recorde de um minuto e quarenta e dois segundos ao ganhar a medalha de ouro. Em Beijing ele bateu seu próprio recorde por um segundo e ultrapassou por dez segundos o recorde de Mark Spitz de 1972. Imaginem quão rápido que é! De fato, o recorde dele é de um minuto a menos do que o tempo (dois minutos e quarenta e dois segundos) do nadador que ganhou a medalha de ouro neste evento nas Olimpíadas de 1904. Vejam só, hoje em dia leva um minuto para fazer duas voltas da piscina! Os nadadores de hoje chegam ao final duas voltas à frente do campeão de 1904. É notável que das medalhas de ouro de 2008 que Phelps ganhou, sete representam novos recordes mundiais, não só os recordes dele, mas recordes mundiais. A outra medalha, a oitava, representa um recorde olímpico. Os irmãos podem imaginar isso, fazer melhor que seu melhor? Que exemplo para nós!

A realidade é que se não aprimorarmos a cada dia nossos esforços e realizações, nosso melhor permanecerá no passado e não atenderá as exingências de amanhã. O princípio de fazer melhor do que o nosso melhor se aplica tanto às demandas temporais como espirituais em nossa vida ao passo que preparamos, fazemos convênios e preenchemos os requisitos da salvação eterna.

O poder e extensão do nosso aprendizado não se limita pela capacidade de nossa mente, e sim pelas limitações artificiais que impomos em nós mesmos e em nossa capacidade de aprender. Devemos aumentar a capacidade de nossa mente. Pensem só nas limitações do aprendizado antes que o computador se tornasse uma ferramenta universal para pesquisas, aprendizagem e comunicação pela Internet. É difícil nossos netinhos entenderem como éramos instruídos sem o computador (ou como vivíamos sem telefone celular e sem pizza como parte da cesta básica, a lista não tem fim).

Eu gostaria de compartilhar com os irmãos uma extraorinária experiência pessoal ao longo de mais de trinta anos que se vincula ao surgimento de tecnologia de informática e seus benefícios na área da pesquisa genealógica. Na década de 1970 presenciei uma apresentação do Élder Theodore H. Burton referente à ideia de utilizar o computador para fazer pesquisas genealógicas e armazenar os registors familiares. Ele ensinou e até proclamou de modo ousado que a tecnologia de computação foi dada ao homem para acelerar o trabalho do templo, genealogia e história familiar.

Naturalmente, ao fazer sua declaração inicial o Élder Burton encontrou dúvidas e reservas por parte de alguns: “Os computadores sempre serão grandes e caros demais para o uso pessoal.” “Nunca haverá membros da Igreja suficientes que tenham acesso a computadores.” “Tão poucos membros são capazes de operar um computador.” “São complicados demais os detalhes, explicações e estudos requisitos para compatibilizar os registros do templo com a pesquisa pessoal.” Todos estes recatos pareciam razoáveis na época, mas não levavam em conta o futuro do computador.

Hoje estamos embarcando numa nova era de tecnologia para a pesquisa da história familiar. Em breve haverá o lançamento de um novo sistema (já disponível na metade dos distritos templares do mundo) que possibilitará o preparo e submissão pela Internet, desde nossa casa, de nomes de ancestrais para receberem as ordenanças do templo. Este novo sistema ajudará os irmãos a ver facilmente quais são os ancestrais que precisam das ordenanças, por procuração, do templo e possibilitará a impressão de uma página com código de barra que se leva ao templo onde é escaneada e daí se imprime o cartão para uso nas sessões do templo. Depois que se fizer a ordenança, o registro completo da ordenança se tornará disponível num site seguro dentro de vinte e quatro horas.

Agora, por que acabo de contar esta história aos irmãos, os que estudam pela vida inteira? Tenho uma mensagem simples. Nunca permaneçam no passado, nem tentem proteger aquilo com que já estão acostumados contra as mudanças inevitáveis de que precisamos para que haja avanços apropriados no futuro. Quando Jesus disse: “Está consumado” (João 19:30) ao morrer na cruz, tratava-se do fim de uma missão, a da expiação. Então ele iniciou outra missão, a de ver aqueles no mundo dos espíritos para fortalecê-los e dar-lhes esperança (vide D&C 138). Lemos em 3 Néfi de outra missão ainda, quando Ele visitou, como ser ressuscitado, os fieis no templo do Novo Mundo, bem-aventruando-os pela fidelidade. Em nossa vida, como no exemplo do Salvador, o fim de uma missão serve de introdução para iniciar novas obras. O fim de uma época dá início a uma nova. Os que praticam o eterno aprendizado não permanecem no passado.

O que se aprendeu no passado forma um fundamento valioso de experiência em que podemos edificar novas experiênias, mas não é um lugar confortável para morarmos pela vida inteira.

Às vezes chegamos a um marco no caminho e achamos que é o destino; nestes casos sentimos exultação imediata e logo ficamos quase deprimidos, por exemplo, quando se completa uma missão de tempo intergral ou quando a lua de mel termina. Há um momento de realidade chocante e marcante quando se pergunta a si mesmo: “E agora? O que é que faço agora?” Em tais circunstâncias, lembrem-se de que o fim de uma experiência serve de alvorada de um novo dia.

Ao chegarem ao topo de uma montanha que acabam de escalar, desfrutem o momento de satisfação do presente para contemplar a vista maravilhosa e o progresso que se fez. Mas logo virem-se para avistar as novas montanhas que enxergarem à distância e formulem um novo plano para no futuro alcançar metas ainda mais elevadas. Quando fizerem isso, veremos que a realização de um objetivo no passado ou mais cedo ou mais tarde abrirá caminho para uma meta mais elevada a ser atingida no futuro. Ao contemplarmos o sacrifício e trabalho árduo requisistos para alcançar as metas do passado, vamos reunir as forças, confiança e determinação necessárias para conquistar novos desafios e subir para um plano mais elevado.

Permitam-me pausar e falar do fundo do coração sobre uma experiência única de aprendizado. O verdadeiro significado do eterno aprendizado se realiza no círculo do passado, presente e futuro e assim progredimos ao passo que o tempo voa a uma velocidade rápida e inevitável. O tempo não para para ninguém. De fato, uma das poucas posses que todos nós compartilhamos é o tempo. O que fazemos com nosso tempo determinará o grau de eterno aprendizado e valores espirituais que levaremos para a eternidade depois desta provação mortal.

Eu também gostaria de passar uns minutos falando de uma experiência sem par de eterno aprendizado para as mulheres, a da maternidade.

A Maternidade: A Oportunidade Ideal de Eterno Aprendizado

A maternidade representa uma oportunidade ideal para o eterno aprendizado. Os conhecimentos de uma mãe aumentam à medida que ela educa seus filhos durante os anos de formação. Tanto ela como os filhos aprendem e amadurecem juntos e de modo muito acelerado, o crescimento sendo exponencial e não linear. Imaginem só o processo de aprendizado de uma mãe ao longo da vida de seus filhos. Cada criança acrescenta uma nova dimensão de aprendizado, porque as necessidades variam muito de uma a outra criança e são extensas.

Por exemplo, no processo de criar os filhos uma mãe estuda tais matérias como: nutrição, saúde, fisiologia, psicologia, enfermagem e pesquisa médica; ela também serve de tutora em diversas áreas de estudo como a matemática, ciências, geografia, literatura e línguas. Ela desenvolve os dons de música, atletismo, dança e oratória. Os exemplos continuam sem fim. Pensem só no aprendizado espiritual que uma mãe requer para ensinar os filhos a respeito dos princípios do evangelho e para preparar as lições de noite familiar e das organizações auxiliares da Igreja como a Primária, a Sociedade de Socorro, a Organização das Moças e a Escola Dominical.

O ponto que quero esclarecer, minhas queridas irmãs (e os irmãos, também; tomara que estejam prestando bem atenção), é que a oportunidade de uma mãe de participar de uma vida cheia de aprendizado é de natureza universal. Minhas queridas irmãs, nunca desprezem seu papel de mulher ou de mãe.

É de se admirar que o mundo tenha declarado que o estado da mulher é uma forma de escravidão que não a permite desenvolver seus dons e talentos. Nada, absolutamente nada, pode ser mais enganador. Não deixem que o mundo defina, diminua ou limite o conhecimento e os valores que aprendeu como dona de casa, o eterno aprendizado e os benefícios que proporcionaram a seus filhos e a seu marido.

O estudo pela vida inteira é essencial à vitalidade da mente, corpo e alma do ser humano. O eterno aprendizado revigora a mente e é uma grande defesa contra o envelhicimento, depressão e perda de confiança. Quando paramos de buscar novos conhecimentos, nosso progresso cessa e a paralisação mental começa.

O progresso e melhoramento são essenciais no eterno aprendizado. Os irmãos não vão se surpreender em saber que só existe uma meta definitiva, a de levar uma vida fidedigna e de perdurecer até o fim, dignos da salvação e glória eternas. Todas as outras metas e realizações são auxiliares para nos ajudar a permanecer fieis até o fim. Na verdade, é o plano de vida para o nosso benefício eterno tal qual se consta nas escrituras.

O processo de aprendizado que Salomão ensinou na Bíblia Sagrada, no livro de Provérbios, nos ajuda a entender a natureza do eterno aprendizado. “Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento” (Provérbios 3:13).

Para esclarecer mais, começamos pela inteligência básica, nosso QI, que é uma dádiva que Deus proporciona à humanidade. “A glória de Deus é inteligência, ou, em outras palavras, luz e verdade” (D&C 93:36).

Acrescentamos à inteligência básica o conhecimento que nos vem pelo estudo e pela experiência.

A inteligência básica mais o conhecimento igual à sabedoria. “A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo que possues na aquisição de entendimento” (Provérbios 4:7).

O mundo para ao nível de aprendizado da sabedoria, mas as escrituras ensinam: “O Senhor, com sabedoira, fundou a terra; com entendimento preparou os céus” (Provérbios 3:19; acrescido de letra itálica).

A sabedoria mais os dons do Espírito Santo nos dão entendimento ao coração. Quando possuímos entendimento e nosso coração abrandece, “não deseja[remos] mais praticar o mal” (Alma 19:33).

Estaremos com “os olhos fitos na glória de Deus” (D&C 82:19) e desejaremos voltar com honra à presença do Nosso Pai Celestial e seu Filho, Jesus Cristo.

Eis um trabalho de casa vitalício para os irmãos! Ponderem e busquem adquirir as caraterísticas de quem segue o caminho do eterno aprendizado: coragem, fiel desejo, curiosidade, humildade, paciência e a vontade de comunicar. São abributos morais desejáveis. Ponderem e perguntem a si: “Qual é o significado e valor de cada um destes atributos para mim?” “Como é que estas caraterísticas se aplicam a mim?” “Como farei todos estes atributos parte da minha vida?” Então, por uns minutos, ponderem estas caraterísticas e perguntem a si mesmos o que se pode fazer para realçá-las em seu caráter e em sua vida. Mesmo que só escolham uma delas para procurar melhorar-se, fará uma grande diferença. No futuro a recompensa disso será grande para os irmãos e para aqueles ao seu redor.

Espero que possam ver o valor de revisar suas metas mais importantes, tendo em vista a perspectiva do eterno aprendizado e do cíclo de vida do passado, do presente e do porvir. Que sua vida seja uma de estudo, crescendo em termos de conhecimento, inteligência e sabedoria enquanto buscarem valores espirituais e as caraterísticas que os abençoarão com o galardão da vida eterna.

Procurem Saber que Deus Vive

Presto-lhes meu testemunho de que Deus vive e que todos nós podemos aprender a saber, não só acreditar, que Deus vive. Busquem este conhecimento e ser-lhes-á concedido. Procurem saber e ajudar o seu próximo a saber, através de seu testemunho, que Joseph Smith foi um profeta de Deus e que nesta última dispensação da plenitude dos tempos, foi-nos restaurado tudo que já se restaurou à humanidade. Aprendam tudo que puderem no templos e nas escrituras. Aprendam a conduzir sua vida de forma que possam voltar à presença do Pai e de seu Filho. Oro que nosso desejo e meta sejam os de nos tornarmos estudantes pela vida inteira para podermos alcançar a meta principal, em nome de Jesus Cristo, Amém.

Notas

[1] Brigham Young, em Journal of Discourses (London: Latter-day Saints’ Book Depot, 1854–86), 9:292.

[2] Brigham Young, em Journal of Discourses, 12:124.

[3] Ezra Taft Benson, “A New Witness for Christ [Uma Nova Testemunha de Cristo],” Ensign, novembro de 1984, 6–7; citando Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed. B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret News, 1957), 4:461.