“Bata de Leve”: Controlando o Comportamento dos Alunos na Sala de Aula
William C. Ostenson
William C. Ostenson, “'Bata de Leve': Controlando o Comportamento dos Alunos na Sala de Aula,” in Richard Neitzel Holzapfel and Paulo Renato Grahl, eds., Buscai Diligentemente: Seleções de “o Educador Religioso,” trans. Roydon Olsen and Vanessa Fitzgibbon (Provo, UT: Religious Studies Center, 2010), 273–278.
William C. Ostenson é diretor aposentado do Sistema Educacional da Igreja em Idaho Falls [cidade do Estado de Idaho nos EUA].
Mike Mansfield, um senador muito respeitado do Estado de Montana, passou dezesseis anos no cargo de líder do senado do partido majoritário. Depois de aposentar-se do senado, ocupou por mais doze anos o cargo de embaixador no Japão. Ele disse que seu sucesso se deve ao fato de que ao lidar com as pessoas, ele sempre procurava “bater de leve.” Depois de servir em três ramos diferentes das forças armadas durante e depois da Primeira Guerra Mundial, ele passou a trabalhar por nove anos nas minas de cobre de Butte, Estado de Montana, onde aprendeu o tal dito de “bater de leve.”
Esta expressão servia de advertência para aqueles mineiros que lidavam com explosivos para quebrar a rocha maciça em volta das jazidas de cobre. Um mineiro experiente fazia furos profundos na pedra e colocava a dinamite no fundo de cada buraco. Se o explosivo não coubesse de forma justa, a explosão poderia provocar um deslizamento de terra que, com certeza, levaria à morte dos mineiros. O processo exigia que o mineiro batesse na carga explosiva para sentá-la. Naturalmente, se ele batesse com muita força, a dinamite poderia explodir antes da hora e é por isso que os mineiros advertiam: “Bata de leve.” Mike Mansfield viu nesta expressão uma metáfora para o relacionamento humano. Ao procurar aplicar este princípio no seu tratamento com as pessoas, ele conquistou o respeito tanto dos Republicanos como dos Democratas do Senado, bem como do povo japonês. [1]
Os professores e diretores dos seminãrios podem aplicar este mesmo princípio para solucionar os problemas disciplinares.
Como diretor de seminário, entrevistei um aluno que fora expulso da sala de aula pelo professor por causa de sua persistente desobediência. Não me lembro de todas as queixas que o professor fazia a respeito deste aluno, mas naquele dia o estudante havia levado uma lata de refrigerante para a sala de aula e se recusou a guardá-la na mochila. Convidei o aluno a meu escritório e comecei a conversar com ele para conhecê-lo melhor. Não é bem isso que os alunos esperam ao serem encaminhados ao escritório do diretor por motivos de disciplina; mas para ajudar este aluno eu precisava conhecê-lo. Além disso, tal abordagem geralmente é mais calmante e consegue-se tratar dos problemas com mais facilidade se o aluno não está na defensiva. Depois de conhecê-lo um pouco, pedi-lhe que me contasse sua versão da história. Descobri que este tipo de abordagem também pode acalmar e até revelar muito sobre o aluno. “Bater de leve” deste jeito mutias vezes nos encaminhará a uma solução.
Quando pedi ao aluno para contar sua versão da história, ele se queixou do fato de que os professores do colégio o permitiam levar refrigerante para a sala de aula e por isso não via razão de não poder levá-lo ao seminário. Expliquei que se tratava de uma regra que existia em todos os seminários e, devido ao fato dele poder beber refrigerante nas outras aulas, ele certamente não precisava beber refrigerante no seminário. Desta forma mostrei meu apoio pelo professor nesta situação e o aluno não teve como discordar. Eu também achava que ele concordaria em colaborar mais na sala de aula se eu prometesse falar com seu professor e pedir-lhe que fosse um pouco mais compreensivo. Ele concordou com isso e eu, como prometido, conversei com o professor a respeito do caso.
Nós, como professores, às vezes nos achamos no meio de um conflito de vontades entre nós e os alunos e assim se torna difícil vermos o fato de que nós mesmos podemos estar agravando a contenda. Neste caso, eu poderia ter transferido o aluno para outra turma, mas parecia-me importante o estudante e o professor resolverem o desacordo entre eles. Em primeiro lugar, o jovem precisava parar de manifestar sua independência através da desobediência e, em segundo lugar, o professor precisava aprender a bater mais levemente e não levar a mal quando os alunos contestam sua autoridade.
Tendo passado quatorze anos como coordenador da Área Nordeste dos Estados Unidos, eu sabia que este jovem era justamente um dos motivos de existir o seminário de released-time [aulas de seminário que se realizam durante o horário de aulas de um colégio em que é dada licença ao estudante SUD de passar uma hora por dia numa aula do SEI]. Ao longo dos quatorze anos que passei a serviço das alas e ramos dos Estados da Indiana e de Ohio, tive a oportunidade de observar muitos excelentes professores de seminário dar aulas de manhã cedo e administrar aulas de estudo em casa—todos eles voluntários. A porcentagem de alunos matriculados nas aulas de manhã cedo e de estudo em casa nunca chegou ao nível da do seminário de released-time. Por haver menos alunos em horários mais difíceis, quase nunca observarmos um aluno menos dedicado, como o jovem do exemplo. Por outro lado, há mais alunos menos dedicados que frequentam as aulas de released-time e isso é uma das justificativas de empregar professores profissionais para dar aula nesta modalidade. Quando lidar com um aluno se tornar um desafio para nós, devemos ter muita paciência e não ter tanta pressa em tirá-lo da sala de aula.
Como coordenador eu dava uma lição mensal para os alunos do seminário de manhã cedo e de estudo em casa antes do Super-Sábado. Eu gostava de dar esta aulas e dificilmente encontrava problemas de disciplina. Mesmo assim, numa ocasião os alunos chegaram à aula conversando muito, de forma que tive que parar logo no início da lição e esperá-los acalmarem-se. Havia entre setenta e oitenta alunos e todos eles, vendo meu silêncio, calaram, menos uma jovem, que estava no centro da capela. Logo que reiniciei a aula, ela começou a falar alto com um rapaz sentado a seu lado. Quando vi isso, parei e anunciei que eu esperaria até ela parar de falar antes de continuar a dar a aula. Havendo sido apontada deste jeito, ela saiu bruscamente da capela, empurrando os alunos que estavam no seu caminho. Não pude perceber como os outros se sentiram quando ela saiu da sala, mas quando ela saiu eu senti o Espírito sair também.
Quando se realizou a reunião de professores em serviço, depois que os estudantes saíram para as atividades, eu perguntei a respeito de quem era o professor ou professora local daquela moça que havia saído. Quando soube, pedi à professora que se esforçasse para que a moça voltasse no mês seguinte. Também confessei aos professores que eu não tinha dado um bom exemplo de como enfrentar um problema disciplinar, embora os professores tenham admitido que não podiam imaginar outra maneira de resolvê-lo.
Para a lição do mês seguinte reunimo-nos numa grande sala em vez da capela. Os alunos da oitava série foram convidados também para que pudessem sentir o que era o Súper-Sábado, pois iriam assistir no ano seguinte. A sala estava tão lotada que alguns tiveram que sentar-se no chão. Ao começar a lição, notei outra vez que os alunos estavam agitados e não prestavam atenção, mas eu sabia que tinha preparado uma excelente lição; portanto comecei por fazer uma série de perguntas aos alunos da oitava série que estavam sentados à minha direita no chão. Quando vi o medo no seu rosto se transformar em interesse sincero, voltei a outro grupo e comecei a fazer-lhes perguntas para captar sua atenção também. Continuei a fazer isto até que todos se interessaram, menos aquela moça do mês anterior. Ela estava sentada no centro da sala e parecia resolvida a desafiar minha autoridade de novo. Mas a lição estava boa e ela logo se interessou quando eu a envolvi na palestra.
Quando faltavam vinte minutos para terminar a aula, vi um dos professores de estudo em casa e um de seus alunos entrarem na sala e sentaren-se no chão. Aí vi o professor levantar-se e sair, voltando dentro de poucos minutos com outros alunos. Eu desejava saber o que ele ia dizer na aula de professores em serviço que seguiria logo após a saída dos alunos para participar de suas atividades. Primeiro, ele se desculpou pelo atraso. Ele era um novo professor e não fazia ideia de quanto tempo iria demorar para buscar os alunos que precisavam de carona. Quando por fim chegaram, já era tarde e ele só conseguiu convencer um dos alunos a entrar com ele na sala. Mas ao sentar-se ele sentiu fortemente o Espírito e resolveu sair para tentar convencer os outros alunos a entrar na sala também para pelo menos sentirem o Espírito que estava lá presente. Naquele sábado o assunto da lição para os professores em serviço se tratava de como criar disciplina através de fazer perguntas para captar a atenção dos alunos e envolvê-los na lição ao invés de afastá-los por apontar seu mau comportamento. Em outras palavras, como é que se pode “bater de leve” o suficiente para amaciar a resistência petrificada dos alunos sem que nossos esforços explodam na cara?
Não há o que possa substituir uma lição bem-preparada no que diz respeito à disciplina da sala de aula, especialmente quando se trata de problemas disciplinares que surgem a partir do tédio. Devido a boas aulas dadas por vários professores ao longo de quatro anos, aquele jovem que levou refrigerante para a sala de aula certamente sentiu o Espírito algumas vezes e, apesar de sua atitude, aprendeu algo mais do evangelho. Sei disso porque fiquei de olho nele por quatro anos. Embora ele não tenha se formado do seminário, creio que aquilo que o Presidente Eyring disse em 1993 se aplica àquele rapaz: “Se os irmãos tratarem os alunos como se fossem bucadores da verdade, estes sentirão seu amor e isso poderá despertar neles a esperança de obterem um coração mais brando. Pode não acontecer sempre e pode não durar, mas sentirão o Espírito muitas vezes e às vezes os efeitos durarão. E todos eles se lembrarão de que os irmãos acreditavam que no âmago deles havia algo de bom e melhor, a herança de ser um filho de Deus.” [2]
Não obstante, faz parte da fé e do amor verdadeiro para eles discipliná-los quando for preciso. Por exemplo, quando fui chamado para ser diretor pela terceira vez, descobri que havia mais de vinte alunos de último ano que aproveitavam o tempo de released-time para fazer o que bem quisessem. Entrevistei cada um deles no meu escritório a respeito de seus planos para o futuro e perguntei a todos se pretendiam formar-se do seminário. Todos eles disseram que queriam se formar, por isso eu lhes disse que poderiam se formar contanto que não faltassem mais na aula. Se faltassem, eu me veria obrigado a dispensá-los, impossibilitando sua formatura. Expliquei-lhes porque era importante honrarem seu contrato de released-time com o colégio e quão importante era para nós proteger nossos direitos de manter o programa de seminário em cooperação com o colégio. Frisei que o que eu falara não tinha nada a ver com minha opinião pessoal deles, porque eu era obrigado a seguir a mesmas regras que eles. Por fim expliquei que eu ligaria a seus pais e diria a eles o que acabara de dizer aos alunos.
Todos os pais me apoiaram. Até um dos pais me disse que estava na hora de seu filho ter que prestar contas e ele mandaria o filho completar todos os trabalhos atrasados até a semana santa e se este não o cumprisse, não sairia em viagem o Lake Powell com os amigos. Todos os alunos, menos uma moça, deixaram de matar aula e se formaram. Suspendi a matrícula daquela que continuou a matar aula. Logo em seguida ela me procurou e perguntou se ainda haveria jeito de formar-se. Já que ela havia desobedecido abertamente e de forma teimosa, eu lhe disse que não confiava nela o suficiente para permiti-la voltar para a sala de aula, mas lhe fiz um plano de recuperação alternativo e rigoroso que possibilitaria sua formatura se fosse completado a contento. Ela aceitou, cumpriu e formou-se com as amigas.
Creio que as regras do seminário devem ser empregadas para motivar os alunos a fazer aquilo que já sabem que devem fazer. Em outras palavras, devemos “bater de leve” com estas regras em vez de martelar com força. Aprendi que quando se age de forma bondosa, porém firme, com os alunos, de modo geral eles aceitam as regras e fazem o que é certo. Quando não cumprirem, terão que aceitar as consequências por conta própria. Podemos consolar-nos em saber que temos seguido a admoestação do Presidente Howard W. Hunter, que nos incentivou a “dar uma resposta branda” quando, do contrário, a tentação é de dar uma resposta áspera, “incentivar os jovens” em vez de desincentivá-los, “procurar entendê-los” em vez de precipitar-nos em julgá-los como sendo espiritualmente imaturos, “analizar nossas exigências” e tratá-los com bondade e gentileza. [3] São bons conselhos para todos nós que queremos “bater de leve.”
Notas
[1] Don Oberdorfer, Senator Mansfield: The Extraordinary Life of a Great American Statesman and Diplomat (Washington DC: Smithsonian Books, 2003), 1–14.
[2] Henry B. Eyring, To Draw Closer to God: A Collection of Discourses (Salt Lake City: Deseret Book, 1997), 146.
[3] Howard W. Hunter, “This Christmas. . . .” in LDS Church News, December 10, 1994.