Ser Aceito pelo Senhor

C. Max Caldwell

O Élder C. Max Caldwell integrou o Segundo Quórum dos Setenta da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias de 1992 a 1997.

A motivação desta apresentação baseia-se na minha observação de colegas que ou lutam para encontrar a paz na sua vida ou estão frustrados por acharem-se fracassados. Ao esforçar-nos para obter paz e evitar o fracasso, ás vezes deixamos de reconhecer a verdadeira perspectiva entre os dois. Em outras palavras, nossa falta de entendimento e de aplicar certos princípios pode ser a fonte de dissatisfação para nós mesmos. Por outro lado, aqueles que se sentem acomodados com as circunstâncias atuais geralmente acham que alcançaram o sucesso como resultado de seus esforços desinteressados.

Lembro-me de ter ouvido certa vez, no saguão de um aeroport, a metade de um diálogo telefônico. O que falava na minha presença declarou triunfalmente: "Hoje por fim realizei êxito." Já que não ouvi nada mais, fiquei pensando em que será que consistia tal sucesso? Será que era um vendedor hábil que acabou de fechar um contrato? Ou talvez fosse um paciente persistente de um tratamento médico que ao completar um processo de reabilitação se livrou das limitações impostas por uma cirurgia. Possivelmente era um diplomata determinado e persuasivo que participava de árduas negociações. Ou, pode ter sido um professor preocupado que tentava ensinar aos alunos uma habilidade ou conceito que antes desconheciam. Eu não sei qual destas suposições está certa, se é que qualquer delas está certa. Mas eu sabia que ele estava regozijando-se com a sensação do sucesso. Eu desejava naquele momento, como posteriormente tenho desejado muitas vezes, que todas as pessoas pudessem frequentemente desfrutar de tais sentimentos de alegria. Porém isso nos faz pensar em uma questão importante: será que a definição do sucesso baseia-se em agradar a si e aos outros?

A sensação do fracasso é, talvez, uma experiência pela qual passamos tanto quanto o sucesso. Achar-se fracassado não se trata de uma emoção alegre. Quase todos nós já participamos de um concurso em que alguém é escolhido ou designado o vencedor. Será que neste memento os outros se sentiam derrotados? Ao participarem de atividades que são avaliadas, devem aqueles que recebem notas inferiores considerar-se menos bem-sucedidos e portanto mais ou menos fracassados? Quando elogiamos as pessoas baseando-nos em desempenhos mensuráveis por estatísticas, será que também criamos a percepção de que os que não foram elogiados não fizeram bem? Será que os que procuram motivar, por bem-intencionados que sejam, acabam frustrando os que não conseguem alcançar as metas estabeledidas, porém inatingíveis pela maioria das pessoas?

Quando as pessoas se desesperam ou se tornam deprimidas, será que muitas vezes é porque não alcançaram uma meta ou condição auto-determinada, ou porque não conseguiram fazê-lo dentro de um prazo fixado por elas mesmas? Um amigo muito demprimido me disse que havia passado duas semanas miseráveis ponderando seus fracassos e fraquezas. Ele estava preocupado que ao decorrer dos anos pode ser que não tenha utilizado bem seu tempo, nem correspondido ás necessidades da família ou tratado as pessoas como devia. Suponho que a maioria de nós já teve pensamentos semelhantes. O élder Neal A. Maxwell observou: "Alguns de nós, que não nos atreveríamos a admoestar nosso próximo pelas suas fraquezas, fazemos auto-crítica a nós mesmos sem piedade. Alguns de nós nos encontramos perante um juiz impiedoso-nós mesmos, um juiz que se recusa a admitir evidências otimistas e não se importa com o processo estabelecido da justiça." [1]

Sinto-me impelido a fazer uma segunda pergunta importante: deve a sensação de fracasso basear-se em não poder nos agradar a nós mesmos nem aos outros? ás vezes se fazem críticas á Igreja por incentivar os membros a estabalecerem metas que parecem inatingíveis, tais como ser uma mãe perfeita, um missionário que bate todos os recordes, um bispo superhomem e procurarmos ser perfeitos. é comum os bispos ouvirem os membros da Igreja dizer: "Bem, não sou perfeito," ou "ninguém é perfeito." Emprega-se esta filosofia ás vezes para justificar a mediocridade ou até o pecado. Ela pode aprofundar nosso desânimo devido á falta de atingir metas auto-determindas ou até o objetivo ordenado pelo Senhor de chegar á perfeição. A crítica diz que o nosso povo será sempre um grupo de fracassados frustrados que nunca realizam o sucesso e assim nunca se sentirão realizados. Certamente não nos desculpamos por qualquer meta celestial estabelecida para nós por um ser celestial. Mas, como disse o élder Maxwell: "Não é fácil obedecer `a sinalização celestial quando se está num engarrafamento teleste." [2]

Hoje vamos discutir os três seguintes conceitos do livro de Doutrina e Convênios. Primeiro, o que é o sucesso ou fracasso verdadeiro? Este será o ponto de mais ênfase. Segundo, como obteremos a aceitação do Senhor? Terceiro, onde vemos esta aceitação na vida de Joseph Smith?

Conceito 1: O Que é Sucesso ou o Fracasso Verdadeiro?

Para obter entendimento a respeito deste assunto precisamos fazer uma discussão de uma doutrina que, quando se compreende e se aplica, fará um impacto positivo na vida de todo Santo dos Últimos Dias. Aprendemos a distintguir o que é sucesso ou fracasso real através das sagradas verdades contidas em Doutrina e Convênios, o livro de revelações do Senhor desta dispensação.

Em vez de sentir satisfação com feitos temporais e temporários que nos agradam e agradam aos outros, não será mais sábio nos esforçar para chegar a um nível mais significativo de contentamento interno e eterno?

As declarações das escrituras justificam a conclusão que o sucesso ou o fracasso verdadeiro equivale á aceitação ou á condenação do Senhor. é notável que um dos hinos patrióticos mais queridos contém um pedido a Deus que nos refine: "Até que todo sucesso seja nobreza e todo progresso divino." [3] O que pode ser mais nobre do que aquilo que merece a aprovação divina e graça de Deus?

Permitem-me destacar algumas seções de Doutrina e Convênios onde se encontra esta idéia. é um dos temas predominantes das escrituras dos Últimos dias que nos proporciona um padrão expressivo pelo qual podemos determinar o que é o sucesso e o fracasso.

Seção 23. Nesta seção há uma exposição dos níveis da nossa relação com o Salvador que nos levam ou á aceitação ou á condenação. No próprio mês em que a Igreja foi organizada em 1830, o Senhor se dirigiu a cinco homens e lhes deu instruções específicas para a sua vida pessoal bem como seus deveres referentes á obra do reino. Entre os cinco, quatro foram informados que não estavam "sob condenação" mas o quinto não recebeu tal confirmação. Todos estes irmãos menos Joseph Knight Sr. se batizaram e estabeleceram um convênio com o Salvador. Estes quatros com sucesso haviam agradado ao Senhor e certamente se esperava que continuassem aceitos perante Ele. Aparentemente haviam feito tudo que o Senhor lhes exigira até aquele momento. O quinto homem, Joseph Knight, não se batizara embora soubesse que devia. Ele já tinha mostrado que cria na obra de Joseph Smith referente ao Livro de Mórmon e tinha solicitado uma revelação para instruí-lo quanto a sua participação no trabalho da Restauração. O Senhor respondera e o exortara a "procurar trazer á luz e estabelecer a causa de Sião" (D&C 12:6). Obviamente ele teria que batizar-se a fim de cumprir esta ordem. Certa vez, quando ele assistia a um serviço batismal de outras pessoas, não seguiu a impressão distinta de que ele também devia batizar-se. Em vez disso, esperou até junho de 1830 para fazê-lo. Por isso o Senhor o condenou e declarou que era seu "dever unir-se á igreja verdadeira, . . . para que [ele recebesse] a recompensa do trabalhador" (D&C 23:7).

Quando o Senhor revela uma verdade a alguém, Ele espera obediência, senão a pessoa se vê condenada perante o Senhor. Quando conhecemos princípios eternos tais como o dízimo, o jejum ou reverência pelo dia do sábado e não os cumprimos, certamente sentiremos mágoa. O Senhor declarou: "Porque a quem muito é dado, muito é exigido; e o que pecar contra a luz maior receberá a condenação maior" (D&C 82:3).

Seções 39 e 40. O Pastor James Covill havia sido ministro batista por quarenta anos antes de ouvir a mensagem da Restauração através do Profeta Joseph Smith. Ele logo fez convênio de fazer o que o Senhor exigisse. Antes disso, durante seu ministério, o Pastor Covill teria convidado seus ouvintes para aceitarem Jesus Cristo como seu Salvador pessoal como condição de ter esperança de se salvarem, conforme o costume dos ministros protestantes. Porém, ele não podia informá-los como atingir a esperada herança celeste. Ele não lhes teria oferecido um batismo autorizado junto com os devidos convênios.

Aumentando o conhecimento e background limitados de Covill, o Senhor lhe revelou que receber Cristo significa receber seu evangelho, o qual inclui o arrependimento e o batismo. O Senhor então o desafiou a batizar-se e fazer convênios eternos para receber o Espírito do Senhor (vide versículos 5-6, 10).

é interessante observar que o Senhor não utilizou a tradicional linguagem protestante. Não mencionou nenhum processo de "aceitar Cristo." Em vez disso, as palavras reveladas trataram de "receber" o Salvador. Conforme a doutrina tradicional, os mortais têm o desafio de determinar se aceitam Cristo ou não. Neste caso, pressupõe-se que o homem deve julgar se Cristo é aceitável aos homens. Porém, não se julga Cristo pois Ele é o juiz. é o homem que é julgado para saber se é aceitável a Cristo. Para tal ele precisa receber o dom da expiação e pôr sua vida em conformidade com os princípios revelados do evangelho.

Uma pesquisa das escrituras revela que os vocábulos aceitar, aceito, aceitação e aceitável são sempre empregados no sentido do homem e suas obras serem julgados pelo Senhor. Tais termos não são usados no sentido do homem aceitar Deus. Nossa conclusão deve ser que nós é que devemos receber a aceitação do Senhor aos recebermos e praticarmos suas doutrinas e ordenanças com toda a dignidade.

Interessa-nos o emprego significativo do radical latino cep/ceit. A- ceit- ação é de Cristo. Re- cep- ção é nossa escolha e ser re- cept- ivo, nossa oportunidade. Per- cep- ção é um dom espiritual ao passo que de- cep- ção é de Lúcifer. Cada vocábulo tem um significado distinto. Não devemos confudi-los.

Infelizmente, James Covill rejeitou a palavra do Senhor e deixou de cumprir seu convênio. Não recebeu o evangelho do Senhor que equivale a não receber o próprio Senhor. Embora Covill não tivesse feito formalmente o convênio por meio do batismo, o Senhor declarou que a promessa verbal de Covill de obedecer valia como convênio. O Salvador disse: "Portanto quebrou meu convênio e cabe a mim fazer com ele o que me parecer melhor" (D&C 40:3). Quem não cumpre os convênios é fracassado e não aceitável a Deus.

Seção 41. Na primeira revelação registrada depois que Joseph Smith se mudou a Ohio, o Senhor pronunciou sua definição do que significa ser discípulo: "Aquele que recebe a minha lei e a pratica é meu discípulo; e aquele que diz que a recebe e não a pratica, esse não é meu discípulo e será expulso de vosso meio" (v. 5). Para ser um verdadeiro discípulo de Cristo e desta forma ser aceito por Ele requer mais que um compromisso verbal. O discípulo há de ser recebedor e praticante da lei do Senhor. Aqueles que recebem a recompensa de ser discípulo necessitam cumprir com estas duas expectativas. Nesta mesma revelação há um exemplo de tal pessoa. O Senhor chamou Edward Partridge para ser o primeiro bispo da Igreja e descreveu-o como um homem de coração puro e sem dolo (vide v. 11). Ele era um discípulo do Senhor e aceitável a Ele. Do contrário, se alguém alega que recebeu a lei do Senhor mas não está disposto a cumprir com as responsabilidades sagradas do convênio, na verdade não representa o Autor da lei. é pura hipocrisia, uma condião muito condenada pelo Senhor. Tal hipócrita tem coração impuro, é doloso e não é aceitável ao Senhor.

Seção 38. No meridiano dos tempos o Salvador orou para que seus discípulos fossem unidos (vide João 17:20-21). Dezoito séculos mais tarde, o Senhor mandou que os membros da Igreja fossem unidos. Ele disse: "Sede um; e se não sois um, não sois meus" (D&C 38:27). Observamos que a falta de atingir a união com os Senhor é evidência de nossa indignidade e motivo de sermos inaceitáveis a Ele. O Salvador proclamou aos nefitas: "Aquele que tem o espírito da discórdia não é meu" (3 Néfi 11:29). Aqueles que estão em sintonia com o Senhor e com os seus ensinamentos têm união com Ele. Também são aqueles que vivem harmoniosamente um com o outro. São aqueles que obtiveram a aprovação e aceitação do Mestre.

Seção 46. Nesta revelação o Senhor identificou muitos dons do Espírito Santo e aconselhou os membros da Igreja a buscarem os melhores dons, conforme as suas necessidades específicas. Ele explicou a importância destes dons e proclamou que "são dados para o benefício dos que me amam e guardam meus mandamentos e áquele que procura fazê-lo" (D&C 46:9).

Aprendemos que aqueles que se qualificam para receber tais dons espirituais são os que guardam todos os mandamentos. á primeira vista se pode concluir que ninguém se qualifica. Porém, se ninguém pode recebê-los, por que é que as escrituras falam de tal possibilidade? Ao pensar mais no assunto aprendemos que não devemos tirar por conlusão algo que o Senhor não tenha falado. Ele não disse que quem recebe os dons são aqueles que guardam todos os mandamentos o tempo todo. Ninguém o faz. Mas há muitos que guardam todos os mandmentos quase que o tempo todo. Uma segunda categoria de pessoas aceitáveis consiste naqueles que real e sinceramente procuram guardar todos os mandamentos. Embora nem sempre alcancem suas metas espirituais, se esforçam para alcançar tal objetivo. Mesmo que ás vezes fracassem, levantam-se, arrependem-se, se for necessário, e continuam a esforçar-se em viver uma vida aceitável e reta.

Deste jeito há muitos Santos dos Últimos Dias que se qualificam para obter os dons do Espírito oferecidos aos membros fiéis da Igreja, que têm direito ás promessas feitas pelo Senhor áqueles que cumprem com os convênios, e que são aceitáveis ao Senhor. São santos dignos porém imperfeitos. São aqueles que, quando o bispo lhes pergunta se são dignos de entrar no templo e de participar das outra atividades da Igreja, podem resssoar que sim. São aqueles que tomam o sacramento com paz de espírito, que participam confortavelmente das ordenanças do templo, que fazem e recebem as ordenanças do sacerdócio com confiança e que procuram e esperam os dons do Espírito com a certeza que as promessas do Senhor serão cumpridas. São aqueles que são aceitos pelo Senhor e que usufruem a paz que se conquista por viver de acordo com os princípios do evangelho.

Conceito 2: Como Obtém a Aceitação do Senhor?

Seção 52. Esta revelação contém um padrão salutar para todas as coisas (versículo 14) em que o Senhor descreve aquele cujos atributos e ações lhe são aceitáveis. Qualquer pessoa cujo comportamento e natureza conformem com o padrão revelado pelo Senhor pode estar segura que está cumprindo com as expectativas do Salvador no presente momento. O Mestre declarou: "Portanto aquele que ora, cujo espírito é contrito, esse é aceito por mim, se obedecer a minhas ordenanças.

"Aquele que faal, cujo espírito é contrito, cuja linguagem é mansa e edifica, esse é de Deus, se obedecer a minhas ordenaças.

"E também aquele que estremece sob o meu poder será fortalecido e produzirá frutos de louvor e sabedoria, de acordo com as revelações e verdades que vos dei" (versículos 15-17).

O Senhor identifica pelo menos cinco qualidades ou atributos definitivos que são inerentes numa pessoa aceita por Ele:

Aquele que ora. Esta é a pessoa que depende do Senhor e não de seu próprio entendimento, racioncínio, poder e juízo. Obviamente tal pessoa tem fé em Deus, um dos principais requisitos para ser aceito por Ele. O Élder John A. Widtsoe do Quórum dos Doze Apóstolos disse: "Um homem é tão grande quanto suas orações pessoais. O indivíduo não é maior que suas orações pessoais. Se ele for um homem que ora, atinge uma estatura elevada. Senão ele encolhe e a estatura diminui." [4]

Aquele cujo espírito é contrito. Esta é uma pessoa de humildade que lamentou os pecados e conhece o poder redentor de Cristo. Ela é mansa e responde de maneira posistiva a ensinamentos corretos. Ela já escutou e aceitou o convite do Salvador de "vir a mim." Um espírito de arrependimento penetra sua alma e um coração contrito resultou em atitudes e comportamento aceitáveis. O Presidente Ezra Taft Benson observou: "O milagre do perdão é real e o arrependimento verdadeiro é aceito pelo Senhor." [5]

Aquele que obedece ás ordenanças do Senhor. Certamente não se pode obececer ás ordenanças a não ser que tenha as recebido. Um ser não é aceitável perante o Senhor até que se aproxime do Salvador através das ordenanças e convênios do sacerdócio. Um filho ou uma filha de Deus que opta por ficar fora do reino de Deus e um membro da Igreja que resolve não receber todas as ordenanças ainda é amado pelo Senhor mas não é aceito por Ele. Cumprir a vontade do Senhor consiste em fazer e cumprir os convênios que se recebem dele.

Aquele cuja linguagem é mansa e edifica. De modo geral, a fala reflete nossos pensamentos e nossa natureza. A linguagem pode mostrar uma natureza pomposa ou revelar uma mente imunda e alma impura. Quem profana e é de fala vulgar e obsena nega o poder edificante do Espírito Santo e não é nem desejável nem aceito. Certa vez eu tive que dizer a um colega que se não deixasse de falar palavrão, eu não poderia mais ser seu amigo. Ele parou de falar deste jeito, pelo menos na minha presença, e fiquei grato. Criticar e fofocar também podem ofender e negar o Espírito. O Presidente Gordon B. Hinckley nos aconselhou da seguinte forma: "Criticar é precursor do divórcio, cultivador de rebelião e catalisador do fracasso. Peço-lhes que virem de costas ao negativismo que permeia nossa sociedade, procurem ver o que é de bom entre nossos colegas e falem mais das virtudes das pessoas do que dos defeitos para que o otimismo possa tomar o lugar do pessimismo e a fé possa sobrepujar o medo. Quando eu era jovem tendia criticar os outros. Meu pai dizia: "O cínico não contribui nem cria e quem duvida não prospera." [6]

Do contrário a expressão verbal pode refletir a pureza de coração de mente e pode transmitir entendimento de valor eterno. Quem é que não foi elevado ás alturas espirituais ao ouvir os testemunhos e declarações divinas da verdade revelada?

Aquele cujos ensinamentos e obras refletem a verdade revelada pelo Senhor. O Senhor é a fonte de todas as verdades. Os meios pelos quais acessamos a verdade incluem os profetas vivos, os livros padrão e a inspiração do Espírito Santo (vide versículos 9, 36). O Senhor não encara o ensino da mentira, seja de propósito ou acidental causa a deturpação de sua mente e vontade. Tais ensinamentos podem desviar as almas do caminho que leva a Deus. O Presidente Joseph F. Smith advertiu a Igreja: "Entre os Santos dos Últimos Dias a pregação de doutrinas falsas disfarçadas como verdades do evangelho provêm de duas classes de pessoas . . . : A primeira-os desesperadamente ignorantes cuja falta de inteligência se deve a sua preguiça e cujos esforços fraquinhos de se melhorar por meio da leitura e do estudo não adiantam pois são possuídos de uma doença maligna que se pode tornar uma maleza incurável- a preguiça. A segunda- Os orgulhosos e arrogantes que lêem pela luz da lâmpada de sua própria vaidade, que interpretam as regras por sua própria artimanha, que pensam que estão acima da lei e que se colocam como juízes de suas próprias ações. Estes são mais perigosos que os do primeiro grupo. Cuidado com os preguiçosos e arrogantes; em todo caso sua infecção é contagiosa. Evitem-nos como se tivessem hasteado a bandeira amarela de advertência para que os limpos e sãos sejam protegidos." [7]

Cada um de nós pode fazer introspeccção para determinar se nos conformamos ao padrão de aceitação que o Senhor estabeleceu. Qualquer variação por nossa parte deve resultar na alteração de nosso modo de pensar, sentir e agir. Ademais, cada um de nós pode avaliar o que vemos e ouvimos dos outros e saber se devemos aceitar seu jeito de ser. A tolerância e a aceitação não são iguais. Embora tenhamos o dever de amar e sermos tolerantes dos que desviam do padrão de Senhor, não devemos abraçar nem aceitar esses desvios e deturpações do que é aceitável ao Senhor.

Seção 75. Nesta revelação aprendemos que para sermos aceitos pelo Senhor devemos fazer o que Lhe agrade e fazer sua vontade e não a nossa. Enquanto viajava com alguns élderes a uma conferência da Igreja, o Profeta Joseph Smith observou: "Os élderes pareciam ansiosos que eu indagasse do Senhor para que eles soubessem sua vontade e aprendessem o que poderiam fazer de maior agrado a Ele." [8] A revelação que seguiu esta indagação identifica como os missionários podem agradar ao Senhor: "Eis que vos digo ser minha vontade irdes sem demora e não serdes ociosos, mas trabalhardes com toda a força-Levantando vossas vozes como que com o som de uma trombeta, proclamando a verdade conforme as revelações e mandamentos que vos dei. E assim, se fordes fiéis, sereis carregados com muitos molhos e coroados com honra e glória e imortalidade e vida eterna." (versículos 3-5)

Uma revisão das expectativas e dos conselhos desta e outras revelações proporciona ao missionário um plano de trabalho eficaz. Ele tem como avaliar seu serviço no ministério e saber quando o Senhor se contenta. Ele não deve comparar-se com outros missionários, nem comparar seu trabalho com o dos outros missionários de sua missaõ nem de outras missões. Se ele subjugou sua vontade para que fosse harmoniosa com a vontade do Senhor, ele sabe que apresentou uma oferta aceitável e receberá a confiança calma que acompanha o cumprimento de uma missão bem-sucedida.

Enquanto eu era presidente de uma missão, um missionário, ao despedir-se, me disse: "Eu voltarei a casa sem remorso. Segui todas as regras da missão, trabalhei duro e fiz o máximo para fazer tudo que sabia que o Senhor esperasse de mim. Alegro-me em dizer que servi uma missão bem-sucedida."

Seção 97. Como background do princípio do evangelho contido nesta seção, é bom lembrarmo-nos de um momento decisivo na história do povo do Senhor. Aconteceu logo após a destruição cataclísmica neste continente vinculada com a crucificação do Senhor. O Senhor falou dos céus e anunciou uma alteração na lei do sacrifício. O povo do Senhor havia fielmente obedecido á lei do sacrifício por derramamento de sangue dos animais desde os dias de Adão, fazia quatro mil anos. No seu anÚncio, o Senhor aboliu a prática do sacrifício de animais. Embora a lei não fosse extinguida, a forma de cumpri-la mudou. O Senhor mandou-os "oferecer como sacrifício um coração quebrantado e um espírito contrito" (3 Néfi 9:20).

Nesta dispensação, em 1831, o Senhor reafirmou aquele mandamento (vide D&C 59:8) e dois anos depois acrescentou uma palavra significativa ao mandamento: "Em verdade vos digo: Todos os que, dentre eles, souberem que seu coração é honesto e está quebrantado e seu espírito contrito; e que estiverem dispostos a observar seus convênios por meio do sacrifício-sim, todo sacrifício que eu, o Senhor, ordenar-esses serão aceitos por mim" (D&C 97:8). Seja qual for o sacrifício que o Senhor nos pedir, Ele enfatizou que devemos fazê-lo de boa vontade. Um sacríficio não feito de boa vontade não cumpre a expectativa do Senhor e o indivíduo deve sentir-se fracassado no seu esforço de agradar ao Senhor. O profeta Mórmon explicou este processo quando disse: "Pois eis que Deus disse que se um homem é mau, não pode praticar o bem; porque se ele oferece uma dádiva ou ora a Deus, a não ser que o faça com verdadeiro intento, nada lhe aproveitará. Porque eis que não lhe é umputada por justiça. Pois eis que se um homem, sendo mau, oferece uma dádiva, ele o faz de má vontade; portanto será considerado como se tivesse retido a dádiva; consequentemente é considerado mau perante Deus." (Morôni 7:6-8)

Por outro lado, uma pessoa que cumpre com o pedido do Senhor de boa vontade é aceita por Ele. Há mais uma dimensão neste assunto. Pode não ser requerido a uma pessoa fazer um sacrifício específico mas se ela está disposta a fazê-lo de todo o coração, é aceito pelo Senhor. A condição de boa vontade é o que importa neste caso decisivo. Todos sabemos que seremos julgados segundo nossas obras mas ás vezes as obras são o Único ponto de enfoque. E se a pessoa não tiver condições físicas de fazer certos atos? E o que será daqueles que nunca terão oportunidade de contrubuir da mesma forma que os outros? Todos nós já observamos que certas pessoas têm talentos e capacidade que as permitem fazer as coias com mais facilidade ou rapidez, ou até melhor que os outros. Será que aquele que tem menos capacidade e que faz as coisas de forma menos produtiva terá uma recompensa menor pelos seu esforço? A este respeito o Senhor afirmou um princípio eterno numa declaração revelada a Joseph Smith durante a visão do reino celeste registrado na seção 137 versículo 9 de Doutrina e Convênios: "Pois eu, o Senhor, julgarei todos os homens segundo suas obras, segundo o desejo de seu coração." Em verdade nossa aceitação perante o Senhor depende tanto de nossas ações como de nossa atitude.

Lembro-me claramente do que um casal de missionárions me falou ao regressar de um país europeu após uma missão de dezoito meses. Perguntei-lhes como foram de missão. O irmão disse: "Pelo jeito gastamos nosso tempo e dinheiro. Não batizamos ninguém." Senti-me inquieto ao ouvir tal comentário e pedi-lhes que contassem mais a respeito de sua missão. Replicaram que haviam trabalhado arduamente para achar pessoas para ensinar mas ninguém quis ouvir sua mensagem. Não me surpreendi com este relato pois conhecia a missão onde serviram e sabia que era um lugar difícil para os missionários ensinarem e batizarem. Perguntei se tinham outras responsabilidades ou experiências. Informaram-me que participaram do esforço para reativar o pessoal de um pequeno ramo. Indaguei a respeito desse trabalho. Exprimiram seu grande amor pelos membros com que trabalharam e descreveram resultados positivos de aumento de fé e força espiritual na vida de mais de vinte pessoas.

Permitam-me desviar e fazer umas perguntas para contemplarmos. Será que estes missionários não trabalharam com diligência? Estavam eles dispostos a servir e sacrificar seu tempo e bens para ajudar a obra do Senhor? Tiveram um desejo no coração de fazer a vontade do Senhor? Não pensamos nós que seu serviço missionário é aceitável perante o Senhor? Não será que ser aceitável ao Senhor é uma medida maior de seu sucesso do que a noção de que não batizar constitui um fracasso no seu trabalho missionário? Depois de fazer-lhes perguntas semelhantes, senti um espírito de paz ao contemplarem o critério que o Senhor utiliza para julgar e aceitar.

O Senhor reforça esta idéia na seção 124. O Senhor ordenara que os Santos de Missouri construíssem um templo. Embora começassem as obras, infelizmente foram impedidos de completar a construção devido ás ações dirigidas a eles pelas turbas de Missouri. Depois de serem expulsos de Missouri e radicarem-se em Nauvoo, receberam consolo mesmo não tendo cumprido a ordem. O Senhor revela a sua posição perante Ele no versículo 49: "Em verdade, em verdade vos digo que quando dou um mandamento a qualquer dos filhos dos homens de fazer um trabalho ao meu nome e esses filhos dos homens usam toda a sua força e tudo que têm para realizer este trabalho e não deixam de ser diligentes; e são atacados por seus inimigos e são impedidos de realizer este trabalho, eis que me convém já não requerer das mãos desses filhos dos homens o trabalho, mas aceitar suas ofertas" (D&C 124:49).

O Presidente Joseph F. Smith enfatizou a necessidade de continuar a esforçar-nos quando ensinou: "Não se deve haver nada de desistir uma vez que lançamos mão do arado. . . Não se pode desanimar-se. Pode ser que fracassemos várias vezes; . . . podemos não alcançar o objetivo que almejamos . . . . Se falharmos, tudo bem. Vamos adiante; tentemos outra vez; tentemos em outro lugar. Nunca desistamos. Não digamos que não se pode fazer. Fracasso é uma palavra que deve ser desconhecida e expungida da nossa linguagem e de nossos pensamentos. . . . Receberemos a recompensa por todo o bem que fazemos. Receberemos o galardão por todo o bem que desejamos fazer e nos esforçamos por fazer mesmo não levando-o a efeito, pois seremos julgados segundo nossas obras e nossa intenção e propósito; . . . Nós que nos esforçamos não falharemos se não desitirmos." [9]

Dou muito valor á memória de um dos meus élderes missionários. Ele tinha muita dificuldade em aprender espanhol e não tinha recebido avaliações positivas de seu progresso no Centro de Treinamento Missionário. Mesmo que ele fosse muito diligente, os outros do distrito progrediram bem mais nos seus estudos. Depois que ele chegou á missão encontrou muita dificuldade em comunicar-se com os falantes nativos de espanhol; ele labutava com severas limitaçõe ao tentar falar com eles. Não obstante não desistiu; recusou-se a desanimar-se. Possuía um espírito maravilhoso e ao apresentar o Livro de Mórmon ás pessoas e prestar seu testemunho elas sabiam que ele sabia que o livro era verdadeiro. Muitos aceitaram seu convite de ler o livro e mais tarde permitiram que ele e seu companheiro fossem a sua casa para ensinar-lhes. Ele continuava a encontrar dificuldades em conversar e ensinar mas orava e estudava com diligência. Um nÚmero grande de seus investigadores entraram para a Igreja. Eu sabia que o Senhor aceitara seus esforços por causa de sua disposição de fazer tudo que o Senhor esperava.

Com tempo sua capacidade linguística aumentou. Por fim ele foi chamado para ser líder da zona espanhola e quando eu discursava no ramo espanhol ele servia de intérprete. Sua missão lhe proporcionou a oportunidade de receber a aceitção do Senhor e a confirmação de seu estado perante Deus.

Embora o Senhor espere que façamos o nosso melhor para alcançar um nível de desempenho perfeito, é consolador saber que para nós aqui na atualidade o Senhor estabeleceu um nível inferior de aceitação. Nossos esforços podem se chamar de "persistência a caminho do desempenho perfeito." Aprendemos das revelações do Senhor o que Ele espera em relação a nossas responsabilides ao esforçar-nos para alcançar certas metas. Espera-se que procuremos atingir as caraterísticas de integridade estabelecidas por Ele e façamos um esforço sincero de seguir seu exemplo de conduta em todas as situações. Se nosso coração estiver de acordo e estivermos dispostos a fazer sua vontade, podemos ser e seremos servos aceitáveis perante o Altíssimo.

Ser aceito pelo Senhor é o resultado de viver segundo os primeiros princípios e ordenanças descritos na quarta regra de fé, isto é, fé em Jesus Cristo, arrependimento, batismo e o dom do Espírito Santo. Há mais um princípio que devemos mencionar. Depois de embarcar na jornada pelo caminho estreito como filhos aceitáveis de Deus, precisamos continuar a esforçar-nos em permanecer fiéis até o fim (vide 2 Néfi 31:15-21).

O Senhor empregou quarenta e seis vezes em Doutrina e Convênios uma palavra que significa "perdurar" mas que tem uma conotação um pouco diferente. A palavra é "continuar." Gosto de ouvir o Senhor usar aquela palavra porque refere-se á aceitação atual de um indivíduo e também torna válido o rumo que ele está seguindo para a vida eterna. Como exemplo desta idéia, podemos ler a declaração do Senhor a John C. Bennett: "Vi a obra que ele fez, a qual aceito se ele continuar; e coroá-lo-ei com bênçãos e grande glória" (D&C 124:17. Infelizmente, John Bennett não continuou mas em vez disso afastou-se do Senhor e de sua Igreja e perdeu as gloriosas bênçãos prometidas. Agora um exemplo positivo, refiro-me á segurança que o Senhor deu a Lyman Sherman quanto a seu estado aceitável perante o Senhor e as promessas maravilhosas de futuras bênçãos se continuasse fiel (vide D&C 108:2-5). Ele assim fez até a morte.

Conveito 3: Onde Encontramos A Aceitação de Joseph Smith Pelo Senhor?

Vamos examinar mais um exemplo do assunto de aceitação do Senhor em Doutrina e Convênios. Observamos um exemplo da vida e ministério do Profeta Joseph Smith em que ele buscou e obteve a aceitação do Salvador. Escolhi umas passagens significativas desta experiência em que se notam semelhanças para nossa vida e destino.

Todos sabemos que Joseph era muito jovem quando o Senhor lhe encumbiu da responsabilidade assombrosa de lançar os alicerces do reino de Deus na terra e edificá-lo. Mas ele não recebeu a carga toda de vez. Ele amadureceu passo por passo através das designações e experiências. Por exemplo, devido á perda das 116 páginas do manuscrito do Livro de Mórmon, Joseph foi repreendido e recebeu o lembrete que ele tinha o dom de tradução e que não devia buscar nem aspirar a quaisquer outros dons até completar a tradução das placas (vide D&C 5:4). Era para ele focalizar todos os esforços naquela Única tarefa. Ao fazê-lo ele aprendeu a receber revelação e se tornou mas ciente da mente e vontade do Senhor enquanto aprendia princípios de verdade e de doutrina.

Um ano depois, completou-se a tradução, Joseph foi apoiado como o Profeta do Senhor e os membros da Igreja receberam mandamento de "dar ouvidos a todas as suas palavras e aos mandamentos que lhes daria. . . . Pois recebereis sua palavra como se fosse de minha própria boca" (D&C 21:4-5). Que peso de responsabilidade a ser carregado por um moço de vinte e quatro anos que não tinha experiência de liderança! Mas ele se sustentava pela certeza que fora aceito pelo Senhor, quem manifestou uma confiança enorme nele. Ele também sabia que não ia trabalhar sozinho; o Senhor pretendia guiá-lo no seu chamado. Porém, embora o Senhor tivesse aceitado Joseph naquele momento, é claro que o jovem profeta então servia em caráter provisório, ou condicional. Ainda precisava provar-se digno de aceitação contínua. Durante os primeiros anos de serviço algumas revelações que recebeu lembravam-no da necessidade de ser diligente e fiel a seu sagrado chamado. Vamos ler algumas das passagens.

Em junho de 1829, quase um ano antes da organização da Igreja, o Senhor fez o seguinte pronunciamento condicional: "E agora não te maravilhes de que eu o tenha chamado por um propósito meu, proósito esse que me é conhecido; portanto, se ele for diligente na observância de meus mandamentos, será abençoado com vida eterna; e seu nome é Joseph" (D&C 18:8).

Pouco mais de um ano depois, em setembro de 1830, depois que Hiram Page afirmara que recebia revelaçoes, o Senhor lembrou aos Santos que Joseph ainda era seu profeta e o Único autorizado a receber revelações para a Igreja toda: "Mas eis que em verdade, em verdade eu te digo: Ninguém será designado para receber mandamentos e revelações nesta igreja, a não ser meu servo Joseph Smith JÚnior porque ele as recebe como Moisés" (D&C 28:2).

Passaram-se mais três meses enquanto Joseph traduzia a Bíblia. Sidney Rigdon visitou Joseph e foi chamado pelo Senhor para ajudar Joseph, fazendo o serviço de escrivão. Avisou-se a Sidney qual era o elevado chamado de Joseph, embora fosse um chamado condicional. O Senhor disse: "E dei-lhe [a Joseph] as chaves do ministério das coisas que foram seladas, sim, das que existiram desde a fundação do mundo e das que virão, a partir de agora até a ocasião de minha vinda, se ele permanecer em mim; e, se não, porei outro em seu lugar" (D&C 35:18).

Passaram-se somente mais dois meses quando uma mulher conhecida pelo nome de Hubble chegou ao meio dos Santos dos Últimos Dias, alegando que recebia revelações e leis do Senhor para toda a Igreja e professando ser profetisa. Pode ser que se possa referir-se a tais problemas como as "Encrencas da Hubble!" Devido ao fato de alguns dos Santos terem sido enganados por ela, pensando que isso se tratava de um caso válido, ou seja, que ela representava o Senhorr, o Profeta Joseph Smith resolveu indagar ao Senhor. Ao procurar a orientação do Senhor, recebeu uma revelçaõ que incluía a seguinte declaração divina para os membros da Igreja em que o Senhor disse: "Pois eis que em verdade, em verdade eu vos digo que recebestes um mandamento como lei para a minha igreja [a seção 42 do livro de Doutrina e Convênios], por meio daquele que já designei para receber mandamentos e revelações de minha mão [o Profeta Joseph Smith]. E isto vós sabereis com certeza-que não há qualquer outro debaixo do céu designado para receber mandamentos e revelações para vós, até que ele seja levado, se ele permanecer em mim" (D&C 43:2-3).

Mais uma vez, durante o outono do ano de 1831, o Senhor ainda fez outra declaração de caráter condicional a respeito do cargo profético que o Profeta Joseph então ocupava. Ele disse o seguinte: "E eis que as chaves dos mistérios do reino não serão tiradas de meu servo Joseph Smith JÚnior através dos meios que eu designei, enquanto ele viver, contanto que obedeça ás minhas ordenanças" (D&C 64:5).

Nos dias iníciais da história de sua Igreja, era muito preciso que o Senhor desse com freqüência ênfase ao fato de que Joseph Smith era o Único ser mortal que havia sido autorizado a falar em nome do Senhor e assim receber revelações para a sua Igreja. Mas é de interesse nosso notar que durante um período de vinte e sete meses, ou seja de junho de 1829 a setembro de 1831, podemos averiguar que o Senhor deu advertências a Joseph pelo menos cinco vezes no sentido de informá-lo que o estado de seu chamado dependia dele guardar os mandamentos e obedecer a todas as ordenanças. Não obstante, o próximo registro dos dizeres provindos do Senhor quanto ao chamado de Joseph no seu reino contêm uma declaração muito notável. Na seção 90, que foi dada no dia 8 de março de 1833, o Senhor disse a Joseph: "Em verdade te digo: As chaves deste reino jamais te serão tomadas enquanto estiveres no mundo; tampouco no mundo vindouro" (D&C 90:3).

Depois das muitas ocasiões em que o Senhor havia dado ênfase referente ao estado condicional de Joseph, Ele na Última passagem citada declara que o chamado e papel sagrados de Joseph ora seriam eternos e sem condições. Podemos nos perguntar a nós mesmos o que houve? Por que houve esta mudança? Quando lemos certas passagens da seção 132, nós descobrimos a resposta. O Senhor declarou a Joseph: "Pois eis que sou o Senhor teu Deus e estarei contigo até o fim do mundo e por toda a eternidade; pois em verdade selo sobre ti tua exaltação e preparo-te um trono no reino de meu Pai, com Abraão, teu pai" (D&C 132:49).

Alguns podem querer saber como a declaração do Senhor na seção 132 pode ter algo a ver com a declaração já citada anteriormente da seção 90. A resposta simples é que a seção 132 foi recebida por Joseph Smith no mínimo um ano antes que recebesse a seção 90, talvez já no ano de 1831, embora não fosse escrito oficialmente até meados de 1843. Portanto quando o Senhor firmou a vocação e eleição do Profeta Joseph numa data indeterminada durante o Último trimestre de 1831, tal ato antecipou a revelação dada em 1833 na seção 90 em que o Senhor sem restrições afirmou o chamado profético de Joseph Smith tanto neste mundo como no mundo que vem.

Vamos parar para dar uma breve explicação da expressão "vocação [chamado] e eleição:"

Ser chamado (ou receber a vocação) é ser um membro da Igreja e reino de Deus na Terra; . . . é possuir uma promessa condicional de vida eterna. . . . A vocação em si trata-se de devoção á causa do evangelho; não se reserva unicamente aos apóstolos e profetas nem para os grandes e poderosos de Israel; é para todos os membros do reino que se qualificam. Fazer firme a vocação e eleição consiste em selar sobre si a vida eterna; significa que se recebe uma guarantia incondicional de exaltação no reino mais elevado do mundo celestial; é, para todos os efeitos, o adiantamento do dia do julgamento." [10]

Durante a primeira fase da vida e ministério mortal de Joseph Smith, o Senhor o lembrou repetidas vezes de que precisava guardar os convênios e assim provar-se digno de elevar-se acima de seu estado condicional no reino de Deus. Depois de provar-se, Joseph passou de um estado de ciência de sua aceitção condicional pelo Senhor para um nível em que recebeu o conhecimento seguro de seu estado de aceitação permanente, sim, o selamento sobre si de sua exaltação.

Eu já comentei antes que quando fôssemos examinar as experiências de Joseph Smith com relação a sua aceitação pelo Senhor, iríamos notar que há muitas semelhanças na nossa própria busca da aceitação do Senhor. Deixem-me mencionar algumas delas. Como Joseph, nós também fazemos convênios e promessas que com muita sinceridade procuraremos cumprir, sabendo da promessa de vida eterna que o Senhor proporciona áqueles que são fiéis. Nós também precisamos de advertências para não caírmos nas armadilhas e tentações da mortalidade mas procurarmos com muita diligência evitar qualquer afastamento do plano que o Senhor estabeleceu para a nossa felicidade..

Já observamos que Joseph foi repreendido pelo Senhor quando necessário e que depois de arrepender-se com toda a sinceridade ele foi restaurado a sua relação favorável com a divindade. Nós tampouco faremos tudo que é certo o tempo todo. Mas quando tropeçarmos ou desagradarmos ao Senhor, nós, como ele, poderemos nos arrepender e esforçãr-nos por melhora-nos. Se assim fizermos, poderemos esperar a mesma ajuda carinhosa das alturas. Sabendo que não alcançaremos todos os níveis de perfeição nesta vida, o Presidente Lorenzo Snow nos deu conhecimento e conselhos consoladores: "Se pudéssemos ler um relato detalhado da vida de Abraão, ou a vida de outros grandes e santos homens, acharíamos, sem dúvida, que seus esforços também nem sempre foram coroados com sucesso. Por isso, não devemos desanimar-nos se formos vencidos num momento de fraqueza, pelo contrário, vamos logo arrepender-nos do erro ou pecado praticado por nós e, dentro do possível, consertá-lo e buscar novas forças de Deus para continuar e aperfeiçoar-nos. Não podemos permitir que nos desanimemos ao descobrirmos nossas fraquezas. Dificilmente encontramos um caso em todos os exemplos gloriosos que os profetas, antigos e modernos, nos deixaram em que eles permitiram que o diabo os desanimasse. Mas, por outro lado, os profetas sempre procuravam sobrepujar, conquistar o prêmio e preparar-se para a plenitude da glória celestial." [11]

Ao examinarmos o destino final de Joseph Smith e considerarmos que se fizeram firmes a sua vocação e eleição, muitos vão pensar que não temos condições de seguir o seu exemplo. Mas a diferença principal entre nós e Joseph é que o selamento de sua exaltação se realizaou durante a sua vida mortal. Certamente alguns de nós podemos também receber um selamento igual ao do Profeta ao passo que muitos podem não receber nesta vida. Porém a hora em que se recebe esta bênção, pois para uns é mais cedo para outros mais tarde, não importa muito no plano eterno. Aqueles que recebem a aceitação do Senhor nesta vida e partem daqui tendo permanecido fiéis até o fim no seu relacionamento com o Senhor também serão recipientes do selamento para a vida eterna. Escutem os ensinamentos confirmadores de um apóstolo, o Élder Bruce R. McConkie, proferidos a respeito deste assunto: "Todos os Santos fiéis, todos aqueles que permaneceram fiéis até o fim, saem desta vida com uma garantia absoluta de vida eterna. Não há nenhum equívoco, nenhuma dÚvida nem incerteza em nossa mente. Aqueles que foram verdadeiros e fiéis nesta vida não se afastarão do caminho na vida vindoura. Se cumprirem seus convênios aqui agora e partirem desta vida firmes e leais no testemunho do nosso bem-aventurado Senhor, surgirão com uma herança de vida eterna.

Nós não queremos dizer que aqueles que morrem, mantendo-se na justiça do Senhor, e que são verdadeiros e fiéis nesta vida, precisem ser perfeitos em todas as coisas quando passarem para a próxima esfera de existência. Só há um homem perfeito-o Senhor Jesus cujo Pai é Deus. . . . Mas o que queremos dizer é que quando os santos de Deus traçarem um rumo de retidão, quando adquerirem testemunhos inabaláveis da veracidade e da divindade da obra do Senhor, quando guardarem os mandamentos, quando vencerem o mundo, quando colocarem em primeiro lugar as coisas do reino de Deus, quem fizer tudo isso ao partir desta vida, mesmo que ainda não tenha se tornado perfeito, receberá, não obstante, a vida eterna no reino de nosso Pai e por fim se tornará perfeito como perfeitos são Deus o Pai e seu Filho Jesus Cristo." [12]

Portanto nós realmente podemos seguir o mesmo caminho que seguiu o Profeta Joseph Smith. Já aprendemos que o verdadeiro sucesso na vida terrena consiste em obter a aceitação de Deus, ou seja, sermos aceitos por Ele. Todos aqueles que alcançarem tal estado poderão ter certeza disso pela presença pacífica e consoladora do Espírito Santo. O Senhor disse a Joseph Smith que ele saberia quando estava no lugar onde o Senhor queria que ele estivesse pela "paz e pelo poder do meu Espírito que afluirão a ti" (D&C 111:8).

Nenhum membro desta Igreja iria duvidar do sucesso que o Profeta Joseph Smith atinguiu em sua vida terrestre. E o que foi que ele fêz? Ele achou a aceitação de seu Salvador [13] , embora por um tempo esta aceitção se tratasse de uma aceitação condicional. Ele teve que provar-se como todos nós. Mas ele padeceu e permaneceu fiel e obteve a promessa incondicional do Senhor referente á vida eterna. Por isso não é de se admirar que o próprio Profeta Joseph Smith tenha exclamado a todos nós: "Ó! Eu rogo sinceramente a vós que vades adiante, que vades adiante e façais firme vossa votação [chamado] e eleição." [14]

Ao contemplarmos como nós podemos cumprir a ordem do Profeta, digo simplesmente aos irmãos santos, os meus conservos: "Recebem todos os convênios do sacerdócio que lhes são disponíveis no templo e guardem-nos." Para simplificar ainda mais, digo: "Obedeçam ao convênio batismal e permaneçam fiéis até o fim, a promessa é a da vida eterna" (vide Mosias 18:8-10). A vida eterna, ou a exaltação, é o grau mais elevado de aceitação do Senhor. Ele não proporciona uma dádiva maior que esta (vide D&C 14:7); este dom é conferido a todos aqueles que são aceitos por ele e que continuam a manter este estado de aceitação. Não há sucesso que seja de mais importância. Que todos nós possamos nos esforçar constantemente para atingi-lo é o que desejo e oro.

Notas

[1] Neal A. Maxwell, in Conference Report, October 1976, 14.

[2] Neal A. Maxwell, in Conference Report, October 1976, 14.

[3] "America the Beautiful," Hymns (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter- day Saints, 1985), no. 338.

[4] John A. Widtsoe, The Message of the Doctrine and Covenants (Salt Lake City: Bookcraft, 1969), 38.

[5] Ezra Taft Benson, The Teachings of Ezra Taft Benson (Salt Lake City: Bookcraft, 1988), 70.

[6] Gordon B. Hinckley, Stand a Little Taller (Salt Lake City: Eagle Gate, 2001), 161.

[7] Joseph F. Smith, Gospel Doctrine (Salt Lake City: Deseret Book, 1963), 373.

[8] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed. B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret Book, 1980), 1:243.

[9] Smith, Gospel Doctrine, 132-33.

[10] Bruce R. McConkie, Doctrinal New Testament Commentary (Salt Lake City: Bookcraft, 1973), 3:326, 330-31.

[11] Lorenzo Snow, "Blessings of the Gospel Only Obtained by Compliance to the Law," Ensign, October 1971, 19, 21.

[12] Bruce R. McConkie, in Conference Report, October 1976, 158-59.

[13] Smith, History of the Church, 1:316.

[14] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith, comp. Joseph Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1967), 366.